Privacidade: a palavra-chave do Machine Learning da Apple

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Na última segunda-feira (5), a Apple realizou a sua conferência anual de desenvolvimento e anunciou várias novidades bem legais para os seus sistemas operacionais. E, em vários momentos do evento, os executivos da companhia de Cupertino falaram sobre “inteligência artificial”, “privacidade”, “Machine Learning” e “sincronizações nas nuvens”.

Esses termos soltos não dizem muito mais do que vimos em diversas outras conferências de desenvolvimento ao longo dos últimos anos. Porém, analisando o contexto geral das revelações, é preciso admitir que a Apple está dando um passo certeiro em direção ao que se espera de uma empresa desse porte — nota do editor: digo isso como um usuário fixo de Windows e Android.

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Não é de hoje que nos preocupamos com nossa privacidade na internet. Apesar de isso não ser exatamente novo, nos últimos anos cresceu bastante o volume de usuários que procura formas de esconder os seus dados de navegação e tantos outros. Ao mesmo tempo, também temos visto cada vez mais ferramentas conectadas, informações sendo coletadas e serviços em nuvens ganhando espaço.

Logo: parece ficar mais difícil se esconder dos grandes servidores... E é justamente por isso que a Apple e seus anúncios desta semana ganharam tanto destaque — e, se o mercado responder bem, é bem possível que outras companhias façam o mesmo.

A Siri está me ouvindo?

Alguns dos principais assistentes pessoais da atualidade possuem um recurso que parece bem interessante à primeira vista: o “sempre ouvindo”. Com isso, é possível fazer pedidos com muita facilidade, já que o sistema está sempre pronto para executar as ordens que o usuário enviar.

Isso é visto no Google Now e também na Alexa da Amazon — o que já causou polêmica. Apesar de isso parecer inofensivo, há relatos de que podem existir comunicações externas com os servidores, mesmo quando não estão sendo executadas atividades ordenadas pelo consumidor. Mesmo assim, o serviço só começa a responder efetivamente após ouvir algumas palavras-chave: “OK, Google”, por exemplo.

Com a Siri remodelada no iOS 11, o processo é bem similar. O microfone dos aparelhos está sempre ativado — até porque, de outro modo, o “hey Siri” não surtiria qualquer efeito. Mas a Apple garante que não existe qualquer comunicação entre os aparelhos e os servidores do iCloud até que seja feita a ordem do usuário.

Mais do que isso, a Apple revelou que está usando os dados de pesquisa dos consumidores para o “Machine Learning” da Siri. Ou seja: a companhia está fazendo com que o uso da ferramenta dê insumos para que a própria Siri melhore os seus resultados e a qualidade na interação.

A Apple garante que não existe nenhuma comunicação entre os aparelhos e os servidores do iCloud até que seja feita a ordem do usuário

E como isso é bom para a sua privacidade? Bem... Para começar, isso não está sendo feito em segredo. Mas a parte que realmente importa está na revelação de que todos os dados de busca da Siri chegam criptografados (end-to-end) e com ID anônima nos “servidores de aprendizado” da empresa.  Ou seja: dados protegidos e sem impressão digital.

Também no HomePod

Na mesma WWDC, a Apple também revelou o seu novo speaker doméstico para trazer um novo modo de reprodução de som e interagir com a Siri: o HomePod — confira mais detalhes aqui. O aparelho é equipado com microfones internos para reconhecer o espaço em que estão instalados e fazer uma reprodução sonora com “consciência espacial”.

E, assim como tudo o que foi revelado anteriormente, o HomePod só ativa suas funções de assistente pessoal quando é ordenado o “Hey Siri”. Mais do que isso, também existe o anonimato nas interpretações e envio de dados ao iCloud, com criptografia de ponta a ponta nessas comunicações, e ainda faz reconhecimento local de voz — sem a necessidade de conexão com a nuvem para isso.

Core ML: o início da nova era?

Apesar de a Siri ser uma aliada importante da Apple há alguns anos, a companhia nunca demonstrou ser uma grande entusiasta da Inteligência Artificial ou do aprendizado de máquina. Porém, nesta conferência de junho, essa história começou a mudar — assim como boa parte dos analistas de mercado já imaginavam.

O grande destaque disso fica com a revelação do Core ML, um framework de programação criado para fazer com que os desenvolvedores consigam criar ferramentas que utilizam Machine Learning nos iPhones e iPads. De acordo com a própria Apple, o Core ML deve permitir carregar modelos de aprendizado nos apps, gerar de relatórios e insights e processar dados locais de modo privativo.

Com isso, os apps podem realizar suas ações sem a necessidade de conexão com a nuvem, interpretando melhor o funcionamento de cada aparelho para fazer com que ainda sejam reduzidos os consumos de memória e bateria nos dispositivos. Como o VentureBeat destaca: “há benefícios de privacidade, uma vez que os dados não precisam sair do device para trazer os benefícios da inteligência artificial” — algo similar ao TensorFlow da Google.

Todo o processo de aprendizado de máquina é feito internamente nos devices, evitando o consumo de dados e protegendo os pacotes de interferências ou interceptações

Dessa forma, a Apple está permitindo que os desenvolvedores criem ferramentas cada vez mais inteligentes — tudo isso com a facilidade do acesso aos modelos open source e com a troca de informações com conversores de modelos já existentes. Também há especulações de que a Apple estaria trabalhando em um novo chip dedicado às funções de Machine Learning para futuros aparelhos — e o Core ML pode ser vital para o sucesso dessa plataforma.

Não nos esqueçamos do Safari

Como mostramos ainda ontem, o navegador Safari também foi reforçado com várias funções de segurança e privacidade, também como Machine Learning. O principal está no “Intelligent Tracking Prevention”, que vai usar aprendizado de máquina para interpretar anúncios invasivos ou baseados em cookies de rastreio — tecnologia que faz “seu navegador ficar recheado de anúncios de tênis após você pesquisar um tênis”.

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Como você pode notar, a Apple está realmente batendo bastante na tecla da privacidade para os seus consumidores. A empresa deixa bem claro que todas as comunicações entre os dispositivos e servidores acontecem com criptografia total e que há anonimato na troca de dados — principalmente no que diz respeito ao Machine Learning.

Essa é uma lição interessante que a companhia pode estar dando para os seus concorrentes, mas é preciso saber como o mercado vai reagir a isso antes que tenhamos alguma esperança de que outras empresas vão seguir o mesmo caminho. Você acha que a Apple está fazendo boas escolhas ao assumir o lado do consumidor nessa batalha pela privacidade digital?

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