Em 2018, foi lançada a segunda parte da pesquisa sobre os hábitos de crianças e adolescentes que utilizam mídias sociais e os impactos dessas tecnologias na vida de tais jovens. Realizada pela Common Sense Media, a primeira etapa foi divulgada em 2012 e analisou como a expansão de Facebook e outros sites de relacionamentos afetam o convívio, o humor e a saúde mental, tendo em vista as experiências vividas no âmbito digital. Os indivíduos analisados têm entre 13 e 17 anos, todos dos Estados Unidos.
O mundo passou por muitas transformações nestes 6 anos e, ao acessarmos os dados de 2012, temos certeza disso. Na época, apenas 40% dos jovens possuíam seus próprios smartphones; hoje são quase 90%. Esse fato sozinho já mostra a abrangência das mídias sociais; basta possuir um celular em mãos para acessar qualquer rede.
Outra mudança significativa foi na preferência da plataforma. Enquanto Facebook era a principal rede para 68% do público, atualmente apenas 15% apontam a criação de Mark Zuckerberg como primeira escolha. Já o Snapchat conta com 41% e desponta na liderança. Instagram, com 22%, fecha o pódio.
Sempre alerta
Mais acesso, mais redes e por mais tempo. Enquanto apenas 34% dos entrevistados declararam fazer uso das mídias sociais mais de uma vez por dia há 6 anos, atualmente 70% acessam com maior frequência, e 16% indicaram estar constantemente nas plataformas. Como resultado correlacionado, temos uma redução nos números de jovens que preferem interagir pessoalmente: nota-se queda de 49%, em 2012, para 32%, em 2018. Para manter contato com amigos e familiares, mensagens de texto têm a preferência de 35% dos participantes.
Essas mudanças — não só de acesso, mas também de comportamento —, em um curto período, preocupam os envolvidos com educação de jovens. Para Julie Lythcott-Haims, ex-reitora da Universidade de Stanford e atual integrante do conselho da Common Sense, é de responsabilidade dos pais e educadores direcionar os filhos no contato com outras crianças e até mesmo estimular a vivência em sociedade. Julie comenta que, ao interagir pessoalmente, as crianças desenvolvem mais empatia, o que é muito mais proveitoso do que as mensagens de ódio facilmente disseminadas online, por exemplo.
Esse é um ponto crítico também da pesquisa. Cerca de 13% dos jovens em 2018 sofreram algum tipo de bullying cibernético, e 64% deles passam por mensagens homofóbicas, racistas, sexistas ou de ódio religioso enquanto navegam. Outro dado alarmante: 21% praticam essas atividades. Para a escritora Aija Mayrock, autora de "Bullying: Guia de Sobrevivência", o caminho para que haja uma melhor relação das crianças com o mundo passa por uma boa convivência com os pais.
Quando são tratadas de forma autoritária, as crianças acabam se afastando, aprendendo por conta e tendo mais chances de sofrer algum trauma. Ao ter abertura para conversar com os pais, elas podem aprender dentro de casa sobre riscos, impactos e melhores maneiras de ter acesso às mídias.
O lado positivo, para 27% dos entrevistados, é que o acesso às plataformas tem um papel importante no desenvolvimento criativo. Outros pontos de destaque são: organização na atividades extracurriculares, divulgação de notícias e debates políticos. O resultado mais preocupante, segundo os pesquisadores, é quanto ao tempo gasto pelos jovens com as mídias sociais e como isso os afeta diferentes.
Ao mesmo tempo que tais hábitos podem gerar um distanciamento da realidade empática, contribuindo para depressão e baixa autoestima, também aparecem como questões animadoras a possibilidade de expandir o conhecimento, o apoio a causas importantes da sociedade e o contato mesmo que em longas distâncias.
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