O ano de 1100 foi um ano especialmente terrível para a Inglaterra medieval. Fortes chuvas danificaram as plantações, e a fome tomou conta da população. Não bastasse, em uma noite, a Lua simplesmente desapareceu do céu. O fato ficou narrado por um manuscrito anglo-saxão apócrifo identificado como Crônica de Peterborough.
"Na quinta noite do mês de maio, apareceu a Lua brilhando à noite e, pouco a pouco, sua luz diminuiu", registrou o escriba não identificado. Não aconteceu um eclipse lunar nem havia nuvens na noite — na crônica, relatou-se o brilho das estrelas em um céu limpo.
“Assim que a noite chegou, a visão da Lua foi completamente extinta, nem a luz, nem a esfera, nem nada foram vistos. E assim continuou quase até o dia e depois apareceu brilhando", segundo a crônica medieval.
Em busca da explicação
Para explicar o que poderia ter causado esse fenômeno assustador, uma equipe de cientistas da Universidade deGenebra, na Suíça, examinou anéis de árvores, pesquisou núcleos de gelo e vasculhou arquivos históricos. O resultado da pesquisa foi publicado em um artigo recente no Scientific Reports.
A equipe encontrou um aumento dos aerossóis de sulfato, que compõe a cinza vulcânica em núcleos de gelo da Groenlândia e da Antártica entre os anos de 1108 e 1110, sugerindo que a estratosfera estava polvilhada com fumaça de uma erupção recente.
A equipe também encontrou mais evidências de atividade vulcânica em anéis de árvores que datam do mesmo período. Os anéis revelaram que 1109 foi um ano úmido e frio na Europa Ocidental, uma anomalia climática comparável aos efeitos de várias outras grandes erupções vulcânicas da história, disseram os pesquisadores.
Desaparecimento da Lua
Após analisar esses dados, os pesquisadores concluíram que uma série de erupções vulcânicas na Europa ou na Ásia, entre os anos de 1108 e 1110, podem ter sido responsáveis pelo misterioso desaparecimento da Lua e por um verão devastado pela chuva.
Esses eventos vulcânicos, que foram pouco registrados por historiadores da época, podem ter lançado nuvens imensas de cinzas que viajavam pelo mundo por anos a fio. Os cientistas afirmam que a fumaça vulcânica pode ter sido capaz de apagar a Lua, sem escurecer o brilho das estrelas.
As erupções, escreveram os cientistas, também podem ter perturbado o clima global, causando o frio durante o verão e as chuvas excessivas que provocaram uma crise de alimentos na Europa Ocidental entre 1109 e 1111.
Erupção em vulcão no Japão
(Fonte: Pixabay)Fonte: Pixabay
Uma das erupções que podem ter provocado uma nuvem de fumaça que causou o sumiço da Lua aconteceu no Japão em 1108, disse a equipe de cientistas baseados em um diário escrito por um estadista japonês entre 1062 e 1141.
A erupção do Monte Asama, no centro do Japão, começou no final de agosto de 1108 e durou até outubro daquele ano, registrou o líder japonês. Essa erupção poderia ter contribuído de maneira plausível para poluir o céu com aerossóis suficientes para induzir o eclipse 2 anos depois, afirmam os cientistas.
Outra erupção desconhecida, localizada em algum lugar do Hemisfério Sul e também datando de 1108, provavelmente contribuiu para os sulfatos no núcleo de gelo da Antártica, acrescentaram os pesquisadores.
A pesquisa é um lembrete de que nosso planeta e suas civilizações estão profundamente interconectados. Um desastre natural em um canto do mundo pode atingir comunidades a milhares de quilômetros de distância e até escurecer a Lua em uma noite.
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