Uma pesquisa realizada por cientistas norte-americanos indica que uma proteína pouco estudada do fígado pode ser a responsável pelos benefícios de exercícios físicos ao cérebro e auxiliar em seu rejuvenescimento. Resultados obtidos com ratos alimentam a expectativa de criação de terapias para gerar os efeitos neuroprotetores de tais atividades em pessoas incapazes de se exercitarem devido a limitações.
Sabe-se que hábitos do tipo são ferramentas poderosas para auxiliar o cérebro no combate a declínios cognitivos relacionados ao envelhecimento, mostrando-se efetivos nos tratamentos de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e demência. Infelizmente, muitos indivíduos com deficiências diversas não podem se valer dessa vantagem, e a busca por alternativas que possam contemplá-los é um desafio a pesquisadores. O cenário, entretanto, pode mudar.
Novas terapias podem auxiliar aqueles que, por diversos motivos, não podem se exercitar.Fonte: Pixabay
Uma parceria entre o Eli & Edythe Broad Center for Regeneration Medicine e o Stem Cell Research revelou que fígados de roedores produzem uma proteína chamada Gpld1 após se exercitarem, e níveis elevados da macromolécula em questão correspondem a resultados cognitivos aprimorados nos animais. Com essa informação, os responsáveis pela novidade também descobriram que o simples aumento da presença da enzima no organismo deles oferece muitos dos benefícios de práticas de atividades físicas regulares.
Para verificar a correlação possível com seres humanos, foi solicitada a colaboração do UCSF Memory and Aging Center, que atestou que a Gpld1 também é elevada no caso de pessoas idosas ativas. "Se houvesse uma medicação que produzisse os mesmos efeitos no cérebro gerados por exercícios, todo mundo tomaria. Nosso estudo sugere que pelo menos alguns deles podem, um dia, estar disponíveis no formato de comprimidos", afirma Saul Villeda, PhD e professor assistente da UCSF.
Aumento da Gpld1 está associado à manutenção de atividades cognitivas.Fonte: Pixabay
Resultado inesperado
Buscando descobrir quais fatores biológicos no sangue podem estar por trás desses mecanismos, a equipe coletou amostras de ratos com idade avançada que se exercitaram por 7 semanas e as administraram em animais sedentários. Bastaram 4 semanas de tratamento para que fossem verificados aprimoramentos na memória dos exemplares, atingindo pontos semelhantes aos demonstrados pelas cobaias ativas. A partir de exames, detectou-se maior produção de neurônios na região cerebral conhecida como hipocampo, a mesma beneficiada por atividades físicas.
Das 30 possíveis candidatas a ocuparem o posto de análise cuidadosa, 19 proteínas, surpreendentemente, tinham ligação com o fígado. Dessas, 2 se mostraram as mais promissoras, e a Gpld1 foi escolhida pela quantidade escassa de pesquisas relacionadas. Aí, Villeda explica: "Concluímos que, se alguém a tivesse investigado minuciosamente, teria encontrado o efeito".
Saul Villeda, PhD e professor assistente da UCSF envolvido no estudo.Fonte: Reprodução
Com o objetivo de confirmar a hipótese de ela estar realmente ligada aos benefícios de exercícios, os cientistas usaram engenharia genética para superproduzir a enzima nos ratos idosos e mediram seus desempenhos cognitivos em vários testes. Três semanas depois, depararam-se com evolução equivalente a 6 semanas de atividades regulares. "Para ser sincero, não esperava encontrar uma única molécula que pudesse explicar os benefícios do exercício no cérebro. Quando vi esses dados, fiquei chocado".
Está tudo interligado
Experimentos adicionais mostraram que a Gpld1 não passa pela barreira hematoencefálica que protege o cérebro de agentes tóxicos ou infecciosos no sangue e parece atuar na redução de inflamações e coagulações por todo o corpo, condições associadas à demência e ao declínio cognitivo relacionados à idade. Agora, o laboratório pretende entender como ela interage com outros sistemas na esperança de produzir tratamentos que ofereçam as vantagens de exercícios físicos.
"Através da proteína, o fígado responde às atividades e diz para o cérebro antigo ficar jovem. Isso me faz pensar no que mais estamos perdendo na neurociência, ignorando amplamente os efeitos dramáticos que outros órgãos podem ter sobre o cérebro e vice-versa", finaliza Villeda.
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