Se você é nosso leitor assíduo, certamente sabe o que a expressão “Android Puro” quer dizer. Mas, caso você não esteja ciente, trata-se do sistema operacional mobile da Google com sua interface intocada ou bem pouco modificada. A criadora do SO tem elaborado uma “interface-padrão” ao longo dos anos que deveria inspirar as fabricantes de aparelhos na hora de preparar o software para seus produtos. No entanto, poucas marcas realmente seguem de perto o que a gigante das Buscas considera ideal.
Existe algum benefício em ter o Android Puro no celular em vez de uma interface personalizada?
A Samsung é o mais tradicional exemplo de “ovelha desgarrada” da família, que faz tudo diferente. A interface dos celulares da empresa já chegou a ser tão distinta do Android Puro, que a companhia recebeu duras críticas por anos e vem pouco a pouco melhorando isso. Mesmo assim, entre as marcas presentes no Brasil, o Android da Samsung (ao lado do da LG e da Meizu) é consideravelmente diferente do “software limpo”.
Mas isso realmente importa? Existe algum benefício em ter o Android Puro no celular em vez de uma interface personalizada? Em uma pesquisa que nós realizamos no mês passado com 8.288 leitores do TecMundo, 90% das pessoas afirmaram que preferem o sistema operacional puro ou com poucos apps, que possam ser desinstalados. Apenas uma pequena minoria gosta das interfaces das fabricantes.
Agora entenda o porquê dessa preferência massiva em relação ao software sem alterações.
Visual
A parte visual do sistema é o aspecto mais marcante do Android Puro em comparação com as versões personalizadas pelas fabricantes para seus smartphones. Entre as marcas presentes no Brasil, apenas a Quantum e a Lenovo/Motorola vendem celulares com o software original. Ambas fazem algumas alterações para incluir funcionalidades extras, mas, em essência, dá para dizer que elas entregam o Android Puro sim.
Pelo mundo, existem várias outras empresas que vendem dispositivos com essas interfaces intocadas, mas a linha mais icônica que segue esse padrão é a Nexus, da própria Google. Ela agora foi finalizada, já que a empresa a substituiu pela nova família Pixel, que inclusive tem uma interface diferente, exclusiva para o Pixel e o Pixel XL.
Os últimos Nexus foram o Nexus 6P e o 5X, fabricados em parceira com a Huawei e com a LG. Mas essas empresas não se meteram com o software e deixaram o trabalho com a própria Google, como era tradicional nesta linha.
Com os Pixels, a Google agora é independente, mas vai continuar produzindo e entregando para suas parceiras o Android com a interface que vinha trazendo nos seus aparelhos Nexus, fazendo os Pixels seguirem uma outra direção. Portanto, é provável que Lenovo/Motorola e Quantum continuem lançando modelos com o software que conhecemos hoje.
Para descrever a interface do Android Puro, nós podemos usar a expressão “Material Design”, que é o nome dado pela Google para a sua linha de design para softwares e plataformas. A empresa vem trabalhando há anos em cima disso para o Android, e a ideia era deixar o visual agradável aos olhos, mas ao mesmo tempo neutro e simples. A empresa tentou imitar a textura do papel e usou cores sólidas para destacar itens.
Os movimentos e efeitos são todos bem lógicos. Olhando como os menus se movem quando você toca em algo, é possível saber de onde as coisas estão vindo e para onde estão indo. A Google destacou que isso ajuda a dar uma sensação de localização do sistema, evitando que o usuário se perca ao navegar em menus e em apps novos. No fim das contas, tudo tem que fazer sentido para que o usuário realmente não tenha dificuldades ao interagir com um app que ele nunca abriu no celular.
Muitos desenvolvedores têm feito apps que seguem essa linha para deixar seus softwares mais em par com o que é o Android atualmente
Muitos desenvolvedores têm feito apps que seguem essa linha para deixar seus softwares mais em par com o que é o Android atualmente. Por isso, se você tem um smartphone da Quantum ou da Lenovo/Motorola, é provável que os apps que você baixa da Play Store sempre combinem mais com seu SO.
A Sony, apesar de ter uma interface altamente personalizada, cria um visual que até segue os padrões do Material Design, mas a empresa faz isso com seu próprio estilo e não dá para dizer que ela entrega o Android Puro. A Samsung, por usa vez, tem uma abordagem bem diferente.
O visual da “TouchWiz”, como é conhecida a interface da coreana sobre o Android (que está virando Grace UX), tem um visual mais brilhoso, com elementos quadrados de cantos sempre arredondados e movimentos de transição diferentes. Não é uma aparência feia, mas apela para outro tipo de usuário.
Enquanto o Android Puro é mais sóbrio e direto, a TouchWiz/Grace UX é mais chamativa e cheia de efeitos para tentar impressionar o usuário. O software da Samsung também tem muito mais atalhos e recursos extras, uma tentativa da empresa de se diferenciar das demais fabricantes de aparelhos Android.
A LG segue mais ou menos a mesma linha, mas por uma direção diferente
Contudo, a coreana é normalmente criticada pelo fato de esse tipo de coisa aparecer em excesso e, no fim das contas, prejudicar a experiência do usuário. Esse é outro ponto em que a marca vem melhorando com o passar do tempo.
