Nos últimos meses, nós do TecMundo começamos a publicar um número expressivo de matérias sobre bicicletas elétricas. Além de notícias a respeito do assunto, chegamos a analisar quatro modelos disponíveis no mercado brasileiro: a Vela 1 (da Vela Bikes), a E-bike L (da LEV) e a 3 TOROS e a E.TANK (ambas da General Wings). Acreditamos que é importante falar sobre tecnologia aplicada à mobilidade urbana.
Porém, ao postarmos qualquer conteúdo sobre bikes elétricas, o campo de comentários se enche com mensagens previsíveis do tipo: “Nossa, com esse preço eu comprava uma moto!”. De fato, esse tipo de veículo ainda é muito caro no Brasil e — diferente do que muita gente pensa — ao redor do mundo. Nos EUA, os modelos mais baratos de boa qualidade custam a partir de US$ 1,5 mil, o que corresponde a R$ 5 mil sem impostos.
É claro que a renda média de um cidadão norte-americano é maior do que a de um brasileiro. Porém, não dá para ignorarmos uma série de fatores que encarecem as bikes elétricas. Além disso, ao comparar o preço de uma magrela com o de uma motocicleta, muitos se esquecem de uma série de fatores que, a longo prazo, podem representar uma economia importantíssima para o seu bolso, especialmente em tempos de crise financeira.
Bikes elétricas são caras; mas será que elas valem a pena?
Gasolina vs recarga elétrica
Este é comumente o primeiro ponto a ser observado caso você queira comparar os dois automóveis. Para esta matéria, vamos supor que estejamos olhando para uma motocicleta econômica de 125 cilindradas que consiga fazer, em média, 45 quilômetros com 1 litro de gasolina. O preço médio do combustível está na faixa dos R$ 3,50 — logo, vamos supor que é esse o valor que você gastará para fazer uma viagem de 45 quilômetros.
Para recarregar a bateria de uma bike elétrica, você vai gastar nada mais do que R$ 0,25
Por outro lado, para recarregar a bateria de uma bike elétrica como LEV E-bike, você vai gastar nada mais do que R$ 0,25 na sua conta de luz no fim do mês. Com uma carga cheia, o modelo consegue rodar 35 quilômetros. Isso significa que, com os R$ 3,50 que você gastaria em 1 litro de gasolina, você vai poder viajar 490 quilômetros com a sua magrela — talvez um pouco menos caso enfrente muitas subidas, mas ainda assim é um valor impressionante.
Indo além, se você faz um trajeto de 45 quilômetros por dia para ir e voltar do trabalho (ou seja, usando 1 litro por dia), gastará, em média, R$ 17,50 por semana e R$ 70 por mês com uma moto. Já com a bicicleta elétrica, fazendo o mesmo percurso diário, o gasto semanal será de R$ 1,25 e o mensal sairá por R$ 5 — praticamente uma xícara de café expresso. Faça as contas em um ano e compare a economia com combustível.
Compare os custos em longo prazo
Impostos e seguro obrigatório? Nunca mais
Ao comprar uma motocicleta, você vai precisar arcar para sempre com três impostos distintos caso queira mantê-la sempre em conformidade com a lei. O primeiro deles é o Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), uma taxa estadual cobrada anualmente a qualquer pessoa que possua veículos motorizados. Ela corresponde a 2% do valor venal do veículo, e, sendo assim, uma moto que custe R$ 5 mil terá um IPVA de R$ 100.
As bicicletas elétricas, por outro lado, estão livres de todos esses impostos anuais
Outro imposto que deve ser pago anualmente é a taxa de licenciamento do automóvel, processo necessário para que as autoridades possam verificar se a motocicleta está em conformidade com as normas ambientais e de segurança. Esse imposto não tem um valor fixo, varia de acordo com o estado e não é orientado pelo valor venal do veículo — embora seja reajustado todo ano, o preço costuma ficar em torno dos R$ 80.
Por fim, temos ainda o Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de vias Terrestres (DPVAT), mais conhecido como Seguro Obrigatório, que é calculado de acordo com o índice de acidentes para cada tipo de veículo. Em 2016, o DPVAT de motos foi de R$ 292,01 (sendo que as “cinquentinhas”, modelos com motores de 50 cilindradas, pagaram R$ 134,66). As bicicletas elétricas, por outro lado, estão livres de todos esses impostos anuais.
Manutenção e estacionamento
Outro fator importantíssimo que merece ser levado em consideração é o valor da manutenção dos dois tipos de veículos. Trocar os componentes de uma motocicleta é caro — o preço de um pneu para uma moto de 125 cilindradas pode variar de R$ 99 a R$ 150. Temos que nos lembrar ainda das trocas de óleo e das revisões periódicas. Por outro lado, pneus para bicicletas são muito mais baratos, assim como os freios e outras peças que costumam se desgastar.
