Assim como o exame do gelo profundo dos polos, a análise geoquímica de estalagmites e estalactites pode dar pistas sobre como era o planeta durante a última era glacial (entre 14 mil e 37 mil anos atrás), e foi esse o estudo realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Vanderbilt.
A paleoclimatologista Jessica Oster desceu às profundezas das cavernas do Lago Shasta, ao norte da Califórnia, para recolher estalagmites. A região é considerada uma importante zona climática de transição entre o noroeste do Pacífico e o sudoeste dos Estados Unidos por apresentar climas diversos entre si e responder de maneira diferente às mudanças que levaram à era glacial.
Milhares de anos para crescer
Estalactites (no teto) e estalagmites (no chão) são formações que resultam da sedimentação e da cristalização de minerais dissolvidos na água, em especial o carbonato de cálcio. Podem levar milhares de anos para crescer: gotas de água provenientes da chuva na superfície atravessam a terra e se infiltram em fraturas no teto das cavernas, levando com elas minerais dissolvidos.
O estudo se concentrou nas estalagmites, que se formam quando a água com o carbonato de cálcio dissolvido pinga das estalactites para o chão (as duas terminarão por se unir, criando uma coluna).
Essas formações guardam registros precisos das mudanças climáticas que podem ser lidos através da medição dos isótopos de urânio e tório presos na estalagmite à medida que ela cresce. É possível, assim, retroceder até 500 mil anos (a datação por radiocarbono dá aos pesquisadores uma visão de, no máximo, 60 mil anos atrás).
Chuvas influenciadas pela Groenlândia
A equipe da paleoclimatologista analisou duas estalagmites, dando especial atenção à quantidade de isótopos estáveis de oxigênio e de carbono. Os resultados encontrados mostraram que a quantidade de chuvas na região variava com as mudanças climáticas conhecidas durante e após a última era glacial, já determinadas por outros registros paleoclimáticos.
Seção de uma estalagmite cortada e polida; as datas em que cada parte se formou podem ser vistas na imagem.Fonte: Vanderbilt University/Jessica Osten
As evidências das grandes e rápidas variações nas chuvas registradas nas estalagmites das cavernas do Lago Shasta mostraram que o clima ao norte da Califórnia é sensível às mudanças que acontecem em outras partes do mundo. Oster descobriu que as chuvas na região aumentavam ou diminuíam em resposta a alterações relativamente pequenas no clima global. Essa revelação veio do cruzamento das informações da análise geoquímica das estalagmites com os registros do núcleo de gelo profundo da Groenlândia.
Clima local, mudanças globais
Segundo a cientista, é plausível supor que se as mudanças climáticas na Groenlândia e no norte da Califórnia estavam relacionadas há 30 mil anos também podem estar agora, com o derretimento acelerado da camada de gelo no extremo do hemisfério norte.
"Essas descobertas nos oferecem pistas sobre o comportamento do sistema climático da região em resposta às mudanças no clima que já podem estar ocorrendo em todo o mundo. O ambiente semiárido ao redor do lago é sensível às mudanças nas chuvas, e o Shasta é o maior reservatório de água do estado. Qualquer mudança tem potencial para impactar os recursos hídricos de todo o estado da Califórnia", disse Osten.
A pesquisa, publicada na revista Quaternary Science Reviews, será unida a outras que, hoje, tentam esclarecer se e como a Terra está entrando em mais uma era glacial, prevista para acontecer a partir de 2030.
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