Em 2016, a estrela Gaia16aye, na constelação de Cisne, a 2,5 mil anos-luz da Terra, aparentemente ressuscitou com um brilho que parecia indicar um supernova – o momento em que uma estrela morre. Porém, com a Gaia foi diferente, já que o brilho incomum durou apenas um dia. No outro, ela já estava escura novamente. Esse comportamento nunca tinha sido visto anteriormente e intrigou os astrônomos.
Nos meses seguintes, o evento incomum foi observado outras vezes – ao menos 5 em um espaço de 500 dias. Os cientistas deduziram que algum objeto nas proximidades da Gaia16aye estaria alterando o espaço-tempo em torno da estrela, ampliando a sua luminosidade de tempos em tempos.
Agora, 4 anos depois, os astrônomos finalmente puderam determinar qual seria o causador da distorção: um sistema binário praticamente invisível, formado por duas estrelas anãs vermelhas que orbitam um mesmo centro gravitacional. Sua luz é tão fraca que não é possível enxergá-las da Terra, mas, mesmo assim, os cientistas conseguiram determinar algumas características como massa, distância e órbita, através do efeito causado em Gaia16aye.
Chamadas de 2MASS19400112 + 3007533, elas orbitam um centro de gravidade mútuo a cada 2,88 anos terrestres e possuem massa equivalente a 57% e 36% ao Sol. Além disso, elas estão distantes entre si aproximadamente o dobro da distância da Terra ao Sol. “Não vemos esse sistema, mas ao analisar seus efeitos fomos capazes de determinar tudo sobre ele”, explica o astrônomo Przemek Mróz, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos.
Curiosamente, esse comportamento bizarro foi previsto por Albert Einstein através da Teoria da Relatividade Geral. Esse efeito é conhecido como microlente gravitacional e ocorre quando um objeto em primeiro plano faz com que o espaço-tempo se dobre e amplie algo que esteja atrás. No caso deste evento específico, o sistema binário cria várias microlentes capazes de distorcer o que esteja passando por trás dele.
Outra notícia boa a partir dessa descoberta é que o cálculo usado para encontrar as estrelas “invisíveis” também poderá ser aplicado para encontrar outros fenômenos raros que possam causar distorção no espaço-tempo, como buracos negros, por exemplo. Como muitos desses buracos são independentes e longe de qualquer estrela, as microlentes gravitacionais podem ajudar a encontrá-los – do contrário, eles só conseguem ser descobertos enquanto estão consumindo outros objetos celestes.
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