Essa seria uma das vistas pela janela do "hotel" em Marte (Fonte da imagem: NASA)
A colonização espacial já foi tema de livros e filmes do mundo todo, mas ela também é a preocupação de cientistas e engenheiros que tentam avaliar a possibilidade de vivermos fora da Terra um dia. Pelo menos três destinos do nosso Sistema Solar são considerados:
- a Lua, que parece oferecer uma boa relação de custo e eficiência da missão;
- algum asteroide, que possibilitaria a mineração de metais preciosos; e
- Marte, planeta vizinho e forte candidato a hospedar seres humanos no futuro.
Das opções acima, o Planeta Vermelho é o que mais apresenta similaridades com a Terra. Para começar, o dia marciano possui apenas 39 minutos a mais que o nosso. Além disso, Marte também tem uma atmosfera, que apesar de fina ― 0,7% da atmosfera terrestre ―é capaz de proteger seus habitantes da radiação cósmica ou solar.
As compatibilidades não param por aí: apesar de Marte ter apenas 28,4 % da superfície da Terra, isso é quase o equivalente às regiões secas e habitáveis do Planeta Água, que representam 29,2 % do nosso mundo. Como se não bastasse, o nosso querido “vermelhinho” também possui inclinação de 25,19⁰, nada muito diferente da Terra, cujo eixo de rotação está inclinado a 23,44⁰.
Outra semelhança entre os dois mundos é a presença de água, tanto no estado sólido quanto líquido. Mesmo assim, os humanos que se aventurassem por aqueles territórios alienígenas teriam que enfrentar muitas dificuldades.
Diferenças de Marte em relação à Terra
Concepção artística mostra como seria Marte terraformado (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)
Ambientes de microgravidade são um dos grandes limitadores de avanços tecnológicos. Além disso, também não sabemos se a procriação humana seria possível em um ambiente assim. O sexo no espaço ainda é um mistério para nós e, de acordo com experimentos realizados com ratos, a diminuição da gravidade pode causar problemas aos fetos. Por isso, um dos primeiros desafios enfrentados pelos exploradores seria se adaptar à gravidade reduzida de Marte, que equivale a 38% da terrestre.
O clima também pode atrapalhar o progresso da missão, já que o planeta vermelho é bem mais frio do que o nosso. A temperatura média por lá é de -63⁰ C, com chances de chegar a -140⁰ C. Aqui na Terra, a temperatura mais baixa já registrada é da Antártida, que chega a -89,2⁰ C. Além disso, a órbita de Marte é bem mais elíptica do que a do nosso planeta, fazendo com que tanto a temperatura quanto a quantidade de energia solar que chega ao planeta variem demais.
Como se não bastasse, também teríamos problemas com a pressão atmosférica de Marte, que é de 6 mbar. Esse é um valor muito abaixo do limite necessário para que o ser humano sobreviva sem trajes especiais ou ambientes pressurizados de maneira artificial. Por isso, os colonizadores devem considerar essa informação antes de construírem uma base por lá.
Mesmo assim, se comparado com a Lua ou os outros planetas de nosso sistema solar, Marte é o que oferece as melhores condições de habitação. Com a presença de humanos no Planeta Vermelho por um longo tempo, pode ser que seja possível transformá-lo em um mundo ainda mais parecido com o da Terra. Aliás, já existe até mesmo um nome para esse possível processo: terraformação.
Viagem longa e com pouso difícil
A viagem para Marte duraria cerca de 9 meses (Fonte da imagem: NASA)
Antes de entrar no foguete, não se esqueça de levar um lanchinho com você. A viagem para Marte é longa e dura cerca de nove meses. Porém, com exceção de Vênus, esse é o planeta mais “barato” do Sistema Solar para visitar ou colonizar. Atualmente, engenheiros da NASA conseguiriam reduzir a duração da viagem para seis ou sete meses, mas algo abaixo disso seria difícil, pelo menos sem avanços no campo da propulsão de naves espaciais.
Ao colonizador, também é recomendada a compra de um seguro de vida. Ao longo de todo o trajeto, o passageiro está sujeito aos efeitos da radiação cósmica e solar, que pode causar modificações no DNA de quem estiver exposto a ela. Cientistas estimam que o risco de que um homem morra de câncer em uma missão dessas é de 3,4%. Já as mulheres estão sujeitas a uma probabilidade maior, por possuírem mais tecidos glandulares.