A única peça de uma bike elétrica que exige mais investimento ao ser trocada é a bateria, cujo custo varia de R$ 500 a R$ 1,5 mil (dependendo do modelo escolhido). Porém, visto que as células costumam perder potência apenas depois de mil ciclos de recarga completos, você só vai precisar trocar a bateria de sua magrela após cerca de três anos, caso a recarregue todos os dias.
Caso você opte por um modelo dobrável, poderá mantê-la até mesmo dentro de sua casa ou no escritório
Por fim, não deixemos de citar também a economia no estacionamento. Uma bike elétrica pode ser guardada em qualquer lugar, e, caso você opte por um modelo dobrável, poderá mantê-la até mesmo dentro de sua casa ou no escritório. As motocicletas, por sua vez, precisam arcar com esse custo para serem estacionadas em um local seguro — e todo mundo sabe que o preço dos estacionamentos não anda muito baixo nos centros urbanos.
Melhor para o meio ambiente
Este quesito não costuma pesar tanto na consciência dos consumidores quando eles estão decidindo qual será seu próximo veículo, mas ainda assim é importantíssimo lembrar que as bicicletas elétricas não emitem gás carbônico ou qualquer outro poluente que seja agressivo ao meio ambiente. Isso faz com que o automóvel seja a escolha certeira para pessoas que desejam ser ecologicamente corretas enquanto trafegam no cenário urbano.
Pegando como exemplo novamente a viagem de 45 quilômetros, uma motocicleta considerada leve (de 100 a 250 cilindradas) emitiria cerca de 5,94 quilos de dióxido de carbono (CO2). Um carro é ainda mais poluente — um modelo pequeno, de motor 1.0 a 1.4, soltaria 16,47 quilos do poluente que é comumente apontado como o responsável pelo efeito estufa. As estatísticas foram retiradas da calculadora do site Eccaplan.
Ecologicamente falando, bikes elétricas são mais amigáveis
Bike elétrica é para preguiçosos?
Outro conceito popular que precisamos desmistificar é o de que “bikes elétricas são para preguiçosos”. Geralmente, quem utiliza esse argumento para desqualificar essa categoria de automóveis afirma que o consumidor de uma magrela elétrica é aquele indivíduo que gostaria de andar de bicicleta na cidade, mas não quer se esforçar muito e prefere contar com uma “ajudinha” do motor.
Bom, as coisas não são bem assim. Todo mundo sabe que usar uma bike no dia a dia não é uma tarefa fácil. Em São Paulo, por exemplo, temos muitos aclives difíceis de serem transpostos, o que impossibilita o uso de uma bicicleta tradicional por parte de indivíduos que não tenham preparo físico (como os mais idosos, por exemplo). Essa dificuldade realmente faz com que muita gente desista de pedalar a sério.
As bikes elétricas, por outro lado, vieram para facilitar a vida desse tipo de público, atingindo os cidadãos que procuram um meio simples e confiável de se locomover diariamente, mas sem ter que necessariamente fazer exercícios físicos para isso. Além disso, esses automóveis têm um forte apelo para profissionais que não querem chegar suados no escritório ou em uma reunião — afinal, poucas empresas dispõem de chuveiros para seus empregados.
Nem todo mundo tem preparo físico para usar uma bike tradicional como meio de transporte
Depende das suas necessidades
Obviamente, não podemos dizer que as bikes elétricas são perfeitas e melhores do que as motocicletas. Mesmo com um custo maior em longo prazo, uma moto ainda possui uma série de vantagens sobre as magrelas: maior velocidade final, possibilidade de levar um garupa (na maioria dos modelos) e principalmente autonomia para longas viagens. Sem contar que, culturalmente, elas possuem um status “cool” que as bikes dificilmente conquistarão.
Os custos envolvidos na fabricação e na montagem desses automóveis são altos
Agora, se formos analisar as necessidades de um indivíduo que procura um veículo leve para fazer trajetos cursos em ambiente urbano, sem se preocupar com velocidade ou longas viagens, uma bicicleta elétrica se torna atraente justamente por não ter custos “escondidos” e ser mais simples de pilotar. Não é preciso nem ter habilitação para pilotar uma, o que as tornam atraentes para quem não possui CNH e não pretende tirá-la tão cedo.
As bikes elétricas ainda são caras no Brasil? Naturalmente. Os custos envolvidos na fabricação e na montagem desses automóveis são altos, pois, diferente do que vários pensam, a produção vai muito além de simplesmente “pegar uma bike normal e enfiar um motor nela”. Há um completo trabalho de pesquisa e desenvolvido para acertar pontos como estabilidade, segurança e conforto para o ciclista.
Além disso, não podemos nos esquecer que, mesmo no caso de modelos feitos nacionalmente, a maioria dos componentes (como o motor e as baterias) precisam ser importados, o que acarreta em impostos altíssimos pagos pela fabricante. São questões simples, mas que, infelizmente, muita gente acaba se esquecendo de levar em conta na hora de analisar o custo-benefício de uma bike elétrica.
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