Em 1899, um cientista italiano, chamado Guglielmo Marconi, realizava a primeira transmissão sem fios do código morse através do Canal da Mancha. Era a invenção da telegrafia sem fios (TSF), que revolucionou a transmissão de conteúdos entre diferentes lugares, acelerando o processo de envio de dados remotos.
Mas foi outro invento, no mesmo ano, que sacudiu a comunidade científica e teve reflexos mais douradores que o telégrafo: o celular. Bem, não era exatamente o celular como o conhecemos hoje, mas sim, o conceito principal que envolve os dispositivos da atualidade.
O responsável pela proeza chamava-se Russo d’Azar, outro cientista italiano, que desenvolveu um sistema de transmissão sem fio para conectar vários navios com o objetivo de reduzir as colisões marítimas. O seu invento foi um sucesso prontamente aceito pelos governantes da Itália, sendo adotado por toda a marinha do país.
O celular vai para a guerra
A primeira guerra mundial foi um ato de barbárie sem tamanho, que matou mais de 19 milhões de pessoas. Porém, o período foi responsável por muitas inovações tecnológicas, científicas e sociais.
Foi nessa época que telefones de campo e comunicações sem fio foram usados de forma regular pela primeira vez para coordenar os movimentos militares. Entretanto, os primeiros aparelhos eram volumosos e consumiam muita energia, e a rede suportava apenas poucas conversas simultâneas.
A fotografia acima foi tirada em 1917, no penúltimo ano da guerra, e mostra soldados alemães em um esconderijo subterrâneo durante o período de combate. Reparem no telefone de campanha usado pelo soldado da esquerda.
Pulamos agora para a época da Segunda Guerra Mundial. Em 1938 eram produzidos os modelos SCR-194 e o 195, os primeiros rádios AM portáteis, pelos laboratórios de engenharia do exército americano, em Fort, New Jersey. Ambos foram considerados os primeiros Walkie Talkies, pesavam cerca de 11 quilos e tinha um alcance de 8 quilômetros. Eles foram amplamente utilizados pelo batalhão de infantaria e intercomunicação durante as batalhas.
Dois anos depois, a Motorola desenvolvia para o Exército Americano o modelo SCR-300 (acima). Era um modelo de rádio FM portátil, pesava cerca de 14 quilos e tinha um alcance de 4,8 km. O modelo substituiu o SCR-194 e 195 e foi usado largamente na Segunda Guerra Mundial pelas Forças Aliadas. Cerca de 50 mil unidades foram produzidas.
Em 1942, a Motorola produziu o primeiro “handie talkie”, chamado de SCR-536. 130 mil unidades foram fabricadas e utilizadas durante a guerra. O modelo usava a frequência AM para operar e pesava apenas 2,27 quilos. Entretanto, seu alcance era muito mais reduzido: apenas 1,6 quilômetros, ou 4,8 km sobre a água.
Modernização do celular
A Bell System lançou o primeiro serviço de telefonia móvel comercial em 1946, chamado de MTS (sistema telefônico móvel, na sigla em inglês). O equipamento original era grande, e pesava 36 quilos, (foto abaixo) com bandas limitadas disponíveis pela AT & T.
Ele não era nada barato: custava 30 dólares por mês (cerca de 330 dólares atuais), com adicional por custo de chamada. Por um preço exorbitante destes, não era qualquer pessoa que poderia se dar ao luxo de ter um. Por isso, seus usuários eram funcionários públicos, operadores de frota de caminhões e repórteres.
Neste mesmo ano, o americano Ralph Hersey inventava um sistema de rádio telefone que não dependia de fios para enviar transmissões. Um ano depois, em 1947, nos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, era desenvolvido um sistema telefônico de alta capacidade, interligado por várias antenas. Cada uma delas era considerada uma célula, e por isso o nome de celular.
Quase 10 anos depois, a empresa sueca Ericsson desenvolvia seu primeiro celular, em 1956, denominado Ericsson MTA (Mobile Telephony A). O modelo (foto abaixo) pesava cerca de 40 quilos e foi desenvolvido para ser instalado em porta-malas de carros.
