As cerimônias de premiação da Intel ISEF 2018 – a maior feira de ciências do mundo – aconteceram na noite de quinta-feira (17) e na manhã desta sexta-feira (18) em Pittsburgh, nos EUA. A delegação brasileira de estudantes do ensino médio levou seis premiações especiais para casa, além de mais quatro colocações no ranking das categorias avaliadas pelos jurados oficiais.
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Uma jovem, a cearense Myllena Cristyna Braz da Silva, foi premiada duas vezes, com bolsas para cursar o que quiser em duas universidades norte-americanas. Fora Myllena, Isabela dos Reis, Caio de Souza, Gabriel de Morais, Pedro Kopper e Juliana Estradioto também receberam premiações especiais na quinta-feira.
Os prêmios especiais foram concedidos por empresas e organizações governamentais e não governamentais que visitaram a feira antes da abertura ao público. Essas instituições escolheram projetos que se encaixaram em suas missões e seus valores. Na sexta-feira, a própria organização da ISEF premiou os melhores projetos segundo seus critérios de avaliação.
Da esquerda para a direita: Isabela dos Reis, Gabriel Checchinato, Maria Valoto, Laura Brizola e Andrea Auler (dupla), Myllena da Silva, Gabriel de Morais, Pedro Kopper e Juliana Estradioto. Caio de Souza também foi vencedor.
Nessa segunda rodada, a dupla gaúcha Laura Brizola e Andrea Auler ficou com o quarto lugar em microbiologia. Maria Valoto, do Paraná, levou a terceira colocação em ciência médica translacional, e Isabela dos Reis fez uma dobradinha, agora conquistando o terceiro lugar em química. O último vencedor brasileiro foi Gabriel Checchinato, também terceiro lugar, mas em sistemas embutidos.
Isopor e bactéria
O projeto de Myllena da Silva, o qual lhe rendeu duas bolsas de estudos, descreve como a estudante conseguiu encontrar uma forma de reciclar isopor usando uma bactéria no processo de decomposição e, por fim, gerando novamente a matéria-prima para a produção desse mesmo material.
Myllena da Silva contou ao TecMundo que descobriu um dos passos do processamento do isopor por acidente, após causar um pequeno incêndio no laboratório do IFCE
Em outras palavras, ela encontrou vários passos para o processamento desse material – que pode ser um grande poluente para o meio ambiente – que o tornam completamente reutilizável. De quebra, em uma das fases desse processamento, o isopor reciclado pode ser utilizado para impedir vazamento de óleo em navios petroleiros.
Subir ao palco da maior feira de ciências do mundo e ser premiada com duas bolsas de estudo de universidades diferentes é algo inacreditável
“É algo inacreditável. Uma semana atrás, eu estava dizendo que não sabia falar inglês e que eu talvez não conseguisse apresentar meu trabalho nessa língua. Agora subir ao palco da maior feira de ciências do mundo e ser premiada com duas bolsas de estudo de universidades diferentes é algo inacreditável”, disse Myllena enquanto comemorava com os colegas da delegação brasileira em Pittsburgh. Ela diz que o plano atual é melhorar o inglês para começar um curso superior nos EUA.
Roseli Lopes, coordenadora-geral da Febrace – uma das feiras brasileiras que selecionam estudantes para a Intel ISEF –, comemorou o resultado de seus estudantes na cerimônia de prêmios especiais desta quinta-feira. “O nosso resultado foi excelente. Neste ano, foram 80 países aqui, e a cada ano fica mais difícil ganhar qualquer coisa na ISEF […] É possível, a gente consegue fazer projetos de alta qualidade no Brasil, em escolas públicas e privadas, mas o importante é a gente dar mais visibilidade para o trabalho desses estudantes e de seus professores orientadores”, disse Lopes.
Equipe premiada
Fora o trabalho premiado de Myllena, a estudante Isabela dos Reis foi premiada duas vezes por ter criado um dispositivo capaz de identificar quando bebidas alcoólicas foram “batizadas” com drogas, o famoso “Boa Noite Cinderela”. Caio de Souza, por sua vez, criou um dessalinizador que gera água potável para ilhas isoladas ao mesmo tempo que gera energia solar.
Isabela dos Reis mostra protótipo de dispositivo capaz de testar bebidas alcoólicas contra o "Boa Noite Cinderela". Sua cidade no RS já registrou muitos casos de "crimes facilitados por drogas".
Gabriel de Morais pesquisou a substituição de metais pesados por resíduos orgânicos, como a casca de laranja, na produção de remédios e químicos agrícolas. Já Juliana Estradioto desenvolveu a partir da semente de maracujá um composto capaz de neutralizar as propriedades tóxicas dos resíduos líquidos da indústria têxtil, grandes vilões em crimes ambientais que destroem a vida em rios.
Gabriel de Morais e Caio de Souza
Pedro Kopper desenvolveu um projeto de um drone autônomo capaz de mapear ambientes internos com o objetivo de ajudar equipes de bombeiros e outros profissionais em missões de resgate e salvamento. O projeto deve dar origem a um drone que possa navegar e mapear ambientes internos de forma autônoma, sem controle direto humano. Com isso, ele poderia antecipar vários detalhes de uma cena de desastre na qual pessoas teriam que entrar para socorrer vítimas de desabamentos, por exemplo.
Pedro Kopper mostra seu drone. O canudo foi utilizado no processo de estabilização do aparelho.
Outro projeto brasileiro envolvendo autonomia de dispositivos eletrônicos apresentado na ISEF 2018 foi o de Gabriel Checchinato, de Jundiaí (SP). O estudante desenvolveu um mecanismo capaz de identificar com um sensor ultrassônico o nível de água dentro de qualquer recipiente posicionado no bebedouro ou dispenser. Conforme o nível de água vai subindo no recipiente, o retorno do ultrassom identifica quão cheio ele está. O usuário pode inclusive ajustar quanta água quer colocar e programar para que o equipamento corte o fluxo de água no momento certo.
Para determinar o tamanho do recipiente colocado no bebedouro, Gabriel posicionou uma coluna de LEDs infravermelho em uma das laterais do espaço destinado aos copos e jarras pareados com sensores no lado oposto. Conforme a altura do recipiente interrompe a comunicação entre as colunas de LEDs e sensores, o aparelho é capaz de saber seu tamanho. Combinando isso com a altura do nível de água identificada pelo sensor ultrassônico, o aparelho sabe exatamente quando parar de encher o recipiente.
A dupla Laura Brizola e Andrea Auler, por sua vez, fez testes toxicológicos com células in vitro para descobrir como determinados líquidos iônicos poderiam ser utilizados em fármacos como agentes antifúngicos. A ideia é colaborar no desenvolvimento de novas drogas que tenham efeito contra infecções por fungos, consideradas pela dupla um grande problema de saúde global.
Laura e Andrea cultivaram células para a realização de seus testes a fim de minimizar o uso de cobaias no desenvolvimento de fármacos
Você vai conferir mais detalhes sobre os principais trabalhos brasileiros na ISEF 2018 em breve.
O TecMundo viajou a Pittsburgh, EUA, a convite da Intel.
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