Quem vive em São Paulo sabe o quão complicado é o trânsito dessa selva de pedra. E foi justamente por causa dos infindáveis congestionamentos que tomam conta dos centros comerciais da capital que, ao longo dos últimos tempos, o motofrete se transformou em uma das formas mais eficazes de transportar cargas leves em médias distâncias.
No final de 2013, a categoria seria presenteada com o nascimento de uma startup capaz de modernizar essa profissão tão tradicional e que resistiu por tanto tempo às novidades tecnológicas. A Loggi, plataforma online fundada por três talentosos empreendedores, deu seus primeiros passos no mês de outubro e logo chamou a atenção da mídia após receber aporte financeiro de grandes investidores.
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O conceito da empresa é simples: trata-se de um marketplace que tem como objetivo conectar uma frota gigante de motofretistas (conhecidos popularmente como motoboys) para atender toda a demanda oriunda do cenário B2B e do setor de e-commerce.
Através dos aplicativos para Android e iOS, o consumidor solicita um motoboy, determina todo o trajeto que ele deverá fazer (assim como detalha o que pegar/entregar e com quem falar) e obtém uma estimativa de preço instantaneamente. Para nos contar detalhadamente como foi o nascimento e desenvolvimento dessa plataforma tão criativa, o TecMundo teve a oportunidade de conversar com Fabien Mendez, CEO e cofundador do serviço.
Um cenário promissor
Fabien, que é francês e mora no Brasil há quase cinco anos, trabalhou no setor bancário até ter vontade de entrar no mundo do empreendedorismo digital. A ideia de criar a Loggi surgiu em junho de 2013, e o europeu atribui o sucesso a uma série de fatores e características da cidade de São Paulo.
“O mercado de motofretistas cresceu exponencialmente nos últimos 15 anos, pois estamos em um país muito burocrático – onde um documento precisa ir e voltar várias vezes – e o trânsito está sempre saturado. Esses problemas estruturais forçaram um crescimento gigantesco no número de motoboys”, explica.
“O problema é que, até ontem, qualquer um poderia trabalhar como um motoboy. Entre 2009 e 2013, porém, foram votadas uma série de leis a nível federal e local para tentar formalizar esse mercado. Agora, se você quiser ser motofretista, é preciso passar por um funil bastante extenso de regularizações”, relembra Fabien, citando as novas normas nacionais que precisam ser respeitadas por quem deseja trabalhar com entregas usando um veículo de duas rodas.
Foi então que o empreendedor teve de aproveitar essas condições oportunas: um mercado em crescimento e que havia acabado de sofrer um choque regulatório bem no momento em que os smartphones de baixo custo haviam começado a seduzir as classes econômicas mais baixas. “Foi da combinação desses três fatores – a demanda logística, o choque regulatório e o choque tecnológico – que nasceu a ideia de fazer a Loggi”, comenta.
Plataforma complexa
Ainda que seja difícil não pensar em serviços como o Easy Taxi ao falar da Loggi, Fabien ressalta que sua plataforma trabalha de uma forma completamente diferente. “O que o aplicativo de táxi faz? Ele tenta trazer o taxista mais próximo de você para te levar do ponto A ao ponto B, e, no momento em que ele chega, o papel do app já terminou”, explica.
“A entrega de bens é algo mais complexo, nunca é simplesmente especificar o ponto A e o ponto B. Você precisa dar instruções muito precisas para facilitar o encontro entre o mensageiro e a pessoa que recebe o pacote”. Através do Loggi, o contratante consegue acompanhar toda a movimentação do entregador, ter uma precificação mais clara (e, na maioria das vezes, mais barata) e ainda ter uma variedade maior de formas de pagamento.
Vale observar que não são só as empresas que usufruem do serviço: pessoas físicas também têm a chance de aproveitar as facilidades da plataforma. Qualquer internauta pode baixar os aplicativos e começar a fazer entregas (ou retiradas) expressas. “A pessoa física é importante para nós e inclusive costuma ser um influenciador dentro da empresa para a qual ele atua, levando a Loggi para dentro de seu ambiente de trabalho”, assume.
Estratégias e próximos passos
Atualmente, cerca de mil motofretistas fazem parte do “exército” da Loggi, atendendo toda a região de São Paulo e ABC. “Atendemos bancos, escritórios de advocacia, agências de propaganda e outras empresas que usam a Loggi para entrega de documentos. Além disso, cada vez mais trabalhamos com e-commerces, lojas virtuais que utilizam a nossa plataforma para entregar um produto no mesmo dia em que ele foi comprado”, explica o empreendedor.
Fabien afirma que a empresa procura fazer com que todos os motoboys estejam sempre satisfeitos de trabalhar ali, e, por isso, tenta nivelar ao máximo a quantidade de parceiros para que haja uma boa oferta de trabalho para todos. Já a parte técnica da plataforma é gerenciada por dez engenheiros – uma equipe grande em comparação com outras startups de idade semelhante.
Em relação à sua recente aposta no mercado de bike couriers (entregadores que utilizam bicicletas), o executivo afirma que não pretende investir muito mais nesse setor. “Percebemos que a entrega por ciclistas acaba sendo menos eficiente, mais lenta e mais cara. Além de ser mais difícil de regular, o homem de bike vai conseguir fazer 7 ou 8 entregas por dia, até cansar, enquanto um motoboy pode fazer 35”, explica. “O custo-benefício acaba sendo bem menor”.
Além disso, a Loggi pretende expandir sua área de atuação ainda neste ano, começando a atender cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, onde a demanda por esse tipo de serviço também é grande. Naturalmente, para isso, ela precisará enfrentar a concorrência – outras companhias semelhantes, como a 99motos, já estão fazendo suas movimentações para lutar por uma fatia do mercado.
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