A telefonia móvel era introduzida no Brasil em 1972, através do sistema Improved Mobile Telephone System (IMTS). Era, na verdade, uma tecnologia anterior à do celular, inicialmente testada em Brasília, permanecendo em funcionamento até 1989. Apesar da longevidade, foi um fracasso do ponto de vista comercial, atendendo apenas 200 pessoas no seu ápice.
O celular torna-se portátil
Foi somente em 1973 que o telefone celular tornou-se portátil, graças a Motorola. A empresa criou neste ano o DynaTAC (foto abaixo) e apresentou-o ao mundo um ano depois, inaugurando a moderna era dos dispositivos portáteis. Mesmo assim, o aparelho mais parecia um tijolo e pesava pouco menos de dois quilos.
Mesmo com o impressionante tamanho do protótipo DynaTAC, a Nokia lançava no mercado em 1982 o modelo Mobira Senador, pesando 10 quilos. Ele foi lançado com o primeiro serviço internacional automático de comunicações móveis (NMT), considerado a primeira geração (1G).
1983 foi o ano em que o Motorola DynaTAC foi colocado a disposição do público, depois de 10 anos de desenvolvimento. Ele pesava menos de 2 quilos e custava cerca de 4 mil dólares (quase 9 mil dólares em valores atuais). Isso tornada o aparelho bastante restrito para a elite mundial. O modelo funcionava com a frequência AMPS, o primeiro serviço analógico dos Estados Unidos (1G).
No mesmo ano, a Ameritech Mobile Communcations apresentava o primeiro serviço de celular rádio-móvel, que também seria conhecido como “telefone do carro”. Um artigo da época também previu que o dispositivo iria “pavimentar o caminho para os telefones portáteis, que vão ser pequenos e leves o suficiente para caber em uma pasta ou no bolso de trás da calça”.
A telefonia celular foi introduzida “de fato” no Brasil apenas em 1984 com o sistema AMPS americano. A primeira cidade a contar com uma rede móvel foi o Rio de Janeiro, em 1990. A Nippon Telegraph and Telephone Company revelou também neste ano que desenvolveu o telefone menor e mais leve do mundo da época, com 9,2 polegadas e 229 gramas. O dispositivo permitia conversas contínuas de até 45 minutos.
A competição da telefonia móvel começou a se acirrar em 1984, com o lançamento do Mobira Talkman (foto acima), que trouxe tempo maior de conversação a um custo mais barato. Enquanto o DynaTAC oferecia apenas 60 minutos de conversação, o modelo oferecia horas de bate-papo.
1989 marcou o lançamento do Motorola MicroTAC, o primeiro projeto de telefone flip do mundo. O hardware conseguiu ser reduzido consideravelmente, o que diminuiu o tamanho do telefone. O modelo é considerado o primeiro telefone de bolso do mundo.
O sistema de telefonia celular brasileiro chegava a Brasília em 1991. Mais tarde, em Campo Grande, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo. Em 1992 a Motorola lançava o Motorola Internacional 3200, o primeiro celular digital que cabia na palma da mão e oferecia internet 2G com tecnologia criptografada (O GSM havia sido lançado em 1991).
No mesmo ano, a Pacific Bell disse que não queria mais oferecer o identificador de chamadas, citando o potencial de lucro e a pouca preocupação dos clientes sobre a privacidade como razões. Se o serviço fosse aprovado, seria necessário desembolsar US$ 6,50 por mês para ver o número de telefone de quem estava ligando em uma tela especial.
Em novembro de 1993, a Telesp Celular lançava o primeiro sistema digital de telefonia celular aqui em nosso país. Três anos depois, a AT &T anunciava a Pocketnet, que permitia aos clientes "conectarem-se à internet por meio de uma rede sem fio".
O primeiro smartphone do mundo talvez tenha sido o IBM Simon, lançado neste mesmo ano. Ele era um celular, pager, máquina de fax e PDA, tudo em um. O aparelho inclui calendário, catálogo de endereços, relógio, calculadora, bloco de notas, email, jogos, tela touchscreen e um teclado QWERTY integrado. Foi vendido originalmente por 899 dólares, o que seria pouco mais de US$ 1.200 nos valores de hoje.
