A Apple não é mais a mesma. Depois de muitos anos de crescimento contínuo, o ano de 2012 marcou os primeiros insucessos da empresa, situação que se agravou nos últimos três meses. Entretanto, usar a palavra “crise” para descrever o atual momento da Apple é um exagero.
Afinal, mesmo com uma queda de quase 20% no seu valor, a empresa ainda é a líder de mercado em seu segmento e pode ser considerada a companhia mais valiosa do mundo. Fazendo uma comparação mais simplória, é como se um time de futebol abrisse uma vantagem de 30 pontos no Campeonato Brasileiro e, de repente, visse essa vantagem cair para cinco pontos. É um sinal de alerta, sem dúvida, mas a crise mesmo ainda não chegou.
Mas qual é a explicação para o desempenho ruim nos últimos meses? Estaria a Apple sentindo falta de Steve Jobs, o mercado mudou ou essa é uma consequência natural para uma empresa que chega a um ponto tão alto no ranking corporativo? Entenda melhor o conjunto de motivos que levou a companhia a ligar o sinal amarelo e rever alguns dos seus conceitos.
Quanto mais alto, maior o tombo
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As ações da companhia chegaram a atingir o valor de US$ 705 cada, um recorde absoluto. Seja qual for a empresa, é muito difícil sustentar um número tão alto assim a menos que exista a promessa de algo muito grande por vir, o que não é o caso da Apple, uma vez que não se vislumbra nenhuma inovação revolucionária para os próximos dois anos.
Sendo assim, a queda de valor acaba sendo um movimento natural, uma vez que o valor anterior poderia ser considerado uma “bolha”. Assim, é possível afirmar que agora as coisas voltaram ao “normal”, atingindo um patamar mais realista de mercado - o que não significa que a empresa não precise ligar o sinal de alerta.
O aplicativo Mapas e o Siri
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A iniciativa de lançar um aplicativo próprio de mapas para concorrer com a Google é louvável. Entretanto, lançar um aplicativo tão ruim e tão abaixo da qualidade do concorrente certamente não foi a melhor das escolhas. Para piorar, a Apple tirou o acesso nativo ao Google Maps, tornando um dos softwares mais importantes do seu produto defasado em relação aos concorrentes.
O Siri, grande aposta dos modelos anteriores do iPhone, também não é mais um diferencial. Embora a ferramenta tenha apresentado melhorias, o Google Now se mostrou mais completo, ainda que em fase inicial, praticamente “matando” um dos diferenciais mais interessantes do smartphone da Apple.
iPhone: a dificuldade em atender a demanda
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O sucesso e a melhoria contínua têm um alto preço. Por conta disso, atender a demanda de produtos está cada vez mais difícil para os fabricantes. A Foxconn, por exemplo, alegou que o processo de criação de um iPhone 5 ficou mais trabalhoso e oneroso. Em contrapartida, o volume de produtos necessários continua subindo.
A impossibilidade de atender a demanda fez com que a Apple “pisasse no freio” e diminuísse o número de países que receberam a oferta inicial de produtos. Ou seja, está cada vez mais difícil vender uma quantidade tão grande de smartphones de uma só vez – o que pode custar caro para a empresa.
iPad Mini: o canibal
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Steve Jobs não queria lançar uma versão do iPad com tela menor. Entretanto, a chegada de concorrentes com preços mais baixos – e com qualidade – como o Nexus, da Google, e o Kindle, da Amazon, obrigou a Apple a tomar uma medida protecionista: lançar um produto para bater de frente diretamente com os dois.
Apesar disso, o preço do iPad Mini ainda é maior. Baixar o preço aumentaria as vendas, mas diminuiria a margem de lucro. Ou seja, seria preciso vender mais produtos para ganhar a mesma quantia. Vender uma quantia maior pode significar mais problemas para atender a demanda. Ou seja, não há muita escolha. Tendo concorrência no mercado, a Apple precisará rever a sua estratégia, caso contrário começará a perder mercado.
Processos e mais processos
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Não é a perda de dinheiro com processos que fará a Apple quebrar. Mesmo que ela ganhe indenizações polpudas, como no caso da disputa judicial com a Samsung, não são esses bilhões a mais ou a menos que farão diferença. O grande problema para a empresa é a sua imagem, que, ganhando ou perdendo, sai arranhada ao enfrentar um processo judicial.
Os gastos com processos também influenciam, assim como todo o investimento no registro das patentes mais simples que possam existir. O grande segredo nesse quesito é saber encontrar um limite de bom senso, algo que, ao menos sob o comando de Tim Cook, parece ter sido extrapolado um pouco.
Os erros de Tim Cook
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Substituir Steve Jobs não é uma tarefa fácil para um CEO e não se pode dizer que Tim Cook esteja indo mal. Entretanto, dois erros pontuais seus, segundo os especialistas, podem ter impacto nesse número ou ainda gerar resultados negativos para a empresa em longo prazo. A contratação de John Browett para cuidar das Apple Stores foi vista com desconfiança pelo mercado, em especial pela sua falta de experiência.
Outra “dança das cadeiras” que deixou os investidores desconfiados foi a aposentadoria de Bob Mansfield, um dos gerentes da Apple. Ele deixou seu posto em junho, mas em agosto aceitou voltar a trabalhar mediante contrato à parte. Contudo, no mês de outubro, ele foi promovido e designado para cuidar de “novas tecnologias”. Essa série de incertezas colaborou para aumentar a desconfiança.
A eleição nos EUA
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Esse é o menor dos problemas, mas ao menos nesse período pôde representar também uma parcela de culpa. Nos últimos três meses, os Estados Unidos passaram pelo processo eleitoral – que resultou na reeleição do presidente Barack Obama. Como em qualquer país, a época de eleição sempre gera algumas incertezas no mercado.
A dúvida com relação a quem vai ganhar e se haverá novas políticas econômicas em jogo faz com que muitas empresas retraiam os seus investimentos e aguardem o resultado para anunciar as suas decisões. A Apple não foi a única cair, mas pode ter sido afetada pelo momento da economia.
E agora, Apple?
A crise ainda não chegou - e está longe de isso acontecer. Entretanto, isso não significa que a empresa possa continuar com a mesma estratégia sem que, em um futuro próximo, tenha um impacto negativo em seus resultados. A solução, mais uma vez, é inovar, pensamento que era recorrente na companhia sob o comando de Steve Jobs.
Com Tim Cook, a Apple parece enfrentar uma "crise" de inovação, apostando muito mais na manutenção e na atualização de tudo aquilo que conquistou, do que em se reinventar ou criar coisas novas. A médio prazo a estratégia deve funcionar, afinal não se perde uma liderança tão sólida da noite para o dia. Contudo, não podemos afirmar que daqui dois ou três anos a empresa ainda estará em primeiro lugar. Estaria nascendo uma nova era?
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