Sabemos que o Brasil, especialmente quando comparado aos Estados Unidos e à antiga União Soviética, está anos-luz distante de ter um programa de exploração espacial profícuo. Poucas vezes nosso país se aventurou a desenvolver tecnologia espacial de ponta ou mesmo tentar lançar dispositivos para o espaço, obviamente por falta de interesse e recursos, e não de capacidade humana.
Apesar disso, o Brasil iniciou um programa espacial moderno em 1956, dois anos antes da fundação da NASA, com a criação de uma base de rastreio em Fernando de Noronha que serviria para “vigiar” as transmissões a partir dos foguetes que decolavam da estação no Cabo Canaveral, de onde a grande maioria dos foguetes da agência espacial norte-americana vieram a decolar e ainda o fazem até hoje.
Imagem aérea do Centro de Lançamento de Alcântara
Lançamentos na Linha do Equador
Após quase 30 decolagens feitas da base de lançamento de Alcântara, um terrível acidente com o foguete VLS-1 XV-03 da missão SATEC deixou 21 mortos
O programa espacial brasileiro teve altos (não muito altos) e baixos durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, mas entrou no decênio de 1990 com empolgação: a AEB, Agência Espacial Brasileira, começou a realizar diversas decolagens a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, a 32 quilômetros de São Luís, capital do estado do Maranhão. Sua latitude, por ser próxima à Linha do Equador, diminui o consumo de combustível das naves que partem de lá.
O Centro de Lançamento de Alcântara foi inaugurado em 1º de março de 1983 e serviu como substituto para o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte. Após quase 30 decolagens feitas da base de lançamento de Alcântara, um terrível acidente com o foguete VLS-1 XV-03 da missão SATEC deixou 21 mortos, todos funcionários do Centro Técnico Espacial (CTA) de São José dos Campos, no estado de São Paulo.
A explosão da base de lançamento com o foguete em Alcântara
Fogo e destruição
Um incêndio seguido por uma explosão foi causado pela ignição acidental de um dos quatro motores do foguete brasileiro, conforme relatou o ministro da Defesa na época, José Viegas. O acidente aconteceu três dias antes da data prevista para a decolagem da missão, 22 de agosto de 2003, e pode ser rapidamente visto por quatro câmeras que monitoravam cada um dos andares da base de lançamento.
O fogo se alastrou a partir da base do veículo e em segundos tomou todo o foguete, chegando até sua extremidade superior onde estava o satélite que seria colocado em órbita. Câmeras externas também mostram a tragédia: é possível ver a explosão da base onde o veículo estava armazenado pouco depois das 13h26.
Câmeras de segurança mostram o foguete segundos antes da explosão
O objetivo da missão – também chamada de Operação São Luís – era colocar em órbita circular equatorial os satélites meteorológicos SATEC, do INPE, e o UNOSAT, da Universidade do Norte do Paraná.
O detalhe da câmera 2 mostra o fogo subindo pelos andares da plataforma
Motivos e negligência
Segundo o tenente-brigadeiro Astor Nina de Carvalho, comandante do Centro de Lançamento de Alcântara, a tragédia com o VLS-1 começou com o incêndio causado pela ignição acidental do motor que se alastrou em velocidade impressionante, chegando a temperaturas de 3 mil graus Celsius, que derrubou a torre de lançamento sobre o foguete e causou a explosão. A plataforma onde os 21 técnicos do CTA da Aeronáutica trabalhavam também ruiu, levando todos a óbito imediatamente.
Algumas pessoas mais 'criativas' chegam a cogitar a possibilidade de terrorismo, sabotagem, especialmente por parte dos Estados Unidos
Muitas investigações foram feitas no local do acidente para determinar as causas do incêndio e encontrar culpados pelas mortes. As famílias dos técnicos até hoje lamentam o ocorrido e sentem o esquecimento público do caso e a negligência do governo no que diz respeito ao amparo que deveriam receber após a perda de entes queridos.
Algumas pessoas mais “criativas” chegam a cogitar a possibilidade de terrorismo, sabotagem, especialmente por parte dos Estados Unidos, que teriam propositalmente causado o acidente para evitar que outros países entrassem no ramo da exploração espacial — área que os norte-americanos têm dominado após o fim da União Soviética —, como se a exploração espacial brasileira ameaçasse a hegemonia do Tio Sam.
Destroços da base após o acidente
Futuro à vista
No século XXI, o Centro de Lançamento de Alcântara continuou funcionando, tendo, em 2010, colocado em órbita com sucesso um foguete de médio porte, o VSB-30, que realizou testes em microgravidade e conseguiu retornar a salvo para a Terra. Da mesma base também saiu o primeiro foguete de propulsão líquida do Brasil, em 2014.
Torcemos para que esse acidente, pelo menos, tenha ajudado os responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologia espacial no Brasil a entender melhor o funcionamento de seus dispositivos, para que isso não torne a acontecer e vitimar fatalmente funcionários envolvidos nessas missões.
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