Você deve estar acompanhando as discussões sobre os cortes no orçamento público – e em como eles afetarão os investimentos em pesquisas e o pagamento de bolsas de estudo. O setor sofrerá uma redução de 90% em 2020, e o montante destinado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) neste ano já está esgotado e, a partir de novembro, não haverá verbas para pagar as 84 mil bolsas que são custeadas pelo órgão. Aliás, para realizar o pagamento de outubro a entidade provavelmente terá que remanejar fundos de outras áreas.
Evidentemente, o CNPq vem tentando negociar a situação com o governo, mas, até que se chegue a uma solução, pode que inúmeras pesquisas – muitas de interesse direto para a população e focadas no desenvolvimento tecnológico do país – acabem “morrendo”. João Paulo Vicente, do UOL / Tilt, conversou com diversos pesquisadores que serão afetados e cujos estudos poderão ser seriamente comprometidos e até encerrados por conta dos cortes, e você pode conferir algumas de suas linhas de pesquisa a seguir:
1 – Tratamento contra o câncer
Uma das pesquisas financiadas pelo CNPq e que sofrerá com a falta de verbas está focada no desenvolvimento de marcadores para a identificação e tratamento de alguns tipos de câncer. O estudo se baseia no uso de nanopartículas contendo um material específico que combate a doença através da emissão de radiação e que emprega a luminescência para sinalizar os tumores e permitir o seu monitoramento.
Atualmente, os testes são realizados em ratinhos de laboratório, mas a expectativa é de que, no futuro, os experimentos deem origem a tratamentos que poderão iniciados antes do que os tradicionais e levem a uma redução nas dosagens de medicamentos que os pacientes devem tomar. Essa pesquisa não recebe verbas apenas do CNPq, mas, considerando que hoje os pesquisadores já não recebem o suficiente para cobrir nem metade de suas despesas, a situação poderá se complicar bastante com os cortes.
2 – Combate ao HIV
Existem incontáveis pesquisas em andamento cujo objetivo é o de encontrar uma forma de prevenir a infecção pelo vírus HIV. Uma delas está baseada na identificação de substâncias produzidas por algas nativas do litoral do nosso país – e uma delas, pertencente ao grupo dos diterpenos polioxigenados, pode ser promissora, uma vez que mostrou potencial inibidor nas etapas iniciais da infecção, antes de o vírus invadir as células.
Uma vantagem identificada no uso dessa substância é que, ao contrário das drogas que fazem parte dos coquetéis usados no tratamento dos infectados pelo HIV, ela não é tóxica e, portanto, não apresenta os mesmos efeitos colaterais. Além disso, os diterpenos polioxigenados também poderiam ser empregados no desenvolvimento de tratamentos para prevenir doenças como o herpes, a zika e a chikungunya.
3 – Proteção aos bichinhos
O fato de que animais sejam usados em experimentos é algo que incomoda bastante e, de alguns anos para cá, muitos grupos se organizaram para combater essa prática. Pois existem pesquisadores trabalhando duro no sentido de encontrar alternativas que dispensem o emprego de bichinhos em estudos científicos.
O CNPq financia algumas dessas iniciativas e, agora que diversos progressos finalmente começaram a ser conquistados, com o corte anunciado pelo governo, os passos tomados no sentido de se substituir animais em experimentos e procedimentos dolorosos podem ter sido em vão.
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