Você certamente já ouviu falar a respeito do telescópio espacial Kepler, da NASA, não é mesmo? Nós aqui do Mega Curioso inclusive já postamos várias matérias a respeito de descobertas surpreendentes feitas pelo dispositivo, como o planeta do tamanho do nosso que poderia abrigar vida, o trio de mundos potencialmente habitáveis em outro Sistema Solar e o “primo mais velho” da Terra.
O equipamento foi lançado ao espaço em 2009, e sua função é justamente vasculhar o Universo em busca de exoplanetas orbitando ao redor de estrelas distantes — o que ele tem feito direitinho! No entanto, enquanto o telescópio trabalha, também é possível que ele encontre outras coisas no espaço.
Funcionamento
Basicamente, o Kepler detecta os exoplanetas quando eles passam diante de seus sóis e provocam uma variação na luz emitida por eles. Para que um corpo seja considerado um planeta, o trânsito diante da estrela deve ocorrer periodicamente, indicando que se trata de um astro em órbita.
O mais interessante é que os dados coletados pelo telescópio permitem que os cientistas descubram uma porção de coisas sobre os exoplanetas, como suas dimensões, composição e formato — embora aqui não haja muita variação, já que a física da formação dos planetas determina que eles devem ser arredondados.
Assim, para ser considerado um exoplaneta, o candidato precisa cumprir com alguns requisitos, e a coisa toda não tem muito mistério. E você se lembra de que comentamos que o Kepler também poderia descobrir outras coisas no espaço além de mundos distantes?
Descoberta bizarra
De acordo com Ross Andersen, do portal The Atlantic, o telescópio estava apontado para uma estrela chamada KIC 8462852, localizada na constelação de Cygnus, a cerca de 11 anos-luz da Terra, quando detectou algo muito esquisito. Segundo Andersen, os dados obtidos pelo Kepler revelaram que um objeto passava diante da estrela em intervalos de tempo irregulares provocando variações na emissão de luz também irregulares.
Constelação de Cygnus
A descoberta foi descrita em um estudo publicado recentemente por cientistas de diversas universidades — entre elas a de Yale — e, conforme explicaram, o equipamento vem observando a estrela há anos e nunca foi constatado qualquer erro em suas leituras. Mais precisamente, os pesquisadores focaram em dois trânsitos especialmente curiosos, identificados como D800 e D1500.
O primeiro deles, o D800, foi registrado entre os dias 788 e 795 da missão do Kepler e parece mostrar o trânsito de um corpo celeste que provocou uma queda de 15% no brilho da KIC 8462852. Já o segundo — o D1500 — aconteceu entre os dias 1510 e 1570 da missão e resultou em uma diminuição de 22% na emissão de luz da estrela.
Resultados
Segundo Andersen, os pesquisadores avaliaram vários cenários para entender os bizarros trânsitos focando em explicações plausíveis, como a passagem de um disco circunstelar — uma nuvem de poeira, gás e fragmentos que circula uma estrela. Mas, depois de buscar sinais em infravermelho associados a esses discos, os cientistas não encontraram nenhum, sem falar que essas nuvens costumam circundar estrelas mais jovens, o que não é o caso da KIC 8462852.
Disco circunstelar
Outra possibilidade investigada pelos pesquisadores foi a ocorrência de uma enorme trombada planetária. Contudo, a probabilidade de que isso tivesse acontecido — considerando que o Kepler estava acompanhando as atividades da KIC 8462852 há tempos — foi considerada muito remota.
A única explicação remotamente razoável que os cientistas encontraram foi a possível interferência de um grupo de cometas na região. Nesse caso, os pesquisadores argumentaram que uma estrela próxima a KIC 8462852 pode ter afetado a atividade desses corpos celestes, mas, ainda assim, essa explicação não pareceu muito convincente.
Novo estudo
Na falta de explicações satisfatórias, um novo estudo — que está prestes a ser publicado — sugere que, em vez de fenômenos naturais, como os propostos na pesquisa anterior, as variações estranhas detectadas pelo Kepler podem ter sido provocadas pela passagem de uma megaestrutura criada por uma civilização alienígena diante da KIC 8462852. Parece loucura para você?
Conforme contamos em uma matéria aqui do Mega Curioso — que você pode acessar através deste link —, a Via Láctea tem cerca de 13 bilhões de anos. Portanto, isso seria tempo suficiente para que uma civilização inteligente pudesse ter se desenvolvido até o ponto de ser capaz de construir estruturas gigantescas em algum canto da nossa galáxia.
Segundo dissemos no artigo, uma civilização do tipo II da Escala de Kardashev — que, basicamente, reúne civilizações inteligentes em três categorias — não só seria capaz de construir megaestruturas, como poderia aproveitar toda a energia de seu planeta e teria a habilidade de usufruir da energia de sua estrela.
Especulações
O novo estudo propõe que a atividade bizarra observada na KIC 8462852 pode ter sido provocada por uma dessas megaestruturas capazes de utilizar a energia de estrelas. No entanto, vale lembrar que depois de ter sua energia sugada, a estrela em questão emitiria calor em comprimentos de onda diferentes de forma permanente — e não variável, como foi observado. Sendo assim, a presença de uma civilização do tipo II nas redondezas da KIC 8462852 é pouco provável.
Por outro lado, a atividade registrada pelo Kepler aponta que existe algo por lá — e quem sabe não se trata de uma civilização alienígena do tipo I (capaz de usar toda a energia de seu planeta) em transição para o tipo II? Como saber se esse pessoal não está tentando instalar uma grande estrutura ao redor da estrela e o telescópio flagrou um teste?
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A descoberta do Kepler é pra lá de excitante. No entanto, os dados não provam — em absoluto! — que finalmente encontramos evidências de vida avançada além do nosso planeta. De acordo com Andersen, os pesquisadores agora pretendem apontar radiotelescópios até a estrela para verificar se existe algum sistema artificial gerando sinais de rádio a partir de lá, e muitos testes ainda terão que ser conduzidos.
De qualquer forma, seja lá o que for o que está transitando pela KIC 8462852, é impossível não ficar imaginando que, afinal, pode ser que não estejamos sozinhos no Universo, não é mesmo?
Via Mega Curioso.
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