Jean-Pierre Jabouille, na ponta, prestes a vencer a primeira corrida com um motor turbo, em 1979. (Fonte da imagem: Total Race)
O final da década de 1970 marcou o início da era dos motores turbo na Fórmula 1 — mais precisamente o ano de 1977. A Renault levou a novidade para as pistas e foi com um motor da montadora francesa que o também francês Jean-Pierre Jabouille venceu o Grande Prêmio de Dijon, na França, em 1979.
Mas a vida dos motores turbinados na Fórmula 1 foi relativamente curta, e apenas 12 anos depois, em 1989, o novo regulamento da categoria proibia o uso desse tipo de reforço para os carros — o motivo alegado foi o alto risco para os pilotos e também os altos custos de manutenção deste tipo de máquina. Ano que vem, 25 anos depois do banimento, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) confirmou o retorno dos motores turbo na F1.
Quem acompanhava Fórmula 1 nos anos 1980 deve se lembrar do quão insanas as corridas chegavam a ser, com dezenas de ultrapassagens e carros voando baixo até mais do que acontece atualmente. Será que 2014 vai trazer isso tudo de volta?
Saiba um pouco mais sobre como a novidade deve afetar a F1 a partir do próximo dia 16 de março, em Melbourne, na Austrália, data marcada para início da nova temporada da categoria mais famosa do automobilismo mundial.
Eficiência e potência aprimoradas
Em 2013, os carros de Fórmula 1 utilizaram motores V8 de 2,4 litros sem turbo. Enquanto os motores atuais da F1 eram capazes de produzir mais de 750 cavalos-vapor de potência (cv), os que serão utilizados em 2014 alcançam em torno de 600 cv — mas ganham o reforço de um novo método de recuperação de energia. Para o próximo ano, os equipamentos ficarão a cargo de apenas três fabricantes: Ferrari, Renault e Mercedes.
Eles serão V6 turbo de 1,6 litros e usarão o Sistema de Recuperação de Energia (ERS na sigla em inglês) em substituição ao atual Sistema Cinético de Recuperação de Energia (KERS, também na sigla em inglês). Esta é a alteração mais radical e que tem implicações diretas no desempenho do carro.
Motor Engine F-1, o primeiro V6 turbo da Renault. (Fonte da imagem: Divulgação/Renault)
“O sistema novo vai recuperar a energia de duas fontes – a energia cinética do carro em freadas (como hoje) e a energia térmica deixada no fluxo de escapamento através de uma turbina em um motor elétrico”, afirma o chefe de motores da Mercedes, Andy Cowell.
O ERS terá um papel fundamental no desempenho do motor, pois ele armazena a energia recuperada em baterias até 10 vezes mais potentes do que as utilizadas atualmente com o KERS. Isso significa que o carro pode ganhar um incremento de potência durante 33 segundos por volta ao utilizar o ERS.
“Esse é um percentual significativo de tempo para quando os pilotos quiserem usar força total, e vai contribuir com mais de dois segundos no tempo de volta”, garante Cowell. Em resumo, o que devemos ver nas pistas em 2014 é um verdadeiro festival de ultrapassagens.
Novas possibilidades e novos desafios
Se as novidades abrem as portas para novas possibilidades na concepção e na pilotagem de um carro de F1, elas também criam novos desafios para quem pensa os veículos. Em entrevista ao site oficial da F1, o diretor-técnico da equipe Caterham, Mark Smith, acredita que a filosofia dos carros de 2014 será radicalmente diferente daquela dos veículos utilizados em 2013.
“Fundamentalmente, a unidade de energia é significativamente diferente; não é como se nós fôssemos de um V8 de 3,0 litros para um V8 de 3,2 litros”, afirma o engenheiro ao se referir ao aumento de tamanho dos motores para o próximo ano. Isso acontece por causa do turbo que será acoplado ao motor. Além disso, o motor turbo impacta também na transmissão, no sistema de escape e até mesmo no design dos veículos.
Mercedes-Benz V6, motor turbo da Mercedes para 2014. (Fonte da imagem: Divulgação/Mercedes)
Porém, o grande desafio para Smith é encontrar uma solução eficiente, tanto do ponto de vista de temperatura quanto de aerodinâmica, para o resfriamento dos motores. “É relativamente fácil aparecer com uma solução que vai resfriar [o motor], mas aparecer com uma solução que vai resfriar e dar o desempenho aerodinâmico perfeito é o desafio”, aposta o engenheiro.
Também entrevistado pelo site oficial da F1, James Key, diretor-técnico da Toro Rosso, concorda com o colega. “Os requisitos de resfriamento são completamente diferentes”, garante o engenheiro, pois “você tem o turbocharger com um refrigerador sobre ele, um sistema de recuperação de energia muito maior que naturalmente bombeia mais calor e tem ainda a caixa de câmbio e as partes hidráulica, de óleo e de água para resfriar”.
Motor: novamente o protagonista
Ao que tudo indica, as novas mudanças devolverão o protagonismo da Fórmula 1 ao motor. Na apresentação do Energy F-1, motor da Renault para 2014, o tetracampeão mundial de F1 Alain Prost, ex-companheiro e desafeto nas pistas de Ayrton Senna, celebrou o retorno do turbo.
“A partir de 2014, traremos à tona motores que restabelecerão o equilíbrio na Fórmula 1. O motor é o coração do carro. A partir do ano que vem, ele retorna ao coração de nosso esporte”, afirmou o ex-piloto francês.
Engine F-1, da Renault, parte a parte. (Fonte da imagem: Divulgação/Renault)
As novas regras aumentam o desafio ao limitarem ainda mais a quantidade de motores que cada piloto pode usar ao longo de toda a temporada: de 8, este número cai para 5. O peso máximo deste conjunto de peças (motor mais ERS) foi aumentado de 95 kg para 145 kg.
Cowell, o chefe de motores da Mercedes, acredita que, apesar das novidades relacionadas aos motores, eles sozinhos não serão determinantes no sucesso de uma equipe, como aconteceu durante a década de 1980.
“Eu acho que nós veremos mais diferença entre os motores no próximo ano”, afirmou Cowell. “No entanto, também haverá espaço para uma grande expansão em termos de aerodinâmica, além dos pneus, portanto tudo isso junto vai fazer a diferença”, finalizou o engenheiro da Mercedes, apostando em um conjunto de fatores como diferencial das equipes que disputarão a ponta da tabela no próximo ano.
E aí, fã de Fórmula 1, o que esperar da categoria para os próximos anos a partir dessas mudanças? Será que a hegemonia de Sebastian Vettel permanece ou estamos prestes a ver uma F1 mais equilibrada?