Pense cá conosco: existem inúmeros registros de erupções vulcânicas violentas que ocorreram ao longo dos milênios e que provocaram quedas nas temperaturas no planeta – como foi o caso do Krakatoa, por exemplo, que explodiu no final do século 19 e lançou uma quantidade de detritos na atmosfera estimada em 45 quilômetros cúbicos que se espalharam por uma imensa área e fizeram com que as temperaturas caíssem em mais de 1 °C em todo o mundo por pelo menos 5 anos. Então, e se replicássemos erupções como essas para combater o aquecimento global?
Camada refletora
O que as erupções colossais fazem é que, ao lançar gigantescas quantidades de material na atmosfera, as partículas acabam formando uma camada que reflete parte da luz solar de volta ao espaço, impedindo que ela chegue à superfície, o que, por sua vez, resulta na redução das temperaturas.
Na verdade, existem inúmeros projetos de geoengenharia que se baseiam no princípio de liberar material particulado na atmosfera para bloquear a passagem dos raios solares. Mas, será que essas iniciativas seriam tão eficazes quanto as erupções vulcânicas na hora de reduzir as temperaturas do planeta e combater as variações climáticas resultantes do aquecimento global? E mais: e se fosse possível “fabricar” um vulcão para que pudéssemos replicar os mesmos efeitos de uma erupção colossal natural quando necessário? Uma equipe formada por cientistas norte-americanos e chineses resolveu testar essas possibilidades.
Editando o clima
É importante destacar que os cientistas por trás da proposta não estão realmente sugerindo a construção de vulcão, muito menos que sejam descobertas formas de provocar erupções violentas quando bem entendermos. O estudo consistiu na criação de modelos para explorar e compreender os efeitos de diferentes abordagens para combater o aquecimento global – para que, assim, possamos contar com mais de uma alternativa caso as coisas se tornem críticas no planeta.
Aliás, os pesquisadores explicaram que esperam que jamais seja preciso usar iniciativas como essas para controlar o clima da Terra, obviamente, mas é preciso estarmos preparados. Assim, os modelos criados pelos cientistas testaram quais seriam os efeitos de se liberar material particulado na atmosfera por um período curto de tempo, como seria o caso de uma erupção vulcânica, e também por intervalos prolongados, como seria a abordagem da geoengenharia.
As duas simulações resultaram em quedas de temperatura no solo, uma vez que os oceanos demoram mais para resfriar. Contudo, no caso das erupções, a diferença entre a temperatura do solo e dos oceanos foi substancialmente maior do que a produzida pelo projeto de geoengenharia. Por outro lado, embora as 2 opções também tenham gerado quedas nas precipitações totais – que é um efeito não desejável –, as erupções causaram maior impacto nos padrões climáticos e redução mais acentuada nas chuvas.
Basicamente, os cientistas concluíram que as erupções vulcânicas seriam como equivalentes imperfeitos dos sistemas de geoengenharia e aconselharam que os projetos sejam tratados com muita cautela – para não se extrapolar os resultados e, em vez de solucionar um problema, criar outros. E os pesquisadores também deixaram bem claro que, para combater o aquecimento global e as mudanças climáticas, antes de interferir com a atmosfera ou tentar construir vulcões, a melhor alternativa ainda é a redução das emissões de gases de efeito estufa.