Uma equipe de físicos do BESSY-II, um instituto de pesquisas baseadas no uso da radiação sincrotrônica situado em Berlim, na Alemanha, conseguiu revelar a existência de letras em papiros que, até então, todos acreditavam não conter nada escrito.
Os artefatos foram descobertos no início do século 20, mas a tinta usada pelos escribas para criar os textos se tornou completamente invisível devido à ação da luz ao longo dos séculos – e agora voltou a ficar legível graças ao emprego de uma combinação de tecnologias.
Mensagem invisível
De acordo com Jennifer Ouellette, do site Ars Technica, os papiros fazem parte do acervo do Museu Egípcio de Berlim e foram encontrados na Ilha Elefantina, no Egito, durante escavações realizadas por um arqueólogo chamado Otto Rubensohn. Os artefatos, conforme mencionamos, pareciam estar completamente em branco e, ademais, como se trata de um material extremamente antigo e frágil, é impossível para os pesquisadores sequer tentar abrir os papiros para explorá-los melhor.
Esse material, como você deve saber, é feito a partir dos talos da planta de mesmo nome – papiro ou Cyperus papyrus – que são entrelaçados perpendicularmente à direção da fibra do vegetal e em camadas sobrepostas.
A espessura das folhas prontas pode variar e, com isso, dificultar a identificação do que foi escrito sobre elas. Para piorar, os papiros do Museu de Berlim foram dobrados por quem quer que os tenha usado no Antigo Egito, impedindo que eles pudessem ser mecanicamente abertos.
Papiros revelados
Então, segundo Jennifer, para vasculhar o conteúdo dos artefatos e tentar descobrir se havia algo escrito neles, os cientistas do BESSY II submeteram os papiros à radiação sincrotrônica.
Mais especificamente, a equipe colocou as páginas dobradas em um acelerador de partículas onde foi gerada a radiação – que consiste em um fino, mas extremamente intenso feixe de raios-X – que permitiu que imagens presentes nos papiros pudessem ser vistas novamente.
O que essa técnica permite é que, ao aplicar os raios-X sobre o material, os fótons do feixe de energia excitam os átomos presentes nos artefatos, fazendo com que eles emitam uma espécie de “eco” dos raios-X, brilhando com diferentes intensidades, dependendo dos átomos presentes nos objetos examinados.
No caso dos papiros, os cientistas sabiam que era habitual que os antigos egípcios usassem tinta produzida a partir de ossos ou madeira carbonizada, assim como tintas coloridas feitas à base de mercúrio, ferro, cobre ou chumbo, portanto, a equipe já sabia o que esperar dos exames.
Efetivamente, os pesquisadores encontraram sinais de chumbo nos papiros e, depois de submeter as amostras a exames de espectrografia por infravermelho, chegaram à conclusão de que os textos foram possivelmente redigidos com mínio – um óxido de chumbo – ou com galena. Mas, com o passar dos séculos, a tinta foi se convertendo em um carboxilato de chumbo “invisível”, fazendo com que o papiro parecesse estar em branco.
Os cientistas também submeteram os artefatos outros exames, como a espectroscopia de raios-X e tomografia, para tornar as letras mais nítidos, e a mesma combinação de técnicas poderá ser usada para explorar outros papiros em branco verificar se, na verdade, eles não guardam mensagens invisíveis.
E o que os textos descobertos dizem? Bem, o time encontrou os caracteres e, agora, os egiptólogos terão que traduzi-los. Portanto, o conteúdo foi revelado, mas segue sendo um mistério. Por enquanto!