Em setembro do ano passado, o FAST (acrônimo de Five-hundred-meter Aperture Spherical Telescope, ou Telescópio Esférico de Abertura de 500 Metros) capturou sinais misteriosos vindos do espaço profundo. Agora, ele será usado na busca por inteligência extraterrestre (em inglês, search for extraterrestrial intelligence, ou SETI), conforme artigo publicado no The Astrophysical Journal.
O site Space ouviu astrobiólogos para que avaliassem o papel cada vez maior da China no campo da radioastronomia mundial.
"Qualquer pessoa que espere refazer a 'corrida espacial' dos anos 1960 vai perder seu tempo. Na SETI, a cooperação internacional vence a concorrência", acredita o astrobiólogo Douglas Vakoch.
Avessa ao livre acesso de informações
A dúvida que paira sobre a comunidade científica e leiga é se, por ser a China historicamente avessa ao compartilhamento de informações, o país comunicará ao restante do mundo se encontrar o mais leve indício de vida além da Terra.
"Astrônomos de qualquer país teriam um orgulho especial em serem os primeiros a detectar alienígenas inteligentes, mas aqueles que insistem em fazer isso sem o apoio de colegas de outros países correm o risco de perder a confirmação de sua descoberta", disse Vakoc.
Chamado de Tianyan, o radiotelescópio está no centro do programa astrobiológico chinês.Fonte: Xinhua/Divulgação
Pela superfície do planeta existem grandes radiotelescópios que captam e processam sinais vindos do espaço, todos com sofisticados recursos para detectar transmissões de civilizações avançadas. Além disso, cada astrônomo simplesmente não apaga a luz quando a estrela que está em estudo sai da sua área de alcance.
"Eles entram em contato com colegas que podem começar a observar quando a estrela se eleva em sua localização. Na melhor das hipóteses, os observatórios de todo o mundo estão rastreando os sinais 24 horas por dia, sete dias por semana e, de preferência, em vários locais ao mesmo tempo", disse Vakoc.
Os astrobiólogos Zhi-Song Zhang e Dan Werthimer (segundo e terceiro à esquerda) escreveram o artigo sobre o uso do FAST na busca por ETs.Fonte: Space/Dan Werthimer
SETI colaborativa
Por isso é que, com a China implementando sua Pesquisa Rápida em Radioastronomia Comensal (CRAFTS), serão captados fenômenos tão diferentes como rajadas rápidas de rádio, pulsares e (com sorte) sinais extraterrestres de inteligência. Porém, sem a confirmação de outros centros astronômicos, a informação de nada valerá.
"A menos que você possa observar os mesmos sinais vindos do espaço em dois locais da Terra, é difícil descartá-los como resultado de uma falha técnica ocorrendo em um único local. Se cientistas chineses detectarem um bom sinal candidato a extraterrestre via FAST, eles precisarão esperar até que o mesmo sinal seja captado e confirmado como não natural por outros centros astronômicos, como o Radiotelescópio Parkes, na Austrália, ou o Observatório Green Bank, nos Estados Unidos”, explicou Vakoch.
Para o astrobiólogo Steven Dick, "as consequências de uma descoberta podem ser bastante profundas. Mesmo que um sinal tenha sido detectado nos EUA, é provável que seja ambíguo, e os astrônomos levarão tempo para descobrir se é ou não um sinal extraterrestre real".
O que importa é o primeiro contato
Ele não acredita que exista, hoje, uma corrida por SETI, oficial ou não, entre China e EUA; em caso de recebermos uma mensagem codificada, qualquer disputa pela primazia estará em segundo plano.
"Esse será um empreendimento que envolverá não apenas astrônomos, mas especialistas em comunicação e estudiosos em ciências sociais e humanas. Em um sentido mais amplo, é provável que o contato com vida extraterrestre mude nossas visões de mundo religiosas, filosóficas e científicas de maneiras que ainda não podemos prever", acredita ele.
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