Uma das grandes preocupações relacionadas à pandemia causada pelo novo coronavírus, tão debatida quanto à importância da prevenção, diz respeito aos impactos econômicos decorrentes das medidas de contenção para diminuir as taxas de contaminação — sendo a quarentena e o fechamento temporário de diversas atividades as mais evidentes. Com isso, autoridades debatem constantemente a necessidade de afrouxamento de tais medidas para evitar colapsos, elevação das taxas de desemprego e por aí vai. Entretanto, preservar vidas tem um preço? Segundo estudo, sim. Cerca de 5,2 trilhões de dólares.
Essa é a estimativa de pesquisadores ingleses publicada no Journal of Benefit-Cost Analysis, da Universidade de Cambridge. De acordo com o artigo, os resultados financeiros de fechar o comércio são realmente desastrosos quando comparados a uma situação “normal”, mas isso muda de figura em uma realidade pandêmica. Afinal, o cenário ideal não existe mais, sendo necessário lidar com as consequências da realidade em questão.
Logo, é preciso entender que, neste momento, o cálculo considera quanto custa restringir a circulação e quais seriam os resultados de não aderir à ação, expondo a população à covid-19.
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Qual é o valor da vida?
Precificar a vida é um tanto quanto complicado, porque envolve essencialmente questões morais. Exemplos nas redes sociais não faltam: se, por exemplo, sete mortes decorrentes da doença podem ser consideradas um risco aceitável, quando as fatalidades envolvem membros da sua família, o peso é o mesmo? Esse é um clássico dilema.
Em outro exemplo, mesmo que se diga que o valor da vida humana seja infinito, dificilmente alguém esgotaria os recursos mundiais para salvar uma única pessoa. Ainda assim, é consenso que esse “bem” merece o investimento de cifras altas — e essa estatística faz parte de nosso dia a dia.
Quando você paga as taxas de um veículo, está contribuindo, inclusive, para o ressarcimento monetário em caso de acidentes. O adicional de periculosidade de certas atividades recebido por quem as exerce é também uma precificação sobre os riscos inerentes à profissão. Nessa queda de braço entre geração de recursos e perda de quem os produz, chega-se ao chamado "valor da vida", utilizado por economistas do mundo inteiro para quantificar os custos implícitos da morte e o quanto eles devem ser revertidos aos vivos.
Ainda que variações sejam aplicadas de acordo com cada quadro social, nos Estados Unidos o valor da vida é calculado em cerca de US$ 10 milhões — mesmo número considerado nos estudos da pesquisadora Linda Thunström junto a especialistas para entender os impactos financeiros do distanciamento social.
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E quanto vale preservar a vida?
Considerando que as medidas de distanciamento conseguem preservar cerca de 1,24 milhão de vidas em uma média de 38% de eficácia na ausência de contato, os valores são convertidos em US$ 12,4 trilhões. Se a previsão do grupo financeiro Goldman Sachs for acertada, o PIB dos Estados Unidos, por exemplo, encolherá 6,2% com as medidas, representando perda total de cerca de US$ 13,7 trilhões.
Assim, o cenário do isolamento deve ser comparado ao de não isolamento. Nas estimativas da mesma empresa, manter as atividades normalmente pode retrair a economia do país em números que variam de 1,5% a 8,4%. Os pesquisadores, então, sugeriram 2% de retração. A partir disso, o impacto econômico seria menor, chegando a US$ 6,49 trilhões — menos da metade das perdas com isolamento. Portanto, nesses cenários, o custo do distanciamento social é de US$ 7,21 trilhões.
Exemplificando com valores em trilhões de dólares:
- 13,7 (previsão de perda com isolamento) — 6,49 (previsão de perda sem isolamento) = 7,21 (custo do isolamento).
- 12,4 (valor da vida) — 7,21 (custo do isolamento) = 5,19 (preço das vidas salvas).
Nesses exemplos, a preservação da vida custa, em média, quase US$ 5,2 trilhões. O benefício da vida, portanto tem um preço que pode ser recuperado por 1,2 milhão de pessoas salvas.
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Tudo muda o tempo todo
Claro que tudo isso é apenas uma suposição e que todos os valores apresentados podem ser alterados, tanto o valor da vida aplicado quanto a retração da economia. A taxa de efetividade do distanciamento social aliada ao grau de mortalidade do coronavírus podem trazer cenários completamente diferentes.
Um modelo publicado pelo Imperial College London, por exemplo, indica que o número de mortos nos EUA sem qualquer medida poderia chegar a 2,2 milhões. Os impactos econômicos seriam incalculáveis. Entretanto, no dia 26/04, as fatalidades chegaram a “apenas” 50 mil. Se em agosto não passarem de 60 mil, seriam 2,14 milhões de vidas salvas — quase o dobro do estudo. No pior cenário, com 124 mil mortes, o isolamento social, ainda assim, salvaria 1,24 milhão de pessoas.
Apesar das variáveis, universidades americanas chegaram a um consenso: o reinício da economia deve acontecer apenas com um grande aumento na capacidade de testes e um plano bem-formado para controlar novos surtos. Aí, os sobreviventes podem continuar lutando para retomar a economia o quanto antes.
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