A LG segue mais ou menos a mesma linha, mas por uma direção diferente. O visual da interface dos dispositivos da empresa é ainda mais cheio de brilho e efeitos, mas a companhia se preocupa mais em “manter a lógica” do sistema. Os movimentos não são tão diferentes, e os botões de navegação no fundo da tela seguem o padrão do Android Puro (enquanto a Samsung tem seu próprio padrão). Mas a LG está dando sinais de distanciamento, com o lançamento de aparelhos intermediários com uma interface bem distinta. Se isso vai virar um padrão na marca, não sabemos.
Apps
Não é apenas o visual do sistema que muda do Android Puro para o personalizado pelas marcas. Cada empresa embarca apps extras considerados essenciais: email, música, visualizador de fotos, de câmera, agenda, anotações e por aí vai. Só que, ao mesmo tempo em que elas fazem esses apps por conta própria, são “obrigadas” a colocar o pacote de apps da Google em seus dispositivos. Isso quer dizer que você terá dois apps diferentes para músicas, para fotos, para email e tudo mais.
Isso gera um problema em smartphones com interface personalizada: menos espaço no armazenamento interno. Com essa duplicidade e a inclusão de outros apps não essenciais (como jogos, suítes office etc.), o usuário tem menos espaço para instalar apps que realmente queira em seu dispositivo. Isso é prejudicial especialmente em modelos de entrada, que possuem apenas 8 GB ou até mesmo 4 GB de memória interna.
Atualmente, é possível eliminar alguns dos apps extras instalados nos produtos com interfaces personalizadas, mas boa parte dos duplicados não podem ser removidos. As empresas que entregam a interface original do sistema normalmente não se interessam por essa prática e pegam mais leve nos apps repetidos.
Desempenho
A interface original do Android normalmente garante mais desempenho em comparação com o software personalizado. Isso era mais evidente há alguns anos, quando o hardware de smartphones básicos e intermediários ainda era pouco potente, mas está ficando menos notável ao longo dos anos. Ainda é possível perceber essa diferença em alguns aparelhos, mas ela ficou praticamente inexistente em tops de linha, que custam de R$ 2 mil a R$ 3 mil.
Quando isso é percebido — em modelos mais básicos —, o que mais chama atenção é o consumo de memória RAM. A interface do Android Puro é mais otimizada para economizar esse recurso e entregar bons gráficos sem comprometer a experiência em dispositivos simples. Com interfaces mais cheias de efeitos, elementos elaborados demais e muitos apps rodando em plano de fundo por padrão, o usuário pode enfrentar momentos de lentidão e travamentos inesperados, mesmo quando não está executando tarefas pesadas no smartphone.
Algumas fabricantes já contam com funções para limpar a RAM no gerenciador de apps recentes do Android, e isso tem ajudado e abrandar a situação. Modelos intermediários também já estão chegando ao mercado com mais memória, ajudando a eliminar o problema.
O desempenho do sistema com interface alterada tende a ficar ruim mais rápido
Outro fator negativo relacionado ao desempenho do Android personalizado é que ele “envelhece mais rápido”. O desempenho do sistema com interface alterada tende a ficar ruim mais rápido com o passar do tempo em relação ao Android Puro. Isso acontece porque as fabricantes raramente atualizam seus celulares intermediários e básicos com correções, melhorias e novas versões do sistema operacional.
Empresas que usam o Android Puro podem até demorar para fazer esse tipo de coisa, mas elas normalmente mantêm seus produtos atualizados, desconsiderando algumas exceções. Fora isso, os pacotes de segurança mensais da Google raramente chegam aos aparelhos básicos que possuem sistema personalizado, o que é preocupante.
Não é de todo mal?
Por conta do excesso de apps extras, do visual normalmente pouco interessante e do desempenho comprometido em sistemas altamente personalizados, muitos compradores de smartphones optam pelo Android Puro. Claro que o grande público não está ciente dessas diferenças, mas esse artigo foi criado justamente para tentar esclarecer a situação.
Com compradores mais exigentes em relação ao software, as fabricantes terão que trabalhar mais intensamente nisso e, mais cedo ou mais tarde, vão se aproximar da interface padrão do Android. Quem sabe, até poderão deixar de fazer as personalizações desnecessárias.
Mas vale destacar que essas alterações nem sempre são de todo mal
Mas vale destacar que essas alterações nem sempre são de todo mal. Muitos recursos introduzidos pela TouchWiz da Samsung, por exemplo, foram implementados posteriormente no Android Puro. A possibilidade de trabalhar com a tela dividida é uma prova disso. A Google ainda começou a permitir a personalização dos atalhos da área de notificações depois de ver o impacto positivo disso em interfaces customizadas.
Portanto, ao passo que o Android Puro pode ser considerado melhor para o usuário por uma série de razões, ele é influenciado pelo que as fabricantes fazem nas suas próprias versões do sistema. Um precisa do outro e, dessa forma, você consegue usar um SO cada vez melhor.
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