Um levantamento apontou que o nosso Sol, ao contrário da grande maioria de estrelas de sua mesma classe, apresenta muito menos variações em sua luminosidade, assim como manchas solares bastante menos ativas – o que consiste em uma excelente notícia para a vida na Terra. Se bem que o mesmo estudo também revelou que o nosso Astro-Rei pode estar passando por um período de tranquilidade e, se ele resolver ficar nervosinho, os habitantes do nosso planeta poderão se ver em sérios apuros.
Calmaria
O Sol consiste em uma anã amarela, ou seja, uma estrela da sequência principal de classe G – que inclui astros com 0,8 a 1,2 massas solares e temperaturas que vão dos 5,3 mil e os 6 mil K na superfície. Além disso, esses corpos estelares produzem energia através da conversão do hidrogênio em hélio por meio da fusão nuclear e, depois de cerca de 10 bilhões de anos, após queimarem todo o combustível em seus núcleos, eles se expandem até se converterem em gigantes vermelhas que, com o tempo, conforme vão perdendo suas camadas mais externas, se transformam em nebulosas e, por fim, quando resta apenas o núcleo, ele esfria e se contrai, dando origem a anãs brancas.
O ciclo de vida de uma estrela como o Sol é mais ou menos esse que descrevemos acima, mas, de acordo com o estudo que mencionamos, a vida propriamente dita desses astros é bem mais agitada do que a que observamos em nosso sistema planetário. No caso do Sol, a intensidade de seu brilho está relacionada com outro ciclo, o solar, cuja duração é de aproximadamente 11 anos e começa com um período de calmaria no qual os campos magnéticos da nossa estrela se encontram alinhados com suas regiões polares.
Ciclo solarFonte: Wikimedia Commons / David Chenette, Joseph B. Gurman e Loren W. Acton
Entretanto, como o equador do Sol gira mais depressa do que seus polos, os campos magnéticos acabam se distorcendo. Isso, por sua vez, provoca um aumento na atividade solar, o surgimento das manchas solares e variações na intensidade de seu brilho – o que ocorre ao longo de 11 anos, até que ocorre uma inversão dos polos, os campos magnéticos voltam a se alinhar e reina a calmaria novamente.
Através do estudo dos núcleos de gelo coletados nas regiões polares da Terra, da análise dos anéis dos troncos de árvores e graças ao exame de rochas e depósitos de sedimentos, por exemplo, hoje sabemos que o ciclo solar se comporta da mesma forma há pelo menos 9 mil anos. O problema é que não temos informações anteriores a isso e, para um astro que soma mais de 4,5 bilhões de anos de existência, 9 mil não são nada – e pode que a nossa estrela tenha atravessado e venha a atravessar períodos de turbulência.
Comparações
Para realizar o levantamento, os cientistas decidiram comparar o comportamento do Sol com o de outras estrelas – e lançaram mão de vários anos de observações do telescópio espacial Kepler para selecionar os sóis mais parecidos com o nosso. Mais especificamente, dos milhões de estrelas estudadas pelo equipamento, os pesquisadores selecionaram as que tinham períodos rotacionais entre 20 e 30 dias, já que o do Sol é de 24 dias e meio, e esse aspecto tem influência direta sobre a atividade dos campos magnéticos das estrelas.
Os cientistas também levaram em consideração características como composição, idade, temperatura, cor e massa e, depois de conferir uma porção de dados com levantamentos realizados pelo satélite espacial Gaia, os astrônomos selecionaram 369 estrelas como a nossa. Então, o próximo passo consistiu em comparar o comportamento do Sol com o desses astros todos e a conclusão foi a de que a nossa estrela é pra lá de pacata.
CalminhoFonte: The Conversation / Reprodução
Segundo o levantamento, o brilho dos demais sóis considerados apresentou cerca de 5 vezes mais variações, indicando um nível de atividade muito mais elevado. Curiosamente, quando comparado com o comportamento de 2,5 mil estrelas cujo índice de rotação é desconhecido, o do Sol parece bem mais normal. Uma explicação para essa esquisitice é a de que a nossa estrela se encontra em transição para um período de menor atividade ou já se encontra mergulhado nele.
O problema é se existem flutuações entre esses períodos e o Sol comece a ficar muito mais ativo – e isso pode ter sérias consequências para os sistemas de radar, comunicações e de fornecimento de energia elétrica, por exemplo. Um agravante é que, se esse for mesmo o caso, não há como prever quando um período de grande atividade solar terá início e tudo o que nos resta é torcer para que a calmaria de agora se estenda por outros muitos milhares de anos.
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