Por mais que os procedimentos cirúrgicos tenham avançado bastante no campo da cardiologia, a espera pela doação de um coração compatível para um paciente em estado delicado é algo que parece longe de ser resolvido. Ou, se depender da tecnologia, é o que parecia até então. Um grupo de pesquisadores norte-americanos conseguiu fazer com que tecidos do órgão crescessem em laboratório a partir de células-tronco originadas de pedaços de pele dos enfermos.
O estudo foi publicado recentemente no periódico científico Circulation Research, detalhando a pesquisa de um grupo de trabalho do Hospital Geral de Massachusetts. Segundo a documentação, a técnica deve permitir que sejam feitos reparos consideráveis no tecido cardíaco das pessoas utilizando seu próprio material genético. Além de possivelmente evitar que procedimentos como um transplante total precisem ser feitos, a descoberta também reduz drasticamente as chances de rejeições em doações menores de partes do órgão.
Tecido sendo cultivado no biorreator
Como ainda não há tecnologia para “construir” um coração do zero, apenas utilizando células-tronco, a ideia é que uma estrutura de proteína seja usada como base para que o restante do item biológico possa crescer. Conforme notado por Jacques Guyette, chefe do estudo, esse ainda é um processo que leva tempo, especialmente para uma finalidade tão complexa quanto a de repor funções cardíacas. Assim, um atalho para a pesquisa foi utilizar cerca de 70 corações fornecidos pelo New England Organ Bank, considerados impróprios para doação.
Cada um desses órgãos passou por uma limpeza profunda, que os livrou de todas as células vivas e deixou apenas um esqueleto pronto para receber o novo material celular. Os cientistas, então, se basearam em um método aprimorado para reverter o RNA da pele dos pacientes para um estado mais primitivo e que permite o crescimento de tecido muscular cardíaco em cima da matriz extracelular. A partir daí, bastaram apenas alguns dias para que ambas as partes fossem devidamente integradas.
Apertando o passo
Para acelerar esse estágio, a equipe colocou o conjunto em um biorreator com uma solução de nutrientes e mais alguns elementos que reproduzem condições semelhantes àquelas em que um coração vivo funciona normalmente. Em cerca de duas semanas, o resultado foram pequenas regiões inteiramente funcionais de músculos que, assim como no item original, respondiam a estímulos elétricos. Apesar do avanço, Guyette e sua equipe ainda sabem que há muito trabalho pela frente.
“Regenerar um coração inteiro é um objetivo a longo prazo que ainda está a anos de acontecer. Então, por enquanto, estamos trabalhando para desenvolver um tipo de reparo funcional do miocárdio que pode substituir tecidos cardíacos danificados em um infarto ou falha do coração”, explicou o cientista. Simultaneamente, o grupo busca aperfeiçoar seus métodos para gerar um número maior de células sem que seja necessário um cultivo tão longo, otimizando tanto as técnicas de cultura no biorreator quanto as de integração dos tecidos.
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