Um estudo realizado por cientistas da Universidade de Utah, nos EUA, revelou que os Neandertais e Denisovanos, além de terem se relacionado com os humanos modernos, foram fruto do envolvimento com de seu ancestral comum com uma espécie desconhecida. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão depois de analisar e comparar o genoma e mutações de diferentes hominídeos e identificar evidências de que a nossa linha evolutiva contou com mais contribuições do que se pensava.
Superarcaicos
Na realidade, o estudo começou como parte de um esforço para, através da análise de padrões genéticos de antigas populações, identificar mutações herdadas de nossos antigos ancestrais e tentar descobrir mais sobre grupos hoje extintos. No entanto, as pesquisas apontaram evidências de que, ademais de os humanos modernos se relacionarem com as espécies das quais já se sabia – mapeamentos genéticos revelaram que de 1,5% a até 6% do DNA das populações não africanas são provenientes dos Neandertais e Denisovanos, por exemplo –, rolaram outras tantas misturas e "troca-trocas" no decorrer de milhares de anos.
Segundo descobriram os cientistas, uma espécie misteriosa de hominídeo que os pesquisadores apelidaram de “superarcaica” se relacionou com um ancestral comum dos Neandertais e Denisovanos há cerca de 700 mil anos na Eurásia – evento que, além de ter implicações genéticas e evolutivas, sugere que linha do tempo das migrações humanas a partir da África precisa passar por uma revisão.
Colcha de retalhos evolutiva
O levantamento genético – no qual os pesquisadores examinaram mutações compartilhadas entre africanos e europeus modernos e Neandertais e Denisovanos – apontou que, há milhares de anos, ocorreram pelo menos 5 episódios de intercruzamento entre espécies. Pois, um desses eventos se deu há 700 mil anos entre o antepassado comum dos Neandertais e Denisovanos (o “Neandenisovano”?) com a tal população superarcaica, uma espécie que se separou das demais populações de ancestrais humanos há cerca de 2 milhões de anos.
Até onde se sabe, essas duas populações humanas – a dos superarcaicos e do ancestral dos Neandertais e Denisovanos – são as mais distantes uma da outra (evolutivamente falando) a se relacionarem, estando separadas por mais de 1 milhão de anos. A título de comparação, os humanos modernos e os Neandertais estavam separados por mais ou menos 750 mil anos quando os encontros aconteceram.
Enfim, com relação às migrações humanas, os pesquisadores encontraram evidências que sugerem que ocorreram pelo menos 3 delas. A 1ª teria se dado há cerca de 2 milhões de anos, quando os hominídeos superarcaicos migraram para a Eurásia e estabeleceram ali uma população relativamente grande, composta por um número estimado entre 20 mil e 50 mil indivíduos.
A 2ª ocorreu com a chegada do grupo composto pelo ancestral comum dos Neandertais e Denisovanos no continente, há mais ou menos 700 mil anos, quando aconteceu a miscigenação entre os descendentes dos superarcaicos e os hominídeos recém-chegados. Isso, por sua vez, acabou dando origem, eventualmente, a uma nova espécie que não só substituiu a superarcaica, como se dividiu em 2 subpopulações – uma ocidental e outra oriental, ou seja, os Neandertais e os Denisovanos.
Por último, foi a vez de os humanos modernos deixarem o continente africano, por volta de 50 mil anos atrás, se instalarem na Eurásia e se misturarem às populações que já habitavam na área, isto é, com os Neandertais e, depois, com os Denisovanos. E quem seriam os hominídeos dessa misteriosa família superarcaica?
Miscigenação
Bem, os cientistas sabem que, há 2 milhões de anos, quando esse grupo se separou da linhagem humana, pelo menos 2 espécies de hominídeos habitavam a Eurásia. Uma era a dos Homo erectus – nossos primeiros ancestrais a caminharem de forma ereta –, e a outra, a dos Homo antecessor, cujos fósseis foram descobertos onde hoje corresponde à Espanha. No entanto, pode que tenham existido outras espécies das quais não se sabe nada ainda.
O que sim está claro é que os nossos antepassados não pareciam se importar tanto assim com a miscigenação nem em se relacionar com o “ligeiramente diferente” – e que a nossa linha evolutiva, bem como o nosso DNA, consiste em uma verdadeira colcha de retalhos criada a partir da contribuição de inúmeras espécies.
Fontes