Em 30 de outubro de 1938, o cineasta Orson Welles aterrorizou os cidadãos norte-americanos com uma adaptação da obra de H.G. Wells, "A Guerra dos Mundos", transmitida pelo rádio. Na ocasião, a população entrou em pânico durante os primeiros 40 minutos do programa, em que uma suposta invasão marciana era apresentada em forma de notícias. A reação do público chegou a ser notícia nas capas dos principais jornais dos EUA e Canadá.
Seres alienígenas sempre fizeram parte do imaginário popular, tendo sido tema de inúmeros filmes e livros de ficção científica. Há também quem diga que os aliens existem de verdade e até vivem entre nós. Muitos alegam terem tido contato com discos voadores e seres de outros planetas.
Verdade ou não, o fato é que a existência de vida em outros planetas é tema frequente para a ciência. Com a descoberta de cada vez mais galáxias e exoplanetas, aumentam exponencialmente as chances de haver vida extraterrestre, seja em forma de microrganismos ou de seres mais avançados do que nós.
O físico teórico Stephen Hawking demonstrou, em 2010, a sua preocupação com as pesquisas científicas em busca de ETs. De acordo com Hawking, não deveríamos buscar seres de outros planetas, pois eles podem ser perigosos para a continuação da vida na Terra. O assunto também é tema de pelo menos um artigo escrito por cientistas da NASA (PDF, em inglês).
Recentemente, as buscas de seres alienígenas mudaram de rumo. Agora, cientistas procuram amostras de vidas aqui mesmo, na Terra, que possam nos dar dicas de como seriam os organismos que vivem em outros mundos.
A verdade está aqui dentro
Vista do Mono, lago com grande concentração de arsênio (Fonte da imagem: Michael Gäbler/Wikipedia)
Apesar de parecer estranho, a ciência leva muito a sério a busca de vida extraterrena. Desde 1966, a NASA possui um programa de astrobiologia cujo orçamento subiu de US$ 10 milhões para US$ 55 milhões. Somente neste ano, cientistas encontraram mais de 1.200 novos planetas fora do nosso sistema solar, sendo que 54 deles aparentam ser propícios a abrigarem vida.
E apesar de já planejarmos missões espaciais não tripuladas em busca de “aliens”, o começo das pesquisas se dá em casa, dentro do “Planeta Água”. Ao estudar organismos que vivem em ambientes extremos, cientistas podem entender onde e como procurar vida em planetas com condições adversas.
Pesquisadores já encontraram micróbios que vivem em caldeiras vulcânicas, fontes hidrotermais e lagos com alta concentração de arsênio. A existência desses organismos, conhecidos como extremófilos, tem redefinido o que sabíamos sobre a vida em nosso planeta.
Do Atacama para Marte
Cristal de sal do Deserto do Atacama, no Chile (Fonte da imagem: Jodfer/TravelPod)
O pesquisador Alfonso Davila fez parte da equipe da NASA que encontrou formas de vida adaptadas a um ambiente muito peculiar: os cristais de sal do Deserto do Atacama, no Chile. Esses microrganismos vivem nos vapores de água atmosféricos e, graças a eles, cientistas acreditam que uma forma de vida similar possa ocupar os depósitos de sal de Marte, já que o planeta possui vapor suficiente para formar geadas.
Outras locais do globo terrestre também servem de base para a procura de outras formas de vida em Marte. A começar pela Ilha de Axel Heiberg, no Oceano Ártico, onde bactérias vivem em águas com temperatura abaixo de zero e ricas em metano. De acordo com a microbiologista Lyle Whyte, em entrevista para a revista Popular Science, microrganismos semelhantes poderiam ser encontrados em nuvens de metano em Marte.
Europa, a lua gelada de Júpiter
Europa, lua de Júpiter cuja superfície está repleta de gelo, também atrai os olhares da comunidade científica. Com isso em mente, em dezembro, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica da Rússia pretendem perfurar uma calota de gelo de 3,2 quilômetros de espessura, localizada na Antártica. O objetivo é alcançar um dos mais de 150 lagos que se escondem embaixo dessas camadas brancas.
A princípio, o lago Vostok é o principal destino dos cientistas. Esse lago subglacial possui cerca de 14 km² e profundidade que varia de 200 a 800 metros. Mas o que chama a atenção é o fato de que suas águas estão isoladas há mais de 20 milhões de anos, sendo um dos últimos lugares da Terra que ainda não foi explorado pelo ser humano.
A perfuração deve durar vários meses. O principal desafio é coletar amostras sem contaminar ou perfurar um ambiente tão protegido, já que isso arruinaria os resultados da pesquisa. Essa é uma pesquisa fundamental para quem planeja explorar, um dia, o solo de Europa. Além de descobrirmos mais dados sobre a vida na Terra, os métodos e dados coletados servirão como experiência para a análise da lua de Júpiter.
O futuro das pesquisas
Com as lições aprendidas na Terra, cientistas planejam aproveitar melhor as missões enviadas para planetas próximos, como Marte. O gigante vermelho possui as melhores condições, até o momento, de apresentar alguma forma de vida. Apesar de não termos a comprovação da existência de rios e mares no planeta, já é conhecida a existência de gelo e água em estado líquido durante o verão marciano.
Em breve, a NASA deve lançar mais uma sonda ao Planeta Vermelho. Desta vez, o destino do veículo é uma cratera que, ao que tudo indica, já abrigou água. O equipamento deverá procurar indícios de gelo subterrâneo e coletar rochas que possam apresentar compostos à base de carbonos, incluindo aminoácidos essenciais para a presença de vida.
Em 2018, a NASA se juntará à Agência Espacial Europeia (ESA) para enviar uma missão mais longa e interessante. Uma sonda será enviada para coletar amostras de rochas e guardá-las em um container selado. Em 2025, outra sonda será enviada, mas desta vez para “receber” a amostra e dispará-la ao espaço. Na terceira etapa da missão, o pacote será interceptado e levado para a Terra.
Possíveis fósseis microbiais coletados nessas missões podem revelar a existência de vida no passado, mas cientistas também acreditam que essas amostras possam nos provar que o Planeta Vermelho possui vida atualmente.
Como podemos ver, a exploração espacial continua cada dia mais interessante. Enquanto isso, nós continuamos na torcida para que, dentro de 15 ou 20 anos, possamos assistir ao anúncio oficial da descoberta de vida alienígena.
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