Para descobrir quais são os efeitos da ausência de gravidade nas nossas mentes, a professora do Departamento de Psicologia da Universidade de Londres, Elisa Raffaella Ferrè, está trabalhando em uma pesquisa em "vôo de gravidade zero". O objetivo é poder oferecer uma análise sobre como o nosso cérebro se comporta e reage nas condições extremas do espaço.
Apesar de já se saber que o corpo humano pode sofrer diversos problemas musculares, Ferrè diz ser importante entender como a falta de peso altera a forma como nós interagimos com o ambiente. Para isso, seria necessário estar na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), ou participar dos voos que simular a ausência de gravidade.
“Por que embarcar em tal aventura? Essa é a fronteira final do entendimento de como o cérebro pode se adaptar a novos ambientes e demandas em microgravidade”, afirma Ferrè. Em um nível prático, é necessário entender a resposta do cérebro à ausência de peso para garantir o sucesso e a segurança de futuras missões espaciais tripuladas”.
Os voos acontecem em uma aeronave Airbus A310 especial que alterna entre subidas e descidas em um ângulo de 45º. Cada movimento dura cerca de 20 segundos e nesse período, todos que estão a bordo ficam sujeitos à hipergravidade e microgravidade. Nestas condições, é como se o corpo humano estivesse com o dobro e menos da metade do peso que ele tem na Terra, respectivamente.
Embora seja muito mais prático fazer os experimentos nestas condições do que na ISS, Ferrè afirma que há pouca margem para erros. Como cada descida dura apenas 20 segundos, tudo tem que ser feito de maneira extremamente precisa.
“Você não pode cometer erros, então cada experimento, mesmo cada movimento, precisa ser perfeitamente planejada”, explicou a professora. Esses movimentos também devem estar perfeitamente sincronizados com quedas e subidas do avião. Como uma dança, coreografamos e ensaiamos nos dias anteriores à decolagem”.
Parte da pesquisa consiste em forçar as pessoas a compreenderem o quanto o seu corpo está pesando em ambientes com diferentes forças da gravidade. Os participantes precisam responder, enquanto estão em queda livre, quanto eles acreditam que seus braços ou sua cabeça está pesando. Ferrè explica que isso é fundamental para o sucesso de missões espaciais.
“Embora isso possa parecer óbvio, é importante porque as percepções do peso, forma e posição do corpo são fundamentais para o movimento bem-sucedido e as interações com o ambiente. O fato de estarmos pesquisando coisas tão básicas, mostra o quão pouco sabemos sobre isso. Imagine, por exemplo, que você é um astronauta operando alavancas para controlar um braço espacial robótico. Entender mal o peso do seu próprio braço pode fazer com que você puxe com muita força, balançando o braço na lateral da espaçonave”.
Ferrè diz que o futuro bem-sucedido da exploração espacial irá depender do quanto nós somos capazes de lidar com essas mudanças nas condições ambientais. Para ela, pesquisas assim são apenas o começo de algo que deverá definir o nosso futuro.
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