A divulgação da primeira imagem real de um buraco negro nos confins do Universo marcou a história da ciência ontem (10). Sabemos que a foto foi obtida pelos esforços de uma rede de telescópios espalhados pelo mundo todo, mas não podemos esquecer que por trás de todo esse equipamento tecnológico há pessoas que deram o suor para que isso fosse realizado.
O grande problema para se fotografar um buraco negro, além da distância, é claro, é que ele é tecnicamente invisível
E quem mais vem ganhando fama – de maneira justíssima – é a cientista Katie Bouman, que já está ostentando status de celebridade na internet após a divulgação da foto do buraco negro no centro da galáxia M87. A mulher, formada em Ciências da Computação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), liderou o desenvolvimento do algoritmo que possibilitou a captura da imagem da região que está a nada menos que 500 quinquilhões de quilômetros de distância daqui (sim, isso é um cinco seguido por 20 zeros!). Tudo isso enquanto ainda era uma estudante de graduação.
A mulher que fotografou o invisível
O grande problema para se fotografar um buraco negro, além da distância, é claro, é que ele é tecnicamente invisível. Apesar de ser uma região de gravidade massiva, ele tem uma massa que tende a zero. Assim, o jeito é pegar sua sombra que pode ser visualizada quando há interação com substâncias ao seu redor.
A engenheira posou junto com os discos rígidos que continham as informações que seu algoritmo trabalhou e foi comparada inevitavelmente com Margaret Hamilton em uma icônica foto
O projeto Event Horizon Telescope coletou milhões de gigabytes de dados visuais do buraco negro usando uma técnica chamada interferometria. Porém, diversas lacunas precisavam ser preenchidas com dados adicionais e é aí que entra o algoritmo de Bouman. Para realizar essa tarefa quase impossível, o grupo de mais de 200 cientistas responsáveis pela rede de telescópios usou algoritmos de imagem como o desenvolvido por Bouman para criar três pipelines de código e compor a imagem.
Imagine quantos dispositivos de armazenamento seriam necessários para armazenar todos esses dados obtidos para compor essa foto. Pois foi uma foto de Katie Bouman que chamou atenção das pessoas: a engenheira posou junto com os discos rígidos que continham as informações que seu algoritmo trabalhou e foi comparada inevitavelmente com Margaret Hamilton em uma icônica foto. Hamilton foi diretora da Divisão de Software no Laboratório de Instrumentação também do MIT, que desenvolveu o programa de voo usado no projeto Apollo 11, a primeira missão tripulada à Lua.
Left: MIT computer scientist Katie Bouman w/stacks of hard drives of black hole image data.
— MIT CSAIL (@MIT_CSAIL) 10 de abril de 2019
Right: MIT computer scientist Margaret Hamilton w/the code she wrote that helped put a man on the moon.
(image credit @floragraham)#EHTblackhole #BlackHoleDay #BlackHole pic.twitter.com/Iv5PIc8IYd
Nas fotos, ambas aparecem orgulhosas de seus trabalhos – especialmente por serem feitos de extrema importância e enorme dificuldade de realização em uma área que sempre foi dominada claramente por homens.
A presença das fotos e das histórias de Bouman nas redes sociais está tendo um papel de grande importância em ressaltar a importância e a capacidade das mulheres em áreas chamadas de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). A cientista também postou em seus perfis uma foto que registra sua reação no momento em que viu a foto que seu algoritmo ajudou a compilar. Sua expressão é de tocar o coração de quem ama ciências e se importa com a igualdade das mulheres.
Mesmo com toda a exposição e fama repentina, Bouman mantém os pés no chão e não deixa de lembrar de seus colegas que ajudaram a atingir esse feito histórico: "Nenhum de nós poderia ter feito isso sozinho. Aconteceu por causa de muitas pessoas diferentes de origens variadas”.
Fontes
Categorias