Se você é fã de ficção científica, já deve ter visto filmes ou lido livros com personagens que são um pouco mais do que humanos. São os ciborgues, organismos cibernéticos, pessoas que possuem algum tipo de implante ou prótese feitos especialmente para melhorar suas vidas, seja por algum tipo de deficiência física, como uma intervenção artística ou simplesmente para facilitar tarefas diárias.
Selecionamos uma lista com alguns exemplos memoráveis de ciborgues de destaque que utilizam algum tipo de aprimoramento em seus corpos. São pessoas comuns com próteses especiais que os ajudam a praticar sua arte – um deles, inclusive, inspirado no game Metal Gear Solid –, chips implantados que fornecem dados extrassensoriais e até dispositivos que permitem a um daltônico “ver” cores através do som. Confira a seguir:
O homem que escuta as cores
Neil Harbisson é um inglês criado na Catalunha que nasceu com um problema genético em sua visão, a acromatopsia. Isso significa que ele não é capaz de enxergar nenhum tipo de coloração e tudo que vê é em escalas de cinza, assim como nas antigas TVs em preto e branco. Para contornar esse problema, Harbisson desenvolveu juntamente com o expert em cibernética Adam Montandon o “eyeborg”, um dispositivo capaz de captar cores e traduzi-las em toques sonoros, sendo que cada nota musical representa uma coloração diferente.
Ele é capaz de captar cores além do espectro visível pelas pessoas, como ultravioletas e infravermelhos. Isso faz com que ele possa “ver”, por exemplo, quando um controle remoto é utilizado
Com o tempo, Neil Harbisson decorou todas as notas e as respectivas cores que elas representam, chegando ao ponto de o processo ser natural, como se fosse um novo sentido de seu corpo. O ciborgue inglês inclusive conseguiu ter seu dispositivo incluído em sua foto de passaporte, onde geralmente é proibido aparecer utilizando aparelhos eletrônicos, alegando que o sensor é parte inseparável de seu corpo. Isso fez dele o primeiro ciborgue do mundo reconhecido oficialmente por uma instituição governamental.
O “eyeborg” que utiliza é conectado diretamente ao osso da base do crânio de Harbisson, fazendo com que ele não apenas ouça, mas “sinta” os sons emitidos quando cores diferentes são captadas. E o que o torna mais do que um humano? Ele é capaz de captar cores além do espectro visível pelas pessoas, como ultravioletas e infravermelhos. Isso faz com que ele possa “ver”, por exemplo, quando um controle remoto é utilizado ou quando os raios solares podem ser mais danosos para nossa pele.
Confira o vídeo do TED com Neil Harbisson onde ele mostra como compreende o mundo ao nosso redor de uma maneira bastante peculiar:
O braço biônico de Metal Gear Solid
James Young é um inglês de 25 anos que perdeu um braço e parte de uma perna em um acidente de trem em 2012. Fanático por games, o jovem foi capaz de aprender a jogar utilizando apenas um braço e os dentes. Tudo mudou quando ele viu um anúncio bastante específico no qual ele se encaixava perfeitamente: pessoas apaixonadas por computadores e jogos eletrônicos e que tivessem algum membro amputado.
Essa prótese é capaz de se mover detectando as pequenas alterações nos músculos das costas de Young através de sensores supersensíveis
Mais de 60 pessoas concorreram com Young para se tornarem os receptores de uma prótese de alta tecnologia inspirada por nada menos que o game Metal Gear Solid, sucesso dos consoles lançado em 1998. O dispositivo foi criado por uma equipe de 10 especialistas liderada pela escultora de próteses Sophie de Oliveira Barata sob a bandeira da empresa Open Bionics. Parte projeto de arte, parte maravilha tecnológica, o membro feito de fibra de carbono custou £ 60 mil para ser feito, em torno de R$ 245 mil.
Essa prótese é capaz de se mover detectando as pequenas alterações nos músculos das costas de Young através de sensores supersensíveis. Com isso, ele é capaz de demonstrar uma destreza acima do comum entre usuários de membros falsos, podendo pegar objetos e apertar a mão de outras pessoas. Veja a galeria a seguir com imagens do braço biônico de Young:
E para fazer jus de fato à inspiração do mundo dos games, seu braço biônico também possui uma lanterna, um laser, luzes de LED que acompanham os batimentos de Young, uma porta USB para carregar o celular e um suporte para um quadricóptero que pode ser controlado usando um painel do próprio braço.
