Existem diversas iniciativas em andamento com o objetivo de enviar humanos a Marte, como você deve saber, e a expectativa é de que as primeiras missões tripuladas comecem a partir com destino ao nosso vizinho entre esta década e a próxima. Inclusive, não faltam planos de um dia estabelecer colônias por lá. Mas o Planeta Vermelho não oferece o que podemos chamar de ambiente hospitaleiro aos terráqueos e, se algum explorador quiser permanecer em solo marciano por períodos mais extensos, será necessário fazer algumas adaptações.
Segundo apontou Erin Carson em um fascinante artigo publicado pelo site C|Net, para se ter ideia, a temperatura média em Marte ronda os – 60 °C e, além de a atmosfera do planeta ser composta principalmente por dióxido de carbono, ela é cerca de 100 vezes menos densa do que a da Terra. Isso significa que a camada atmosférica marciana, ademais de ser super-rarefeita e tóxica para os humanos, não oferecerá muita proteção contra a radiação vinda do espaço.
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Viagem
Para se tornar minimamente “habitável”, Marte teria que passar por um processo chamado terraformação – ou seja, os humanos teriam que alterar o planeta para que ele se torne mais… Terrestre. Isso significaria encontrar formas de aumentar a pressão atmosférica e fazer com que ela fique mais densa e “respirável”. Ademais, seria necessário produzir água, povoar o solo marciano com micróbios (para que fosse possível cultivar alimentos por lá), dar um jeito de aumentar um pouco a temperatura… E como poderíamos fazer isso? Bem, não faltam sugestões – umas mais viajadas e outras mais realistas. Vamos começar citando as mais radicais.
De acordo com Erin, nos anos 90 surgiram propostas como a de construir espelhos gigantes em Marte e colocá-los em órbita ao redor do planeta. Para quê? Para refletir mais luz solar em direção à superfície e, assim, elevar as temperaturas. Outro efeito previsto pelos idealizadores dessa alternativa seria o derretimento da água congelada presente no solo marciano – o que resultaria na liberação de dióxido de carbono na atmosfera.
Também foi sugerido que fossem construídas fábricas no Planeta Vermelho com o objetivo de liberar gases de efeito estufa na atmosfera e a busca por asteroides ricos em amônia – que teriam de ser capturados, rebocados até as imediações de Marte e lançados em rota de colisão contra o planeta com o propósito de introduzir esse composto no ambiente marciano. E, claro, não poderíamos deixar de mencionar a sugestão feita por Elon Musk, um dos caras empenhados em colonizar Marte, que propôs explodir uma porção de bombas nucleares no planeta para derreter toda a água das calotas polares e liberar CO2 em grandes quantidades no “ar”.
A essa altura você já deve ter percebido que essas ideias todas, embora tenham o propósito de tornar Marte mais como o nosso planeta, têm um potencial imenso de dar errado e causar impactos horrendos ao ambiente marciano. Aliás, como se não bastasse prejudicarmos o nosso próprio mundo, podemos dizer que essas medidas acabariam interferindo seriamente em outro que está lá, quietinho e inabitado. Sem falar que sequer desenvolvemos boa parte das tecnologias necessárias para dar andamento à terraformação do Planeta Vermelho nos moldes e escala sugeridos por essas propostas.
Pousando os pés no chão
O fato de existirem propostas radicais como essas acima não significa que a terraformação de Marte seja impossível ou precise ser tão drástica a ponto de alterar tanto seu ambiente. E, se os planos de se enviar missões tripuladas e até de se estabelecer colônias no planeta se concretizarem – e tudo indica que isso ocorrerá mais cedo ou mais tarde –, será necessário tomar medidas para possibilitar a permanência de humanos por lá.
Possibilidades mais realistas, segundo Erin, envolvem empregar aerogéis – um material sólido de densidade extremamente baixa composto por 99% de ar – na construção de estruturas que poderiam ser utilizadas como abrigo pelos humanos e para servirem de estufa para o cultivo de alimentos. A empreitada poderia começar com a criação de apenas unidades básicas, com o número de edificações aumentando de acordo com a necessidade.
Os aerogéis poderiam, inclusive, ser utilizados para contornar a questão do frio congelante de Marte. Afinal, estudos conduzidos com esse material em situações que replicavam as condições de insolação no Planeta Vermelho apontaram que o uso de alguns desses materiais pode proporcionar não só o isolamento térmico, mas também o aumento das temperaturas, abrindo a possibilidade para o desenvolvimento de dispositivos portáteis para o derretimento de gelo para obtenção de água.
Além disso, com os avanços em bioengenharia e nanotecnologia pode ser que, nos próximos anos, sejam desenvolvidas plantas capazes de sobreviver no ambiente marciano e produzir não apenas alimentos, mas também elementos imprescindíveis para a sobrevivência dos futuros colonizadores.
Essas opções, além de serem muito mais simples de idealizar – bem como alternativas bem mais realistas –, provocariam um impacto absurdamente menor do que detonar bombas nucleares, acertar asteroides contra a superfície de Marte e criar todo um setor industrial para lançar gases na atmosfera. Isso sem falar na eliminação do risco de causar danos permanentes e de potencialmente tornar o planeta completamente inabitável de vez. Seja como for, pelo menos no que diz respeito à colonização do Planeta Vermelho, a nossa geração não estará aqui para testemunhar esse feito. Mas não deixa de ser interessante imaginar esse cenário.
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