Como se não faltassem complicações para a realização de viagens até a Lua — que dirá de se estabelecer uma colônia por lá —, o contato com a poeira do satélite não só pode desencadear reações alérgicas como também aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão em humanos.
Rinite lunar
Um sujeito que sentiu os efeitos na própria pele (ou nariz) foi o astronauta Harrison Schmitt, membro da tripulação da missão Apollo 17 que desembarcou em solo lunar em 1972. E a experiência de Schmitt com a poeira lunar não foi acidental: o astronauta foi o único geólogo a caminhar sobre a Lua e, como tal, conduziu experimentos, fez observações e coletou um grande número de amostras de solo e rochas durante as cerca de 20 horas que passou por lá.
Harrison Schmitt. (Fonte: Wikimedia Commons/NASA)
Hoje com 83 anos de idade, Schmitt ainda se recorda da reação alérgica que sofreu depois de voltar à nave e entrar em contato com o material aderido à sua roupa espacial. O que ocorre com a poeira lunar é que as partículas, por conta da estática, ficam "coladas" ao uniforme dos astronautas e acabam sendo transportadas acidentalmente para o interior dos módulos. Além disso, como na Lua não há atmosfera — nem, portanto, vento, chuva e outros eventos meteorológicos —, os grãos de poeira não sofrem desgaste com o tempo, o que faz deles um material extremamente corrosivo.
Para se ter ideia, Schmitt contou que as partículas, que funcionam como poderosas lixas, gastaram três camadas de Kevlar de suas botas. O astronauta explicou que, quando inalou a poeira, sentiu desconforto nas mucosas, o nariz inchar, os olhos lacrimejarem e a garganta arranhar, mais ou menos como se estivesse tendo um violento ataque de rinite. Ademais, membros da NASA que tiveram contato com as roupas dos astronautas e amostras que eles trouxeram da Lua sofreram reações ainda mais fortes.
Harrison Schmitt durante missão na Lua. (Fonte: Wikimedia Commons/NASA/Eugene Cernan)
Em Marte, a questão da poeira pode ser ainda pior, visto que, além de corrosiva como a da Lua, ela pode ser tóxica por conta do alto teor de óxido de ferro no Planeta Vermelho. Dessa forma, de acordo com Schmitt, é de vital importância que os responsáveis pelas futuras missões espaciais desenvolvam maneiras de repelir partículas de pó, lunares ou marcianas, e protejam os humanos de seus efeitos.
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