A Fiat já tinha uma excelente participação no mercado das picapes com o Strada, mas a marca passou a vislumbrar ainda mais possibilidades com o sucesso do Toro. O caminho natural de sucessão seria partir para uma picape média e ela veio na forma do inédito Titano.
O TecMundo teve a oportunidade de passar 14 dias com uma unidade do novo utilitário da montadora italiana, com o qual rodamos mais de 1.000km para atestar suas qualidades e seus defeitos. Recebemos um exemplar da versão Ranch, a topo-de-linha, tabelada atualmente em R$259.990; há ainda as mais baratas Endurance e Volcano.
Sino-franco-ítalo-brasileiro
Para entender de onde surgiu o Titano, é preciso ir até a China onde o utilitário nasceu. O projeto original foi desenvolvido por uma parceria entre a chinesa Changan e o antigo grupo PSA, na época constituído pela dupla Peugeot e Citroën. Tal parceria deu origem ao Kaicene F70, uma picape de porte médio apresentada ao mundo em 2019.
Por conta da ligação com a PSA, não demorou para o Kaicene F70 dar origem ao Peugeot Landtrek: toda a parte estética foi revista para se enquadrar na linguagem visual da marca francesa. Com o tempo, a Peugeot se incorporou ao grupo Stellantis que decidiu por lançar a picape no Brasil como Fiat Titano, trocando apenas os emblemas pelos da italiana.
Para movimentar o Fiat Titano, a fabricante optou por adotar o motor 2.2 turbodiesel "BlueHDI" de quatro cilindros presente no Ducato, mas com uma calibragem específica para a picape: são até 180cv e 40,8kgfm de potência e torque máximos, números gerenciados por uma caixa automática de seis velocidades e tração integral seletiva com opção de reduzida.
Com esse conjunto, o Titano vai de 0 a 100km/h em 12,5 segundos e atinge a máxima de 175km/h. Está longe de ser uma das picapes mais espertas do mercado, mas não sentimos falta de desempenho quando precisamos. Também não nos preocupamos em dirigir de forma econômica e, mesmo assim, a média geral ficou em bons 12,5kml.
Falando de tecnologia embarcada, o Titano traz itens como: luzes diurnas, piloto automático, seis airbags, bloqueio do diferencial, direção hidráulica, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, assistentes de descida e de reboque, central multimídia de 10", faróis de neblina, protetor de caçamba, capota marítima, computador de bordo, entre outros.
A versão topo de linha Ranch recebe alguns mimos exclusivos dela como: faróis com projetor de LED para luz baixa, bancos dianteiros com ajustes elétricos, câmeras em 360º, ar condicionado digital de duas zonas com saídas traseiras, rodas aro 18, sensores dianteiros de estacionamento (para somar aos traseiros), sensores crepuscular e de chuva, entre outros.
"Saltitano" por ruas e estradas
De maneira geral, os carros estão cada vez mais anestesiados e mesmo os utilitários com proposta mais rústica se comportam como confortáveis veículos de passeio. Já com o Titano, a coisa é totalmente diferente: a picape média se comporta, de fato, como uma picape. No ato da partida, o 2.2 turbodiesel já começa com seu gostoso castanhado grave característico.
O ambiente geral é simplório a ponto de parecer muito mais barato do que a etiqueta de tabela, contudo, não chega a incomodar com barulhos ou falhas de acabamento. O volante não é dos mais pesados, mas exige muitas voltas: manobrar a picape sino-italiana é um desafio e requer todo o espaço que você tiver ao dispor, pois o diâmetro de giro é ruim.
A essa altura você já se sente dirigindo um caminhão de pequeno porte, mas é nas ruas que a sensação se consolida. O Titano se comporta como as picapes rústicas de décadas passadas e quica muito, quase o tempo inteiro. A intensidade desse pula-pula depende do asfalto, porém, dificilmente você conduzirá o utilitário sem que ele esteja quicando de alguma forma.
De igual modo, a dianteira tende a mergulhar excessivamente em quebra-molas e buracos, mostrando que falta capricho na suspensão. Em contrapartida, a conversa do motor e da transmissão é muito boa, bem como a atuação dos freios e o comportamento dinâmico em curvas. Em suma: a suspensão foi tropicalizada, mas manteve um quê de carro chinês.
Sendo direto ao ponto, além do pula-pula, o que incomodou no uso diário do Titano foi a baixa qualidade da central multimídia (som, funções, etc.) e das câmeras em 360º que vez ou outra acabam mais atrapalhando do que ajudando. No geral, o convívio com a picape agradou e justifica a pedida inferior em comparação com alguns rivais da categoria.
A impressão é que ainda há muito de Changan no Titano e é exatamente esse lado "chinês da década passada" que incomoda. A Fiat promete realizar alterações e aprimoramentos em diferentes lados do produto, o que deverá corrigir esses pontos, mas o fato é: temos aqui uma rara picape moderna de jeito bruto, o que evidentemente não agrada a todos.
Faz pouco tempo que tivemos contato com o VW Amarok reestilizado para 2025 (confira nosso teste aqui) e isso só reforça as sensações a respeito do Titano: o Amarok, embora seja um projeto até mais antigo, já entrega um rodar muito mais refinado e próximo ao de um carro de passeio, tal qual a grande maioria das picapes de porte médio.
Se toda essa pegada "raiz" do Titano é algo positivo ou negativo, dependerá unicamente de quem dirigir. O fato é: se busca uma picape com direção de carro de passeio, evite-o a todo custo. Se, porém, quer uma experiência à moda antiga com as comodidades do mundo moderno, a Fiat preparou a picape certa para você.