Já pensou “cozinhar” sua própria estrutura de genes com acionadores especiais que podem ser montados em casa? Isso já vem acontecendo e causando polêmica entre os governos e a comunidade científica em todo o mundo. Estudantes podem comprar kits pela web e fazer seus próprios experimentos de cerveja bioluminescente na garagem de suas casas, por exemplo. Mas e se pessoas mal-intencionadas usarem essa tecnologia para testes, digamos, pouco éticos? É aí que entra a bronca de muita gente, incluindo das autoridades alemãs, que prometem rigor contra os biohackers.
Quem for pego fazendo testes genéticos fora de laboratórios supervisionados pode pegar três anos de prisão ou pagar multa de cerca de 165 mil reais
A lei que proíbe engenharia genética fora de laboratórios supervisionados e aprovados pelo país já existe há algum tempo e vem sendo divulgada com mais intensidade devido ao crescimento do movimento “Faça Você Mesmo” (ou “Do It Yourself” — DIY) nessa frente: quem for pego manipulando aparelhos relacionados ao DNA fora de um local licenciado terá que bancar uma multa de 50 mil euros (algo em torno dos 165 mil reais, segundo a cotação desta sexta-feira) ou três anos na prisão.
Reação da comunidade
Vale lembrar que os kits com acionadores genéticos vêm sendo distribuídos nos Estados Unidos, onde as leis sobre engenharia genética e modificação de produtos é mais flexível do que na maioria dos países europeus. Os fabricantes desses produtos afirmam que os dispositivos oferecem liberdade para os cientistas realizarem pesquisas individuais independentes e contribuem com descobertas e aprimoramentos.
Biohackers fazem experimentos com DNA na cozinha de casa
Para grande parte dos estudantes e profissionais, a postura alemã ameaça o nascimento de vários projetos que um dia poderiam se tornar importantes, pois é muito difícil obter permissão do governo para fazer experimentos fora de um laboratório. “Acho uma vergonha as pesquisas independentes serem consideradas algo ilegal”, reclama o biohacker alemão Bruno Lederer.
Parte da comunidade reclama das leis, que dificultam as pesquisas independentes, e outra fatia pede uma releitura das regras para chegar a um esclarecimento maior sobre o assunto
“Se você não mora em uma cidade grande, não tem acesso a laboratório de uma comunidade científica ou um ambiente de ensino, o acesso a um espaço de manipulação é difícil”, comenta Orkan Telhan, da Biorealize, uma das empresas desenvolvedoras dos kits caseiros. “Não há dúvida que o setor precisa ser regulado para atenuar as adversidades que devem surgir em breve, mas precisamos de alternativas para interagir com um novo público envolvido na biologia.”
"Forno" acionador genético da companhia Amino Labs
Para muitos, a severidade alemã servirá como um primeiro passo rumo a abertura de uma nova e mais ampla discussão sobre esse tema. “A posição alemã vem como um passo adiante para o esclarecimento. Espero que outros países também venham esclarecer suas próprias regras", opinou Julie Legault, da Amino Labs.
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