Segundo indicam observações conduzidas pelo telescópio espacial Gaia, da Agência Espacial Europeia, a distorção presente nas extremidades do disco que compõe a Via Láctea é resultado da colisão com uma galáxia vizinha – encontrão esse que inclusive pode ter ocorrido mais de uma vez ao longo do passado turbulento do nosso endereço no cosmos.
Torção
Já faz tempo que os cientistas sabem que, ao contrário da maioria das galáxias em espiral barradas, a Via Láctea não é plana – nem muito menos uniforme. Também faz algum tempo que circulam teorias de que a razão de o nosso lar galáctico ser meio “tortinho” e contar com anomalias em suas extremidades que variam de direção com o tempo seria o choque com uma galáxia-satélite que se encontra em nossas imediações.
Agora, segundo um estudo apresentado por astrônomos do Instituto Italiano para a Astrofísica de Turin, na Itália, feito com base em observações realizadas pelo Gaia, as evidências apontam que a deformação – que faz com uma das laterais da Via Láctea pareça apontar para cima, enquanto a outra fica orientada para baixo – não só foi causada por uma colisão galáctica, como a trombada ainda está se desenrolando e certamente terminará com a nossa galáxia “engolindo” a vizinha. E que evidências são essas?
Os pesquisadores italianos examinaram dados coletados pelo telescópio espacial – cuja principal missão é a de realizar o mapeamento estelar da Via Láctea – e avaliaram a forma como 12 milhões de estrelas gigantes se movimentam pela galáxia. A partir daí, os astrônomos conseguiram criar modelos e fazer estimativas sobre a velocidade com a qual as extremidades da Via Láctea estão se torcendo, uma vez que a distorção oscila com o tempo, tal como ocorreria com um disco mal colocado em uma vitrola.
Ainda segundo os cálculos dos cientistas, a distorção deve levar entre 600 milhões e 700 milhões de anos para completar uma volta ao redor do centro da galáxia – o que significa que a distorção provocada pela colisão “bamboleia” como se estivesse em câmera super (mega) lenta. Isso porque as estrelas que povoam a Via Láctea levam muito menos tempo para completar uma órbita em torno da galáxia, incluindo o nosso Sol, obviamente, que demora cerca de 230 milhões de anos para percorrer o trajeto.
Com relação à galáxia envolvida na colisão, uma suspeita é a de que se trate de Sagitário – ou “Galáxia Anã Elíptica de Sagitário”, como é conhecida formalmente. Aliás, devido à sua proximidade com a Via Láctea, os astrônomos não descartam a possibilidade de que outros esbarrões e encontrões entre ambas galáxias tenham ocorrido no passado –, mas essas hipóteses ainda precisam ser melhor estudadas e serão necessários muitos estudos, modelos e observações para prová-las.
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