Lembra de quando a internet debatia entre as coisas serem "raiz" ou "nutella"? Ser raiz significa algo tradicional e bom, enquanto ser nutella representava algo moderno e ruim. Será que, na prática, é assim mesmo? Para dizer a verdade, nem sempre.
Nosso teste automotivo mais recente comprova isso de forma irrefutável. Rodamos mais de 700km com o Suzuki Jimny Sierra, um minúsculo e simpático SUV compacto com arquitetura raiz e inúmeros atributos pensados para o fora-de-estrada. Como um modelo com essas características se comporta no uso diário? É o que você vai descobrir nas linhas abaixo.
Imigrante mais do que legal
Importado do Japão, o Jimny Sierra que a Suzuki vende no Brasil hoje está na quarta geração e na linha 2025, disponível em nada menos do que seis versões. A que nos foi cedida para teste é a 4You Plus, a terceira mais cara atualmente, tabelada em R$179.990 e equipada unicamente com câmbio automático de quatro marchas.
É o único SUV compacto do Brasil com pegada raiz, construído sobre chassi por longarinas (como as picapes médias) e equipado com sistema de tração seletiva que pode ser apenas traseira (2H), integral para uso normal (4H) ou integral com reduzida (4L). Seu acionamento, inclusive, é feito por uma alavanca mecânica, tal qual utilitários antigos.
Para mover o Jimny Sierra temos um modesto 1.5 aspirado de quatro cilindros, movido somente a gasolina, capaz de gerar até 108cv e 14,1kgfm. Não são números nem um pouco empolgantes para os padrões atuais, mas para compensar, o pequeno SUV pesa apenas 1.100kg (nessa versão), o que significa menos massa para o motor movimentar.
Além da construção sobre chassi, outra peculiaridade do Jimny Sierra no segmento é a suspensão dianteira por eixo rígido ao invés do sistema independente que equipa a grande maioria dos carros. Tudo isso tem um motivo: esse é um SUV que tem como prioridade o off-road e, portanto, precisa trazer componentes mais robustos.
A lista de equipamentos de série da versão 4You Plus inclui: faróis Full LED com ajuste elétrico de altura e lavadores, ar condicionado digital automático, central multimídia JBL com 7", controles de tração e estabilidade, faróis de neblina halógenos com luzes diurnas integradas, câmera de ré, computador de bordo, volante multifuncional com ajuste de altura, entre outros.
Há ainda piloto automático, assistentes de subida e descida, bancos em vinil como opcionais, entre outros. Trocando em miúdos, o "kit dignidade" está todo aí, mas deveria haver bem mais recheio mediante o preço de tabela: ele traz apenas os obrigatórios airbags duplos frontais, não há sensores de estacionamento e absolutamente nenhum assistente de segurança.
O jeito é dar uma fugidinha
Os mais de 700km que percorremos com o Jimny Sierra foram feitos em percurso rodoviário por cerca de 60% do tempo. Os 40% restantes se dividiram em uso urbano e alternâncias entre trilhas leves e pesadas. Para começar, nos surpreendemos positivamente com a média geral de 15km/l; nada mau para um veículo tão aerodinâmico quanto uma caixa de sapatos.
No dia-a-dia, o Jimny Sierra não é tão desconfortável quanto seu tamanho e proposta sugerem, contudo, é óbvio que ele não chega nem perto de entregar o conforto, esperteza e dinamismo dos demais SUVs compactos feitos exclusivamente para o asfalto: até então, você se questiona o porquê de comprá-lo e porque seu preço se nivela aos demais integrantes do segmento.
Mas aí você se lembra de que é um carro feito para encarar um off-road de praticamente qualquer nível sem precisar apelar para modificações e, de fato, quando você opta por ver do que o Jimny Sierra é capaz, tudo fica claro. O jipinho japonês nasceu para te levar onde outros modelos jamais levariam - pelo menos não sem algumas modificações severas.
O entre-eixos longo em relação a carroceria faz com que os balanços dianteiro e traseiro sejam minúsculos, proporcionando excelentes ângulos de ataque, de saída e de passagem por rampas. O grande vão livre do solo somado aos pneus de uso misto completa o conjunto de qualidades que fazem o Jimny Sierra ir a qualquer lugar sem reclamar.
Acredite quando ouvir de alguém que não é preciso mudar nada no utilitário para torná-lo capaz de encarar trilhas, pois vimos isso na prática. O colocamos para encarar atoleiros, subir/descer grandes desníveis em colinas e tudo o que precisamos fazer foi acionar a tração 4x4 reduzida, botando a alavanca na posição 4L. Ele passou por tudo de primeira.
Mas é importante lembrar que isso vem às custas de sacrifícios no uso cotidiano, principalmente na estrada. A falta de mais motor e de um câmbio mais dinâmico é perceptível, bem como uma certa insegurança para se fazer curvas e frenagens em velocidades mais altas: o ideal para uma direção confortável e sem sustos é se manter a, no máximo, 90km/h.
No final das contas, o Jimny Sierra se mostrou um "brinquedo de gente grande", entregando um alto nível de competência para o fora-de-estrada. É um típico caso de carro de nicho, projetado para quem busca um produto para uma finalidade específica: nesse caso, a finalidade é sair do asfalto com conforto e alguns recursos de comodidade mais atuais.
Não é uma compra que você deva considerar se procura um veículo para o dia-a-dia/levar sua família. Também não deve ser comparado com Creta, T-Cross e outros parecidos, apesar do preço: ele faz, na terra, o que esses jamais sonhariam em fazer. Em contrapartida, os demais levam você e sua família para os afazeres trivias com muito mais decência.