Segundo um novo estudo, condições de saúde consideradas não-transmissíveis – isto é, doenças causadas por fatores genéticos, ambientais ou decorrentes do estilo de vida adotado por cada um – poderiam ser passadas de uma pessoa a outra por meio dos microrganismos que compõem o microbioma humano.
A pesquisa foi publicada por uma equipe multidisciplinar do CIFAR – Instituto Canadense de Pesquisas Avançadas – e, basicamente, sugere que problemas de saúde como cânceres, incluindo síndromes respiratórias e males como cardiopatias e até a obesidade poderiam ser transmissíveis entre pessoas, especialmente entre as que convivem na mesma casa ou em grande proximidade, através do intercâmbio dos microrganismos que vivem nos nossos corpos.
Comunidade atuante
Como você deve saber, o nosso corpo é “habitado” por trilhões de microrganismos, como bactérias, fungos e vírus. Esses organismos todos, apesar de sua existência normalmente ser associada a infecções e doenças, formam uma comunidade que, quando se encontra em equilíbrio, exerce papel superimportante para a nossa saúde, uma vez que nos ajuda a digerir alimentos, absorver nutrientes e a fortalecer o sistema imunológico, por exemplo.
A composição do nosso microbioma – ou dessa comunidade que habita em e no nosso corpo – não depende muito da genética, senão que tem mais a ver com o ambiente no qual vivemos, o tipo de alimentos que consumimos e o estilo de vida que seguimos. Pois, segundo indicaram algumas pesquisas realizadas nos últimos anos, as pessoas com que convivemos também influenciam na formação do nosso microbioma, tanto que, em um dos estudos, os cientistas inclusive conseguiram “adivinhar” quem era casado com quem só de examinar a composição de microrganismos de seus corpos!
Enfim, com a expansão do conhecimento sobre o nosso microbioma, vem se tornando cada vez mais evidente que os microrganismos que o compõem têm enorme influência sobre a nossa saúde – e se suspeita de que problemas como a dor crônica, a ansiedade, a depressão e síndromes do espectro autista sejam influenciados e até desencadeadas pela comunidade que habita em nós. Agora, conforme sugerem os cientistas responsáveis pelo último estudo, pode que o impacto do microbioma sobre a nossa saúde seja muito, muito maior.
Câncer e outros males
O estudo foi conduzido por cientistas de diversas áreas – como a genética, a imunologia, a microbiologia, a estatística e a antropologia – e suas conclusões foram baseadas em 3 grupos de evidências reunidas a partir de levantamentos e pesquisas anteriores. O 1º se refere à descoberta de que pessoas diagnosticadas com condições como doenças vasculares, diabetes do tipo 2, obesidade, doença inflamatória intestinal e outros problemas apresentam alterações em seu microbioma.
O 2º grupo diz respeito a experimentos (com animais de laboratório) que demonstraram que amostras de material orgânico de indivíduos com problemas de saúde, quando transplantados, podem desencadear as mesmas doenças em indivíduos saudáveis. Por último, o 3º trata das evidências de que pessoas sem parentesco que vivem sob o mesmo teto – como seria o caso de cônjuges – terem microbiomas mais parecidos do que irmãos (inclusive gêmeos) que vivem separados.
Os pesquisadores explicaram que seria bastante complicado provar a sua hipótese, mas os indícios de que existe conexão entre o microbioma e a incidência de doenças não-transmissíveis são bastante significativos para serem ignorados. Aliás, considerando que 70% das mortes registradas no mundo são resultantes de problemas de saúde tidos tradicionalmente como não-transmissíveis, talvez seja hora de os cientistas começarem a avaliar muitos males que afetam a humanidade sob um novo prisma.
Trata-se de um campo completamente novo esperando para ser explorado, visto que, se a hipótese estiver correta, os pesquisadores terão bastante trabalho pela frente tentando desvendar os mecanismos do nosso microbioma envolvidos no surgimento das mais diversas doenças e como as transmissões realmente se dão. Mas o desenvolvimento dessa área pode abrir um novo leque de opções de tratamento e ajudar aos cientistas a lidar melhor condições de saúde pouco compreendidas.
Fontes