Uma notícia movimentou o mercado financeiro na noite de ontem (8) ainda como rumor, mas a confirmação prévia veio na manhã de hoje. Em um negócio de US$ 3,2 bilhões, a Apple está comprando a empresa Beats, companhia de apenas seis anos, mas que se tornou popular com os seus fones de ouvido.
Mais do que apenas a compra de mais uma companhia – a Apple adquiriu nada menos do que 24 empresas nos últimos 18 meses –, a aquisição da Beats marca um ponto estratégico nos planos da empresa no que diz respeito ao comércio de música digital.
Mesmo para uma companhia lucrativa como a Apple, o valor de investimento é alto e representa a maior aquisição da história da empresa. De quebra, um dos fundadores da Beats, o músico Dr. Dre, pode se orgulhar de ser o mais novo membro do “clube dos bilionários”, e talvez o primeiro integrante do hip-hop a conseguir essa conquista.
1) Fones de ouvido se tornaram símbolo de status
Lançado no início da década passada, o iPod se tornou uma verdadeira marca registrada da Apple e sinônimo de música no formato digital. Quem via alguém andando pela rua usando os fones de ouvido brancos da empresa logo sabia que aquele era um usuário de um produto da Apple. O culto ao “status” e à ideia de se ter um produto exclusivo sempre esteve presente no DNA da Apple.
Le Bron James, astro da NBA (à esq.), ao lado de Dr. Dre
De certa forma, a Beats Audio acabou se tornando a “Apple” entre as fabricantes de fones de ouvido. Com apenas seis anos de vida, a companhia fundada pelo produtor musical Jimmy Iovine e pelo músico Dr. Dre é responsável hoje por 59% do mercado de fones de ouvido, à frente de companhias como Sony, Philips, Sennheiser, Grado, Shure e Klipsch.
Embora comprovadamente os fones da Beats não sejam os melhores do mercado no quesito técnico, na prática itens como design e conceito de uso fizeram com que os valores finais do produto se situassem entre os mais altos, praticamente se tornando uma referência em termos de preço. Atletas famosos, músicos, artistas e personalidades são constantemente “flagradas” usando um fone de ouvido da Beats – o que contribuiu muito para que a marca ganhasse uma legião de fãs.
2) Muito mais do que o lucro de revenda
Se você entrar em uma loja da Apple hoje, em qualquer lugar do mundo, verá que certamente entre os produtos vendidos você encontrará os modelos de fones de ouvido da Beats. E mais: os fones estão entre os produtos mais vendidos das lojas. Sobre as vendas, a Apple recebe um percentual e, no final das contas, todo mundo sai ganhando.
Com a compra da Beats, os lucros da Apple sobre essas vendas passam a ir além do percentual de revenda. É hora também de abocanhar o percentual de lucro sobre a fabricação do produto. Para você ter uma ideia, o custo de produção de um fone de ouvido que é vendido por US$ 200, por exemplo, fica em torno de US$ 14. Imagine que o dobro desse valor seja investido em pesquisas de design e marketing. Ainda assim, no final das contas, é bem provável que dos US$ 200 de um modelo mais simples, ao menos 70% possa resultar em lucro.
3) Assumindo a liderança de outro mercado
Até a chegada da Beats, o mercado de fones de ouvido sempre foi bastante fragmentado. As marcas cujos produtos considerados tecnicamente melhores, pouco investem em marketing no sentido de atingir em cheio o consumidor final. Além disso, fones muitas vezes inferiores, mas fabricados por empresas mais conhecidas, acabam ganhando a preferência dos clientes pelo simples fato de que eles “já conhecem a marca”.
A Beats, de certa forma, foi uma das pioneiras a se posicionar como uma empresa que oferece fones diferenciados, com foco muito mais no conforto e no design. Embora o produto final seja de boa qualidade, não é exatamente isso que acaba pesando na escolha final do consumidor. Ver atletas, artistas e, principalmente, músicos usando os fones de ouvido era a confirmação que muitos consumidores esperavam.
Assim, em apenas seis anos de vida, a companhia saiu de uma participação inexistente no mercado para impressionantes 59% de participação. Isso significa que a cada 100 fones de ouvido vendidos no mundo, 59 são da Beats. E boa parte deles acabam sendo vendidos dentro de uma loja da Apple.
4) Beats Music: a salvação do iTunes
Embora o iTunes ainda seja referência quando o assunto é a compra de música digital, o formato de venda direta de faixas e álbuns inteiros para o consumidor final já demonstra sinais de cansaço. A venda individual de músicas apresentou uma queda de 12% no ano passado, segundo dados publicados pela Nielsen SoundScan.
Em contrapartida, serviços como o Spotify, Pandora, Deezer e Beats Music, cujo formato de negócio prevê o acesso ilimitado às músicas disponíveis mediante o pagamento de uma assinatura mensal têm apresentado um crescimento cada vez maior. Dessa forma, ser dona do Beats Music pode se tornar um diferencial competitivo para a Apple.
A empresa da Maçã conta hoje com mais de 800 milhões de clientes cadastrados em sua loja de aplicativos. Se parte deles migrar para um serviço como o Beats Music, o resultado deve ser o suficiente para colocar também a Apple na liderança do mercado de streaming de áudio. Em resumo: ao menos nesse quesito, a Beats pode ser estratégica para a empresa de Cupertino.
5) Spotify é o concorrente a ser batido
Se um concorrente hoje capaz de incomodar o iTunes ele atende pelo nome de Spotify. O serviço tem investido pesado em marketing e expansão e só no ano passado saltou de 17 para 32 países de atuação. Ao menos por enquanto, o Spotify não é tão lucrativo, mas o formato de comercialização tem se mostrado cada vez mais sólido.
Junte a isso o fato de que um usuário do Spotify pode migrar a qualquer momento tanto para o Android quanto para o Windows Phone, sem que tenha algum prejuízo nesse sentido. Para a Apple, certamente isso não é nada interessante. Vale lembrar que foram justamente o iTunes e os serviços de música digital os grandes responsáveis por reerguerem a Apple na década passada, de forma que se manter à frente neste mercado é visto como peça fundamental para a empresa.
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