A fotografia, muitas vezes, deve deixar de mostrar apenas o que nós já vemos todos os dias com os olhos, para nos apresentar numa visão exclusiva do que a lente pode enxergar. É o caso da fotografia de silhuetas, que pode ir muito além do que nós conseguimos ver normalmente, mostrando um mundo de formas e contornos, cheio de mistério e diferentes emoções.
Ao fotografar a silhueta de um objeto (ou pessoa), quase não existem cores, nem texturas, e há pouca noção de profundidade. Tudo que o fotógrafo precisa, além da câmera, é de um contorno bem definido (uma forma bem conhecida ou inusitada), muita luz e um software de edição para pequenos ajustes de exposição e contraste.
Descubra a beleza das sombras e contrastes (Fonte da imagem: Ana Nemes)
Entendendo o poder das formas
Quer aprender a fotografar contornos? Primeiro, é preciso entender corretamente o que esse tipo de imagem pode representar. Uma fotografia assim é muito mais artística do que de registro. Isto é, você fotografa uma silhueta para passar mais sentimento, do que informação concreta, já que ela não irá mostrar muito do objeto fotografado.
Silhuetas podem trazer mistério, já que não se sabe quem, ou o que, está sendo fotografado. Elas podem também indicar drama, tristeza, felicidade, e muitos outros sentimentos, dependendo da intenção e do enquadramento. Esse tipo de recurso “força” um ponto de vista, quase não dando margem para outras distrações do ambiente, e por isso pode ser uma boa alternativa para criar um clima mais íntimo, pessoal.
Fotografar mulheres grávidas desta forma é uma ótima alternativa (Fonte da imagem: Stefan Pasch)
Pegue a sua câmera! Agora você já sabe um pouco mais sobre o que a fotografia de silhuetas pode passar, então é hora de aprender a registrar esse tipo de imagem. Não existem muitos segredos, mas alguns truques simples deixam tudo muito mais fácil, para que você não precise passar horas tentando até conseguir um bom resultado.
Escolha um objeto com formas definidas
Não adianta fotografar uma silhueta confusa, é preciso escolher um objeto com o contorno bem marcado e reconhecível. Não é preciso que as pessoas saibam exatamente o que é aquilo, mas que elas entendam a ideia que você quer passar.
Por exemplo, a imagem a seguir, tirada utilizando um celular, pode conter bastante mistério sobre o objeto fotografado e as circunstâncias do momento do disparo, porém a ideia de suspense é passada, e é isso o que realmente importa. Lembre-se, você precisa passar mais sentimentos do que informações concretas.
Nem tudo pode ser “reduzido” a uma silhueta, então faça muitos testes para saber o que pode ser fotografado ou não. Tente enxergar mais os contornos externos dos objetos, e menos os detalhes internos.
Ajuste as luzes
Dois fatores entram neste tópico: o flash e a iluminação. É muito importante que você entenda o princípio das fotos de silhuetas, para saber adaptar isso para praticamente qualquer situação, com luzes naturais e artificiais.
Única regra: desligue o flash! Existem poucas regras na fotografia, já que cada pessoa deve ser livre para criar da maneira que achar melhor, porém se você quer conseguir uma foto de um contorno, precisa abrir mão do uso do flash. Isso por que, neste caso, todo o conceito de iluminação está invertido, literalmente.
O pôr do sol é uma ótima fonte de luz para esta técnica (Fonte da imagem: Damian Overton)
Enquanto na fotografia tradicional, a iluminação é frontal, toda a luz em uma foto de um contorno precisa vir do fundo. Você já deve ter passado por algo semelhante: Vai tirar foto de alguém, e o fundo fica claro, e a pessoa, escura. Nesses casos, você inverte as posições, e a luz passa a iluminar a pessoa.
Isso acontece, pois a máquina não consegue compensar iluminação como os nossos olhos o fazem. Quando nós olhamos algo em contraluz, na maior parte dos casos conseguimos lidar relativamente bem com isso, e enxergar o objeto corretamente.
Já a câmera, não consegue isso. Quando ela “lê” uma enorme quantidade de luz vinda da parte de trás do objeto, ela é incapaz de compensar a iluminação, para diminuir o brilho de uma região e aumentar da outra. Deste modo, para criar uma silhueta, basta iluminar o objeto de trás para frente!
A fonte de iluminação pode variar: uma janela aberta, uma parede iluminada, o pôr do sol etc... O truque é que você esteja em um local menos iluminado, e a pessoa (ou objeto), sendo iluminada de trás para frente.
