Em um futuro não muito distante, é possível que os testes feitos por policiais ao abordarem motoristas não se resumam mais ao famoso “teste do bafômetro”. Se depender do governo de Nova York, os oficiais do estado também terão à mão um aparelho capaz de checar se as pessoas (principalmente aquelas envolvidas em acidentes) estavam usando seu smartphone para trocar mensagens enquanto dirigiam.
A decisão é resultado, obviamente, do crescente número de acidentes causados por pessoas que tentam ser multitarefa enquanto dirigem – seja trocando mensagens no Facebook e no Snapchat ou tirando selfies. Exemplos de casos como esses não faltam: já em 2013, estudos indicavam que 25% dos incidentes envolvendo carros eram causados pelo uso de celulares.
Parece uma decisão ainda assim radical demais para esse tipo de problema? Infelizmente, isso não é sem motivo. Embora venham tentando lidar com a questão através de várias campanhas de conscientização, o número de fatalidades ocorridas nas estradas aumentou em 8% no ano de 2015, segundo o jornal The New York Times. É um número preocupante, visto que a quantidade de acidentes vinha caindo bastante nos anos anteriores.
O novo “teste do bafômetro”
Com isso, a solução encontrada por eles está em um dispositivo chamado Textalyzer. A ideia por trás dele é simples: bastaria aos policiais pedirem os smartphones dos envolvidos e, com eles em mãos, conectá-lo ao Textalyzer, que checa as atividades recentes do smartphone.
Se notar que o aparelho estava em uso durante o momento do acidente – digamos, por exemplo, com trocas de mensagens, checando emails ou mesmo fazendo algo que é contra as leis de direção nos EUA – o contraventor é devidamente punido. Caso se recuse a fazer o teste, o motorista, assim como em um teste do bafômetro, poderia ter a carteira suspensa.
Acima, um protótipo do Textalyzer em testes
Um método como esses, por mais eficiente que possa ser, gerou um enorme número de questões sobre a legalidade do sistema. “Isso realmente convida a polícia a tomar os celulares sem justificativa ou um mandado”, criticou Donna Lieberman, diretora executiva da divisão nova-iorquina da União Americana de Liberdades Civis.
Em defesa, o governo nova-iorquino afirma que, embora seja possível conseguir mandados para analisar esses dados, o processo como um todo é extremamente demorado. Da mesma forma, o método usado seguiria o mesmo conceito de “consentimento implícito” do bafômetro.
Isso realmente convida a polícia a tomar os celulares sem justificativa ou um mandado
Quanto às questões de um possível acesso indevido aos seus dados, Félix W. Ortiz, o patrocinador dessa lei, garante que esse não será o caso. Tudo o que o Textalyzer faria é descobrir se o celular estava em uso quando não devia.
Tudo por menos acidentes
A criação do Textalyzer, vale notar, é apenas uma das iniciativas que o governo de Nova York quer trazer para evitar mais acidentes causados por smartphones. Atualmente, uma campanha ainda maior para conscientizar o público dos problemas das distrações enquanto se dirige está sendo desenvolvida pelo governo e deve receber apoio de diversas redes de TV, presidentes de vários países, ligas esportivas e empresas.
Embora ainda em seus primeiros passos, o projeto já ganhou o apoio até mesmo do YouTube, que vai recrutar celebridades do serviço para criar conteúdos originais focados nesse tema. Até mesmo outras companhias, como a AT&T, Nascar, fabricantes de carros e alguns gigantes de Hollywood, estão atualmente negociando uma possível parceria.
Por que nós estamos fazendo uma distinção entre uma substância que você consome e uma que consome você?
Todas essas ações, por sua vez, vêm para fazer com que os celulares sejam tratados de maneira tão severa na direção quanto dirigir embriagado – algo que, considerando os números, não está tão longe de se tornar verdade.
Um longo caminho pela frente
Mesmo com suporte de tantas informações preocupantes, os patrocinadores dessa nova lei acreditam que ainda devem ser necessárias várias tentativas (bem como o apoio do público) para que essa proposta seja aprovada.
Nós estamos enfrentando os mesmos obstáculos que enfrentamos com a direção embriagada. Estamos tentando nos certificar de que a segurança e as liberdades civis estão igualmente protegidas.
Apesar de tudo, mesmo que a operação entre em funcionamento, ela vai valer apenas no estado de Nova York. Caso a proposta dê certo por lá, contudo, não se surpreenda se ela acabar se espalhando pelo resto do país – ou até para fora dele, se os resultados se mostrarem especialmente otimistas.
Você acha que são necessárias leis mais severas para quem usa o celular na direção? Comente no Fórum do TecMundo