Um novo planeta do tamanho de Júpiter e orbitando uma estrela distante foi descoberto por pesquisadores e trouxe uma revelação sem precedentes. Batizado de TOI-849b, a característica mais marcante do corpo celeste é que, ao contrário de objetos dessa proporção, ele não é formado principalmente por gases, o que sugere que a ciência desconhece muita coisa sobre a formação e a evolução do Universo.
David Armstrong, autor principal do estudo, afirmou em entrevista ao Space que, com a quantidade de informações inéditas coletadas a cada dia, esse tipo de novidade não deveria ser uma surpresa. Ainda assim, é. "Com sorte, esse novo tipo de formação, visto no TOI-849b, pode nos ajudar a compreender os mecanismos do próprio Sistema Solar".
TOI-849b não tem gases em sua composição, o que sugere que seja um núcleo planetário.Fonte: Reprodução
O planeta foi detectado pelo Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS), da NASA, lançado em 2018 e responsável pela descoberta de pelo menos 50 mundos, além de mais de 2 mil outros candidatos, chamados de objetos de interesse. Utilizando o método de trânsito, o equipamento é capaz de avaliar alterações minúsculas no brilho das estrelas, os mergulhos, que indicam que algo está passando na frente delas.
Com isso, a equipe descobriu que o gigante está realmente próximo de sua estrela, completando uma volta a cada 18 horas. Essa é uma região chamada de Deserto Neptuniano, pois raramente há ocorrência de planetas do tipo por lá.
Planeta leva 18 horas para completar uma volta ao redor de sua estrela.Fonte: Reprodução
Diferente por quê?
É preciso salientar o porquê de esse tipo de objeto causar tanta surpresa. Para começar, enquanto a temperatura da superfície de Júpiter é de, em média, 108 °C negativos, em TOI-849b pode chegar a 1.530 °C. E mais: ele tem duas ou três vezes mais massa que nosso vizinho Netuno, que, por sua vez, é 17 vezes mais pesado que a Terra. "É o planeta mais massivo encontrado até hoje, com densidade semelhante à daqui", explicou Armstrong.
"Esperávamos que algo do tipo acumulasse grandes quantidades de hidrogênio e hélio quando se formou. O fato de não vermos esses gases nos permite saber que se trata de um núcleo planetário exposto. É a primeira vez que descobrimos um núcleo intacto de um gigante gasoso ao redor de uma estrela".
Netuno comparado à Terra — e é um gigante gasoso.Fonte: Reprodução
Para chegarem a essas conclusões, David e sua equipe utilizaram, também, um instrumento chamado High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher (HARPS), instalado no Observatório de La Silla, no Chile. Com ele, é possível rastrear com precisão o movimento das estrelas, revelando o quanto suas órbitas são alteradas pela força gravitacional dos planetas em volta.
Ainda assim, não é clara a maneira como TOI-849b chegou ao que é hoje. O estágio evolucionário atual é considerado bizarro pelos pesquisadores. O planeta pode ter sido realmente um gigante gasoso que perdeu sua atmosfera ao se aproximar de sua anfitriã ou ao colidir com outro corpo celeste. Além disso, pode nunca ter acumulado gás o bastante, uma vez que a radiação solar do ponto em que se encontra não é considerada intensa o suficiente para remover completamente a camada de um gigante como ele.
"É um grande mistério. Nossa pista principal para continuar investigando o fenômeno é justamente o fato de ele estar no Deserto Neptuniano, o que sugere uma história muito rara. Precisamos de mais estudos para termos certeza".
Acha a Terra grande? Compare com Júpiter.Fonte: Reprodução
Quem disse que é preciso ir muito longe para ver coisas estranhas? Em nosso Sistema Solar, temos o asteroide metálico Psyche, que cientistas acreditam ser o núcleo exposto de um planeta do tamanho de Marte. Uma missão marcada para agosto de 2022 vai contar um pouco mais sobre ele, chegando por lá em 2026.
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