Posicione o objeto
Escolha ângulos que valorizem os detalhes. (Fonte da imagem: Flickr/Justin Lucarelli)
Assim como é importante escolher um objeto com um contorno bem definido, é igualmente importante sabe posicioná-lo corretamente, decidir o melhor ângulo, para valorizar a sua forma. Por exemplo, se você for fotografar o rosto de uma pessoa, é interessante registrá-la de perfil, já que, desta forma, detalhes como os olhos e a boca são visíveis.
É importante também que as formas não fiquem “coladas” e se tornem um amontoado de contornos sem sentido. Por exemplo, para fotografar casais, procure não aproximar os pombinhos, pois as suas formas se confundiriam. Neste caso, a imagem deles de mãos dadas - ou de um beijo de perfil - funciona muito melhor!
Casais se beijando são melhores registrados de perfil (Fonte da imagem: Makena Zayle Gadient)
Na fotografia de silhuetas praticamente não existe profundidade de campo e quase tudo o que aparecer na foto vai dar a impressão de estar à mesma distância do fotógrafo. Deste modo, a dica é sempre deixar os objetos - ou pessoas - separados entre si, para que suas formas não se confundam.
Controle a câmera
É possível fotografar silhuetas usando tanto o modo manual da câmera quando o automático, a escolha é toda do fotógrafo e os ajustes são bem simples. Primeiramente, escolha um ISO baixo, já que você não precisa deixar a sua foto clara demais, e valores altos de ISO podem comprometer a qualidade do disparo. Não deixe de pensar também do foco. Se você quer o contorno do objeto bem marcado, não esqueça de focá-lo!
Modo manual
Usando o modo manual da câmera, você precisa pensar em dois fatores, além do ISO: velocidade e abertura. Ajuste um valor médio para o obturador, dependendo da quantidade de luz que está disponível. Valores muito altos (obturador mais fechado) vão deixar tudo muito escuro, e valores baixos demais deixam a fotografia superexposta (branco estourado).
A velocidade de disparo é um fator decisivo, e você pode ajustá-la sempre um pouco mais rápida do que o seu fotômetro pede, pois vai ser suficiente para capturar as partes claras e deixar a sombra bem marcada. Se sua câmera possui ajuste de compensação de exposição, você pode escolher um valor abaixo de zero (aproximadamente -2, dependendo do caso) para ajudar a compor as sombras.
Fotografe animais usando essa técnica (Fonte da imagem: Kol Tregaskes
Modo automático
O “problema” de fotografar no modo automático é que as câmeras mais novas possuem sistemas de compensação de iluminação muito melhores do que antigamente. Isso é ótimo, mas nesse momento o que você precisa é de um contraste. Como conseguir isso? Simples, basta enganar a câmera!
Assim como o foco, a medição de luz acontece quando o obturador é disparador pela metade. Para enganar a câmera, aponte a lente para a parte mais clara e aperte o disparador até que a fotometria seja realizada. Sem tirar o dedo do botão, volte a lente para o enquadramento original e finalize o registro!
Faça ajustes posteriores
Não é pecado nenhum editar a sua fotografia no Photoshop, ou outro editor de imagens que você utilize. Na verdade, a maior parte dos fotógrafos faz isso, para deixar a foto com aquele ar de imagem de revista.
Se a sua foto ficou ótima, mas a sombra não ficou escura o suficiente, existe salvação! Vá até os controles de exposição e iluminação do seu editor e aumente um pouco (não exagere!) o contraste. Se você souber mexer com níveis, pode controlar melhor os tons claros e escuros, para destacar ainda mais os contornos.
Não tenha medo de inovar
Use filtros, brinque com o foco, faça o que a sua criatividade permitir! (Fonte da imagem: Gabe Lopez)
Pode parecer que a fotografia de silhuetas é muito limitada, mas isso não é verdade. Nós ensinamos aqui apenas os princípios básicos, os quais você pode usar para inovar e criar imagens únicas e criativas. Utilize, por exemplo, tecidos entre o objeto e o fotógrafo, para criar um visual diferente e misterioso. Você pode desfocar os objetos, utilizar luzes coloridas etc... Não tenha medo de criar!
Gostou deste artigo? O Tecmundo tem artigos semanais de fotografia, fique de olho e não perca a chance de aprender um pouco mais sobre essa arte. Você vai perceber que tirar boas fotografias é muito mais fácil do que parece, basta começar a treinar!
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