A prótese de braço que é uma máquina para tatuar
O artista e tatuador JC Sheitan Tenet, que vive em Lyon, na França, perdeu seu braço direito em um acidente e viu seu mundo desabar: como poderia continuar praticando sua arte sendo destro? Primeiramente, Tenet tentou recomeçar do zero, se forçando a aprender a tatuar com seu braço esquerdo, mas os resultados não estavam sendo muito satisfatórios.
O dispositivo foi feito usando partes de uma prótese comum, peças de uma máquina de escrever e de um gramofone
Com a ajuda de Tenet, o artista francês JL Gonzal desenvolveu para ele um membro totalmente adaptado para fazer tatuagens, com motor, agulha e tudo mais. O dispositivo, que mais parece ter saído de um conto cyberpunk, foi feito usando partes de uma prótese comum, peças de uma máquina de escrever e de um gramofone e foi decorado com uma pátina avermelhada para dar a sensação de estar enferrujado. Confira o artista em ação no vídeo:
A artista/ciborgue que sente TODOS os terremotos do mundo
Moon Ribas é uma dançarina espanhola que implantou um chip em seu braço esquerdo através do qual é capaz de sentir todos os terremotos do mundo. Batizada por ela como seu “sentido sísmico”, essa nova “habilidade” que possui é encarada pela artista como uma espécie de sexto sentido, da mesma maneira que certos animais podem prever algumas catástrofes naturais de maneira quase inexplicável.
Ela sente os efeitos do dispositivo constantemente, visto que tremores de terra são praticamente incessantes no mundo
O chip que Ribas utiliza vibra com maior ou menor intensidade dependendo da força dos terremotos, ou seja, ela sente os efeitos do dispositivo constantemente, visto que tremores de terra são praticamente incessantes no mundo. As informações sobre os abalos são enviadas para o chip através de dados captados por sismógrafos espalhados por todo o planeta.
Com esse dispositivo, Moon Ribas desenvolveu uma peça artística chamada “Esperando por terremotos”, onde ela adapta sua dança de acordo com as vibrações que sente em tempo real durante o espetáculo. Segundo Ribas, sua arte acontece dentro de si mesma e, para compartilhar essa experiência, ela apresenta sua dança para o público. Hoje, a artista afirma que sente dois batimentos em seu corpo: seu coração e as vibrações sísmicas do planeta. O vídeo a seguir mostra a apresentação da dançarina no TED, onde ela explica melhor sua arte (em inglês):
O colete que traduz ondas sonoras em vibrações
O neurocientista David Eagleman e seu aluno de graduação Scott Novich desenvolveram, com a ajuda de investidores do Kickstarter, um colete com uma tecnologia especial. Por meio dele, um deficiente visual ou auditivo recebe estímulos vibratórios que podem ser traduzidos em informações diversas. O nome do protótipo é simples: VEST, termo em inglês para colete, mas também sigla para Versatile Extra-Sensory Transducer, em tradução livre, transdutor extrassensorial versátil.
A parte traseira do colete possui uma porção de dispositivos vibratórios que interagem com a pele do usuário
A parte traseira do colete possui uma porção de dispositivos vibratórios que interagem com a pele do usuário. Assim, uma informação sonora, por exemplo, é recebida por meio de um smartphone que está ligado ao colete. O smartphone vai realizar o processo de “tradução” dessa informação, transformar dados auditivos em dados táteis e enviá-los para o colete. A mensagem, agora em forma de vibração, é passada para a pele das costas do usuário. É assim que um deficiente auditivo pode entender uma mensagem sonora.
