Por Francisco Forbes.
Enquanto diversos países avançam em políticas de mobilidade sustentável, o Brasil parece seguir na contramão. Governos europeus estão fechando aeroportos, reduzindo voos e desincentivando o uso de carros em favor de ciclovias e transporte público eficiente.
Em contraste, os políticos brasileiros ainda comemoram a inauguração de novas estradas, aeroportos e terminais rodoviários — obras grandiosas que pertencem ao passado e caminham na contramão das tendências globais de mobilidade e sustentabilidade.
Na Alemanha, o governo tem se comprometido a reduzir o número de voos domésticos e, em Berlim, o Aeroporto de Tegel foi fechado em 2020. Além disso, o país implementou impostos ambientais sobre voos, tornando as viagens aéreas menos atrativas e incentivando o uso de trens.
Na Holanda, o governo decidiu reduzir em até 60 mil voos anuais no Aeroporto de Schiphol, investindo em uma rede ferroviária de alta velocidade como alternativa. A Dinamarca, por sua vez, com Copenhague à frente, está desincentivando o uso de carros e priorizando ciclovias e transporte público, com o objetivo de se tornar a primeira capital neutra em carbono até 2025.
Enquanto isso, cidades como Paris propõem o fechamento parcial do Aeroporto de Orly, redirecionando investimentos para expandir a rede de trens e melhorar o transporte público.
Em Oslo, na Noruega, a cidade tem reduzido a construção de novas estradas e banido carros do centro, investindo em ciclovias para criar ambientes urbanos mais sustentáveis e acessíveis.
Brasil na contramão mobilidade sustentável
Em contraste, no Brasil, as grandes obras viárias e aeroportuárias são extremamente caras e complexas de projetar e fiscalizar. Elas frequentemente levam de 5 a 10 anos para serem concluídas, consumindo bilhões de reais dos cofres públicos e causando enormes transtornos à população durante a construção — ruas fechadas, congestionamentos, barulho e poluição intensificada.
E mesmo após a conclusão, essas infraestruturas servem a modelos de transporte ultrapassados. O transporte baseado em carros, caminhões e aviões, além de insuficiente para atender à crescente demanda por mobilidade, é altamente poluente e insustentável.
As ciclovias, por exemplo, são sistematicamente ignoradas como prioridade. No entanto, são muito mais baratas e eficientes para resolver os problemas de deslocamento e poluição nos grandes centros urbanos. Enquanto o Brasil celebra suas novas estradas e aeroportos, países na Europa e América do Norte estão liderando o caminho com políticas pró-micromobilidade.
Estudos mostram que os carros e caminhões são responsáveis por uma parte significativa das emissões de carbono nas cidades. Além disso, um único aeroporto adicional pode ser uma fonte substancial de poluição e barulho.
Em cidades como Londres, há esforços para restringir voos domésticos e incentivar o uso de trens de alta velocidade como alternativa, o que reduz significativamente as emissões.
Por aqui, no entanto, continuamos a celebrar mais estradas e aeroportos, indo na contramão do mundo. Em vez de gastar bilhões na ampliação de vias para carros, por que não focar na expansão da malha cicloviária? A provocação está lançada: se queremos um futuro urbano verdadeiramente sustentável, é hora de repensar nossas prioridades.
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Francisco Forbes é CEO da Whoosh BR, multinacional líder em micromobilidade que promete restabelecer as patinetes elétricas como um meio de transporte no país. Fundador da Infracommerce e Seed Digital. Foi diretor da Hyperloop Transportation Technologies (US), é investidor e professor.
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