Em 1994 os telefones de carros ainda eram populares, apesar de suas versões de bolso menores. Um dos responsáveis por isso era o Bag Phone, da Motorola, com longa duração de tempo de conversação, grande autonomia de bateria e grande alcance de sinal. Ele era disponibilizado em rede 1G, mas depois chegou a oferecer também 2G.
Pensando à frente
1997 foi o ano em que a Nokia anunciava o projeto “Responder”, que tinha como objetivo “combinar tecnologias de internet, computador e telefone para produzir uma máquina portátil que poderia usar todos eles da mesma forma”. Era o prelúdio do smartphone.
No mesmo ano, foi inaugurada em Brasília a primeira operadora da banda B (concorrentes privadas ao monopólio estatal que existia até então): a Americel. A entrada de operadoras na banda B foi o pontapé inicial na abertura do mercado de telefonia móvel.
Já em 1999, as reclamações sobre a falta de serviço entraram em ascensão, com a grande quantidade de aparelhos e o esgotamento das redes, algo que finalmente chamou a atenção para a importância da infraestrutura.
Neste ano, também era lançado um dos celulares mais populares da história: o Nokia 3210. Ele vendeu mais de 160 milhões de unidades ao redor do mundo. Além disso, foi o primeiro a permitir o envio de mensagens multimídias (MMS), e era destinado aos jovens.
Em 2000, grandes líderes da época começaram a prever o próximo passo na revolução móvel. Eles acreditavam que, no futuro, pagamentos e transações seriam feitas a partir de dispositivos móveis (chutaram certo, hein?).
O Nokia 5510 (acima) era lançado em 2001, com uma grande lista de recursos, incluindo o primeiro teclado QWERTY, um fone de ouvido, mas apenas 64 megabytes de memória. Dois anos depois, muito antes de Instagram, Snapchat e selfies, foram lançados os primeiros telefones com câmera, fazendo com que as pessoas ficassem "paranóicas e desconfortáveis", segundo uma notícia do New York Times.
Em 2004 era lançado o Razr V3 (abaixo), da Motorola, um dos aparelhos mais populares já lançados na história. Sua estrutura fina e a ausência de recursos avançados foi visto como uma evidência de que os recursos de voz seriam usados de forma principal pelos usuários, em vez de mensagens de texto ou serviços de dados.
A revolução dos smartphones
O iPhone chegava em 2007 depois de muita especulação do mercado. A Apple tirou o “Computer” do seu nome para representar melhor o conjunto de produtos que a empresa começaria a produzir. Neste mesmo ano, o mundo comemorava o aniversário de 15 anos da primeira mensagem de texto, um humilde “Feliz Natal” enviado de um computador para um telefone.
Steve Job apresentando o iPhone
Cinco anos depois, o Galaxy S III destronava o iPhone 4S, tornando-se o aparelho mais vendido no mundo. Mas isso durou pouco tempo. O iPhone 5, lançado um ano depois, conseguiu roubar a posição novamente para a Apple.
Em 2014, a Amazon anunciava o Fire Phone, com software de reconhecimento de imagem e exibição de imagens em 3D. No mesmo ano, uma decisão histórica validava a importância dos dados contidos em dispositivos: o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidia que um celular não poderia ser investigado sem um mandado.
O futuro só começou
A história dos smartphones está apenas começando. Além disso, contamos aqui brevemente como esse enredo está se desenvolvendo. Muita coisa ficou de fora, pois apontar todos os acontecimentos tornaria esse texto muito longo.
O que esperar daqui para frente? Telas 4K? Holografia? Assistentes pessoais aperfeiçoadas? Celulares como cartões de crédito? Muitas destas coisas já estão se tornando realidade. E imaginar o que ainda pode vir além disso é uma tarefa difícil. Por isso, gostariamos de saber: o que você espera dos smartphones do futuro?