Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo.
Em 1999, o programador Thomas Anderson (Keanu Reeves), utilizando o codinome Neo, invade sistemas virtuais e tem sua vida profundamente impactada num ambiente futurista digital e computadorizado. O filme “Matrix” consagrou-se como sucesso mundial de público e de renda por, entre outras coisas, levar para o debate público a discussão sobre hackeamento e segurança cibernética.
Duas décadas depois, o tema invade a TV aberta, chegando toda noite a milhões de brasileiros, por meio de uma telenovela produzida por um dos maiores conglomerados de comunicação do país. Ciente da necessidade de seu papel social, a novela "Travessia" (Globo), traz no eixo central de sua trama os ataques cibernéticos e, desta forma, expõe a necessidade da prevenção e das soluções de cibersegurança. Entre os crimes praticados pelos personagens, o deepfake, brute force attack, sexting e outras ameaças virtuais.
Um insuspeito adolescente mergulha na deepweb e, por irresponsabilidade e divertimento, elege aleatoriamente uma mulher na rede social para inserir seu rosto no corpo de uma sequestradora de crianças. A partir daí, a protagonista é capturada e presa, mas se livra da cadeia após um hacker invadir o sistema judicial e, sem deixar pistas, eliminar o inquérito policial da base de dados.
Infelizmente, na realidade, a jovem que inspirou a trama não teve a mesma sorte e, após ser confundida com uma criminosa, foi espancada até a morte. O fato, na época, ganhou grande notoriedade e repercussão na imprensa nacional e internacional.
Mas a principal mensagem que se quer passar para os telespectadores é a de que hoje em dia, num mundo digital e computadorizado, qualquer cidadão é passível de tornar-se vítima de hackers por meio de ataques cibernéticos. Sim, os ciberataques há muito deixaram de tirar o sono somente das grandes empresas e geram transtornos e prejuízos financeiros às pessoas – que, muito frequentemente, também são utilizadas por hackers como porta de entrada para o ataque em massa nos ambientes corporativos.
Basta um computador ou qualquer outro dispositivo conectado à rede. Para entender o contexto do Brasil hoje, 82% dos trabalhadores remotos têm seis ou mais dispositivos conectados às suas redes domésticas, segundo um estudo da Forrester Consulting encaminhado pela Tenable. E com a expansão de tecnologias com IoT, OT, 5G e a integração de novos objetos do cotidiano à web, a superfície de ataque vem crescendo exponencialmente. Hoje, Some-se a isso os impactos provocados pela pandemia de covid-19, o novo comportamento e dinâmica de trabalho no mundo corporativo, que sofreu mudanças estruturais e exigiu das empresas a capacidade de adaptar-se a um cenário cada vez mais virtualizado e remoto. E sabemos que quanto mais tecnologia é incorporada para o bem, mais brechas abrem-se para o mal.
O Brasil é hoje um dos cinco países que mais sofrem ciberataques no mundo. Por isso é importante que todos tenham consciência de que ataque virtual também é crime. E, como tal, precisa ser denunciado. Além disso, é preciso fomentar a cultura de cibersegurança no País, com efetivas campanhas de orientação e prevenção e investimentos em soluções de segurança digital. Iniciativas como a da telenovela somam-se a isso e são dignas de aplauso.
Arthur Capella é diretor geral da Tenable no Brasil.
Categorias