Enquanto o mundo se esconde com medo, nos bastidores a medicina e a matemática tentam ficar à frente do SARS-CoV-2, o vírus que deixa um rastro de 1,98 milhão de infectados e 125 mil mortos em seu avanço pelo planeta. Uma certeza une os dois grupos: faltam dados precisos de quantas pessoas já foram atingidas pela doença.
“Há evidências de que o SARS-CoV-2 se espalha silenciosamente", disse ao site NPR.org a modeladora de doenças infecciosas da Universidade de Georgetown Shweta Bansal.
Um policial detém turistas passeando por Barcelona, Espanha, em 15 de março; o país contava então com 1.809 mortos e quase 25 mil contaminados.Fonte: Getty Images/David Ramos
Segundo ela, os silent spreaders (ou propagadores silenciosos) se dividem entre assintomáticos (pessoas com o vírus ativo, sem manifestar sintomas), pré-sintomático (quem está incubando o vírus e ainda não tem sintomas) e os levemente sintomáticos (quem se sente indisposto e ainda mantém contato com outras pessoas).
Contágio via assintomáticos
Sem ser descoberto, o assintomático age como uma Maria Tifoide – se não estiver em isolamento social, espalhará a doença por onde quer que vá. “Ele não tem febre, problemas gastrointestinais ou respiratórios, tosse, nada ", explica a epidemiologista da Faculdade de Saúde Pública da Kent State University Tara C. Smith.
Não é possível, sem serem testadas, nem mesmo saber que impacto essas pessoas têm na propagação da doença. Na cidade chinesa de Nanjing, um estudo clínico restrito acompanhou 24 indivíduos (idade média de 14 anos) que testaram positivo para a doença; três semanas depois, sete ainda não apresentavam quaisquer sintomas.
A maior preocupação é que essas pessoas interagem com familiares, vizinhos, amigos e mesmo estranhos, transmitindo o vírus sem saber – o mesmo vale para pré-sintomáticos.
Em Bangcog, restaurante marcou as mesas para manter os clientes afastados.Fonte: AFP/Lillian Suwanrumpha
Tempo para infectar bairros inteiros
Uma das características mais perversas do SARS-CoV-2 é seu longo tempo de incubação – de cinco dias até duas semanas, de acordo com o Annals of Internal Medicine. Mesmo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha divulgado que o contágio maior se dá quando os sintomas aparecem, “temos evidências de que pessoas pré-sintomáticas podem transmitir o vírus até três dias antes de apresentarem sinais de infecção”, disse Tara Smith.
Pessoas mantêm distância enquanto esperam na fila para entrar em um supermercado em Barcelona, Espanha.Fonte: Getty Images/David Ramos
Um estudo recente publicado pelo British Medical Journal (BMJ) mostra que 78% das pessoas com covid-19 não apresentam sintomas. O resultado aponta na mesma direção de pesquisas na China e na Itália e dos dados da OMS: 80% dos quadros infecciosos são leves ou assintomáticos; 15% são graves e 5%, críticos.
A pesquisadora e professora de Modelagem Matemática da University College London (UCL) Jasmina Panovska-Griffiths, em artigo para o site The Conversation, acredita que “esses dados são importantes porque esta pandemia é diferente de outras como a da SARS, quando a maioria dos casos era sintomática e rastreável.”
Testagem ampla para determinar imunidade
A ampla testagem para anticorpos de covid-19 tornará mais preciso os modelos matemáticos sobre a disseminação da doença, ao revelar um número total mais realista de infectados. "Hoje só temos incertezas; embora a modelagem tenha um forte poder preditivo, ela é tão boa quanto os dados que usa”, explicou a matemática.
“Se o teste de anticorpos sugerir que grande parte da população já teve covid-19, há uma chance menor de casos assintomáticos e não diagnosticados disseminarem a infecção assim que as restrições forem levantadas. Caso contrário, o fim das medidas de distanciamento social terá que ser adiado até que uma vacina esteja disponível", completa.
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