É ponto pacífico na cosmologia que o Universo está em expansão, com as galáxias distribuídas sem uma estrutura cosmológica. Agora, um estudo diz que não apenas estamos nos afastando uns dos outros como também giramos em torno de múltiplo eixos — e esse é um dos inúmeros segredos que as galáxias em espiral têm para nos contar.
Para chegar a essa conclusão, o grupo liderado pelo astrônomo computacional da Universidade Estadual do Kansas, Lior Shamir, analisou mais de 200 mil galáxias para mostrar que o Universo pode ter uma estrutura definida e começou a girar em seus primórdios.
A pesquisa usou imagens de três dos mais modernos telescópios robóticos: Sloan Digital Sky Survey (SDSS), Panoramic Survey Telescope and Rapid Response System (Pan-STARRS) e Hubble. Eles vasculham o céu e classificam automaticamente milhões de galáxias pelo sentido de rotação.
Ponto de vista é tudo
"O padrão geométrico exibido pela distribuição das galáxias espirais é claro, mas só pode ser observado quando se analisa um número muito grande de objetos astronômicos", disse o pesquisador.
A NGC 1032 é uma galáxia em espiral, mas da Terra é vista de perfil.Fonte: ESA/NASA/Hubble
Shamir achou esses padrões em diferentes partes do Universo, separadas pelo espaço e pelo tempo. A direção na qual as galáxias em espiral giram está relacionada com a maneira como elas se espalham. Observá-las não é fácil, porque sua dinâmica depende do observador: quem está na Terra vê uma galáxia espiral girar no sentido horário, enquanto quem está no lado oposto a vê em sentido anti-horário.
Até agora, astrônomos partiram do pressuposto que o universo é isotrópico e não tem estrutura específica. Isso indicaria que o número de galáxias que giram no sentido horário seria aproximadamente igual à quantidade das que se movem no sentido anti-horário.
Muito pouco ao acaso
Os dados coletados pelos telescópios mostram que isso não acontece. A diferença é de apenas 2%, mas, se considerarmos que existem 2 trilhões de galáxias no Universo observável, de acordo com a pesquisa há menos de 4 bilhões de galáxias com essa assimetria graças ao acaso.
As imagens analisadas abarcaram mais de 4 bilhões de anos-luz, e a assimetria nesse intervalo de tempo não é uniforme; ela aumenta quando as galáxias estão mais distantes da Terra, o que mostra que o Universo em seus primórdios seria mais consistente e menos caótico do que atualmente.
As galáxias NGC 5257 e NGC 5258 (em conjunto, conhecidas como Arp 240) giram em sentidos opostos.Fonte: ESA/NASA/Hubble
Além de indicar a assimetria do Cosmos, o estudo indicou que ela apresenta um padrão único de multipolos — um conceito cosmológico já estabelecido na medição do fundo cósmico de micro-ondas (os ecos da formação do Universo).
"Se o universo tem um eixo, ele não é simples, como o de um carrossel, e sim um alinhamento complexo de múltiplos eixos", explicou Shamir.
Sem interferência
Um dos problemas enfrentados na medição dessa radiação de fundo é a chamada contaminação em primeiro plano, como a obstrução da própria Via Láctea. Essa dificuldade não afetou o estudo sobre as galáxias em espiral porque aquilo que interferir na rotação das galáxias que giram em sentido horário em determinado campo necessariamente vai afetar as galáxias que giram em sentido anti-horário.
"Não há contaminação nesses padrões únicos, complexos e consistentes. Temos pesquisas que mostram exatamente os mesmos padrões. Não há erro que possa levar a isso", afirmou Shamir.
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