Pousar uma nave em Marte também não é fácil. A gravidade de lá é cerca de um terço da gravidade da Terra e, para piorar, a atmosfera é 1% da que temos aqui. Já que essas características dificultariam a desaceleração e pouso da nave, seria necessário um sistema completamente diferente daquele utilizado pelos astronautas na ida à Lua.
Outra ideia seria construir um elevador espacial que levasse pessoas e mantimentos para o novo mundo.
Comunicação com atraso e interrupção de sinal
AmpliarFoto panorâmica tirada em Marte por sonda espacial (Fonte da imagem: NASA)
A comunicação de Marte com a Terra é fácil durante o período em que o nosso planeta se encontra acima do horizonte marciano. A NASA e a ESA já incluem módulos de comunicação nos equipamentos que orbitam o Planeta Vermelho, portanto, já teríamos satélites por lá. De qualquer forma, novos instrumentos desses seriam enviados para Marte antes da ida de humanos para lá.
Porém, telefones ou bate-papos pela internet, para que as pessoas se comuniquem em tempo real, estão fora de cogitação. Por causa da distância, as mensagens teriam um atraso de 3 a 22 minutos, dependendo da posição dos planetas, para chegar ao destino. Além disso, a comunicação seria interrompida a cada período sinódico, ou seja, quando o Sol se encontrar entre os dois planetas durante uma conjunção.
Robôs, os primeiros exploradores de Marte
Robô com equipamentos para detecção de água potável (em destaque) (Fonte da imagem: NASA)
A maneira mais barata e mais segura de iniciar a exploração de Marte será, certamente, com o envio de robôs capazes de detectar recursos importantes para a sobrevivência humana, como água ou gelo. Esses sistemas poderão atuar no Planeta Vermelho por anos ou décadas, dependendo de como forem implementados. E, assim como os voos espaciais comerciais que começam a surgir, os robôs poderão ser produzidos tanto por governos quanto por empresas privadas, interessadas nas oportunidades do novo mundo.
Estrume vale ouro em Marte
Estrume, quem diria, valeria uma boa grana em Marte (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)
Ainda falta muito para que o ser humano possa se estabelecer em Marte, mas já temos diversas teorias de como seria a economia por lá. Para começar, especialistas acreditam que a posição do planeta é ideal como rota para o transporte de riquezas minerais e recursos naturais extraídos do Planeta Vermelho.
Entre os bens de maiores valores em Marte, estariam meteoritos que possibilitariam uma extração mais fácil de ferro e níquel, comparando-se com o solo marciano. E por falar em solo, assumindo que não existam formas de vida por lá, é provável que a terra do Planeta Vermelho seja pobre e não possibilite o cultivo de plantas. Por isso, estrume e outros fertilizantes também serão muito valorizados até que a nova colônia esteja totalmente terraformada.
Para manter a base permanente em Marte, colonizadores poderiam investir em energia solar. Apesar de a radiação solar que atinge o planeta ser o equivalente a 42% da quantidade que chega diariamente à Terra, a atmosfera mais fina de Marte permitiria que o recurso fosse melhor aproveitado, já que menos radiação seria filtrada.
Outra opção seria a energia nuclear, já que o “combustível” é mais denso e acabaria sendo mais barato transportá-lo para fora da Terra. Uma das vantagens seria o fato de que energia nuclear gera calor. E em um planeta tão frio, calor também pode ser uma “moeda” valiosa.
500 dias em "Marte"
Participantes do projeto Mars500 celebraram o Ano Novo confinados (Fonte da imagem: Mars500)
E para quem acha que a colonização espacial é uma tremenda besteira, saiba que os testes já começaram, aqui mesmo, na Terra. Em 2010, mais de 6 mil pessoas, de 40 países, se candidataram para a terceira etapa de um experimento com o objetivo de estudar os efeitos médicos e psicológicos que poderiam ocorrer ao serem isolados por muito tempo.
Os candidatos selecionados ― três russos, dois europeus e um chinês ― foram confinados por 520 dias, período que se estendeu de junho de 2010 a novembro de 2011, em instalações especiais localizadas no Instituto de Problemas Biomédicos da Academia Russa de Ciências, em Moscou. Felizmente, todos os participantes terminaram o treinamento com ótimas condições de saúde, tanto mental quanto física.
Confira, na galeria abaixo, algumas fotos das instalações onde o pessoal do projeto Mars500 ficou confinado. Você encararia umas “férias” de 500 dias dentro desse lugar?
Fonte das imagens: Mars500
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