Cientistas do mundo todo buscam soluções para conter o aquecimento global, que pode causar diversos colapsos em ecossistemas em poucas décadas. Uma das ações sugeridas diz respeito à injeção de aerossóis refletivos na atmosfera, criando uma espécie de proteção sobre o planeta e resfriando temporariamente as coisas por aqui. Entretanto, pesquisadores alertam que isso pode não ser uma boa ideia, já que outros impactos duradouros seriam testemunhados pela humanidade.
Uma equipe do MIT chegou à conclusão de que a chamada geoengenharia solar causaria alterações profundas nas trilhas de tempestades extratropicais, que se formam o ano todo e se movimentam pelos oceanos e pela terra por meio de correntes de jato. Uma vez que a força dessas tempestades determina tanto a gravidade quanto a potência das correntes oceânicas e de ventos, qualquer mudança pode trazer consequências ao equilíbrio climático da Terra.
Visualização gráfica de trilhas de tempestades.Fonte: NOAA
De acordo com o time, em um cenário ideal, no qual a radiação solar refletida compensaria a quadruplicação da concentração de dióxido de carbono detectada atualmente, modelos indicam que haveria enfraquecimento dessas tempestades em ambos os hemisférios. Com ventos menos potentes, a estabilidade de camadas de gelo estaria em perigo, assim como ocorreria menor disseminação de poluição atmosférica.
Charles Gertler, estudante de pós-graduação no Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias (EAPS) do MIT, alerta que metade da população mundial vive em regiões extratropicais, dominadas por tais eventos climáticos. Ele também afirma: “Refletir a luz solar não é a ferramenta perfeita para balancear o efeito estufa”.
Mais que uma única batalha
Se por um lado a geoengenharia é capaz de frear determinados eventos, como o aquecimento solar, por outro não impactaria em outros, como os induzidos por gases responsáveis pelo efeito estufa, a exemplo da acidificação dos oceanos e redução de chuvas regionais. Além disso, não está descartada a diminuição da diferença de temperatura entre pontos terrestres, resultado de um resfriamento contínuo da linha do Equador e do aquecimento dos polos.
Essas foram conclusões de diversos estudos anteriores à pesquisa do time do MIT, que agora foi além. Para chegar às novas projeções, a equipe aplicou um experimento chamado G1, parte do Projeto de Intercomparação com o Modelo de Engenharia Civil (GeoMIP), voltado à construção de modelos a partir do uso hipotético desses mecanismos inovadores. Em cada cenário, foi considerada a variação diária da pressão do ar (à nível do mar) em vários locais ao longo das trilhas da tempestade.
Como as variações refletem a passagem de tempestades e medem a energia de uma trilha, entendê-las é fundamental para prevenir consequências indesejadas já citadas: maior concentração de poluição atmosférica em determinadas regiões e enfraquecimento dos ciclos hídricos – o que, como aponta Charles Gertler, não é algo bom.
Poluição concentrada, uma das consequências do enfraquecimento de ventos.Fonte: Pixabay
“Nosso trabalho indica que a geoengenharia solar não reverte mudanças climáticas, apenas substitui elementos e se torna origem de outras alterações nunca vistas na História”. Paul O'Gorman, coautor do estudo, finaliza: “Há muitas razões para evitarmos essas medidas. Apoiar a redução da emissão de dióxido de carbono e de outros gases é um caminho mais indicado”.
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