No fim das contas, todo tipo de sensação que temos não é nada mais do que pulsos elétricos no nosso cérebro. É a maneira como o cérebro os interpreta que muda. E, nesse caso, ele entende a informação tátil das vibrações como palavras, frases, sons e imagens. É dessa mesma forma que, por exemplo, um cego consegue “ler” algo escrito em braile. Veja o VEST em funcionamento no vídeo a seguir:
Lepht Anonym, a ciborgue que se fez em casa
Lepht Anonym é uma biohacker diferente dos casos já citados anteriormente. Em vez de utilizar as mais avançadas tecnologias e, especialmente, métodos para se tornar uma ciborgue, ela apela para procedimentos, digamos, mais caseiros e amadores na hora de instalar seus implantes. Realizando cirurgias em si mesma, ela explora e afeta sua transição pessoal para um estado de ciborgue.
Em vez de utilizar as mais avançadas tecnologias, ela apela para procedimentos, digamos, mais caseiros e amadores na hora de instalar seus implantes
Parece complicado? É mais simples do que parece: Lepht adotou diferentes tipos de implantes para que ela pudesse desenvolver novos sentidos. Ela possui dispositivos RFID subdermais – parecidos com os que são colocados em animais de estimação – que podem acessar computadores e outros dispositivos eletrônicos. A ciborgue do faça-você-mesmo também possui ímãs de neodímio nas pontas dos dedos para sentir a forma e a força de campos eletromagnéticos.
O homem que ligou seu cérebro a um computador
Kevin Warwick é um professor universitário que decidiu conectar seu sistema nervoso a um computador. Através de um chip implantado em seu braço, ele transmite pulsos elétricos com gestos simples feitos com suas mãos. A experiência durou apenas alguns poucos meses, mas deixou muitas pessoas esperançosas: desses testes podem sair muitos avanços no tratamento de pessoas com algum tipo de paralisia física.
Warwick passou por um procedimento cirúrgico onde um chip de silicone de 3 mm foi inserido em seu braço e cerca de 100 eletrodos foram implantados em seu nervo mediano
Para se tornar um ciborgue, Warwick passou por um procedimento cirúrgico onde um chip de silicone de 3 mm foi inserido em seu braço e cerca de 100 eletrodos foram implantados em seu nervo mediano. Segundo o professor, o próximo passo é realizar mais testes com esse processo e aplicar as descobertas no tratamento de paraplégicos, tetraplégicos ou qualquer paciente que tenha algum problema de mobilidade ligado a falhas do sistema nervoso.
O chip que reconecta as pessoas com o meio ambiente
O North Sense é um chip que pode detectar quando seu usuário está virado para o Norte, com o objetivo de reconectar as pessoas com a natureza e com instintos mais “animais”. A ciência sabe que diversos bichos são capazes de se orientar usando o campo magnético terrestre. Eles usam esse “sentido” para realizar suas migrações sazonais e para se deslocarem entre locais de interesse.
Sempre que a pessoa virar na direção Norte, uma vibração no aparelho vai avisar o usuário, criando uma nova sensação além dos nossos sentidos normais
O chip é anexado através de quatro conectores que são instalados no corpo do usuário através de uma pequena cirurgia. Assim, essas barrinhas de ligação ficam do lado interno da pele, enquanto a parte principal, que é maior, fica do lado externo. Sempre que a pessoa virar na direção Norte, uma vibração no aparelho vai avisar o usuário, criando uma nova sensação além dos nossos sentidos normais.
Cineasta usa olho biônico que é uma câmera
Rob Spence é um cineasta canadense que perdeu seu globo ocular direito brincando com uma arma de fogo quando tinha apenas 9 anos. Aos 43 anos de idade, ele tornou-se um ciborgue ao implantar uma câmera no lugar de seu olho de vidro. Por algumas limitações do dispositivo, como o superaquecimento, apenas cenas de até três minutos podem ser filmadas pela “visão” de Spence, mas a qualidade é a mesma de câmeras normais que vemos por aí.
Aos 43 anos de idade, ele tornou-se um ciborgue ao implantar uma câmera no lugar de seu olho de vidro
Agora, o cineasta é parte de um novo programa do canal Showtime chamado Dark Net, onde são mostrados avanços tecnológicos que conectam as pessoas das maneiras mais impressionantes. A câmera colocada no olho de Spence também levanta uma questão importante: a privacidade das pessoas que podem ser registradas com dispositivos “escondidos”, dada a capacidade do cineasta de registrar praticamente qualquer situação que enxerga.
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