Alguns dos maiores impérios da humanidade não sobreviveram através da História porque cometeram erros mortais para a civilização, consolidada após anos de desenvolvimento e conquistas. Os problemas sociais e as crises políticas aos poucos destruíram a poderosa Roma, enquanto Napoleão viu quase um continente inteiro escapar de suas mãos por estratégias mal-executadas.
Esse tipo de situação pode ser aplicado também às empresas de tecnologia. Tente imaginar o problema: depois de décadas de lançamentos no mercado, conquista de público e novas descobertas na área, algumas decisões mal tomadas ou produtos de baixa qualidade podem derrubar toda a estrutura que garantia o sucesso em vendas e crítica.
Impérios virtuais como Microsoft, Apple e Google não estão no topo por acaso: mesmo cometendo algumas bolas fora de vez em quando, todas conseguiram contornar os deslizes, mantendo-se vivas com acertos que se sobrepõem às mancadas.
Avalanche de maçãs
Atualmente, a Apple é incontestável no mercado de eletrônicos. Um dos motivos é que seus acertos não estão concentrados apenas em uma área, mas se situam em vários blocos, desde os computadores Mac até aparelhos portáteis como o iPhone o iPad.
Mesmo assim, a estabilidade da empresa de Steve Jobs com relação às finanças e críticas recebidas é recente. Nas décadas de 1980 e 1990, a Apple ficou marcada por diversos lançamentos equivocados, acumulando problemas que ultrapassam apenas a falta de lucros, gerando uma lista imensa de produtos que pararam de ser fabricados não por terem sido superados, mas por apresentarem falhas em excesso.
Imediatamente após o lançamento de um grande produto, outras apostas eram feitas e não chegavam perto dos números do seu antecessor. Alguns casos mais graves nem sequer saíram da fase de testes, por exemplo. Imagine a situação: a empresa mobilizava dezenas de funcionários, milhões de dólares e anos de desenvolvimento para jogar tudo fora logo em seguida.
(Fonte da imagem: Wikimedia Commons / Roberta F)
Foi o caso do Macintosh Office, que deveria incluir três itens essenciais para o trabalho em um escritório: uma rede de área local, outra de servidor de arquivos e uma impressora a laser, tudo novidade na época. Só a impressora conseguiu vingar, enquanto os demais apresentaram problemas, como requisitos muito altos para rodar, sendo logo descartados ou pouco vendidos.
Outro desastre clássico é o Apple III. Lançado para pegar a onda de vendas da versão anterior, o eletrônico apresentou uma infinidade de problemas, desde a falta de softwares disponíveis até um superaquecimento que poderia comprometer todo o aparelho. A empresa foi obrigada a realizar um recall de 14 mil computadores e até devolver algumas unidades de graça.
Um pouco mais famoso, o Lisa também é uma mancha na memória da companhia. Suas configurações eram avançadas para a época e o projeto tinha tudo para ser um sucesso. O que pesou foi seu preço: 10 mil dólares por unidade, ocasionando vendas baixas e um estoque de sobra, que, segundo uma biografia não oficial da empresa, foi enterrado no Estado norte-americano de Utah.
O próprio Macintosh, primeiro grande hit da Apple, quase teve destino semelhante: o aumento em 1 mil dólares no preço fez com que as vendas ficassem extremamente abaixo da média estipulada por Steve Jobs. O motivo para ter que pagar quase US$ 2,5 mil num Macintosh? A companhia precisava recuperar o dinheiro gasto na extensa campanha publicitária do produto.
Outro caso conhecido é o Apple Newton, que possuía funções de agenda eletrônica e tela sensível a toque. Lembrou-se de alguma coisa? Precursor dos tablets, o Newton demandou gastos altíssimos de tempo (11 anos), dinheiro (100 milhões de dólares) e funcionários (um setor inteiro da empresa), mas mal saiu do lugar. Os poucos modelos lançados com essa plataforma foram um fiasco em vendas, pois não interessaram o público na época.
Uma tela azul no meio do caminho
A Microsoft conquistou, ao longo dos anos, uma fama de que seus produtos são alvos constantes de falhas. Injustiça ou não, motivos não faltam: até mesmo em apresentações oficiais as telas indicando problemas no sistema já surgiram, para constrangimento geral dos presentes e dos membros da empresa. Um exemplo é uma apresentação do Windows 98, na qual o próprio Bill Gates estava presente para acompanhar a mancada.
Outro aspecto que ficará marcado é o Windows Vista que, lançado às pressas e sem todas as correções necessárias, apresentava em seu início inúmeros erros de segurança e compatibilidade. Desse modo, muita gente permaneceu com o Windows XP por mais tempo do que o esperado – ou migrou diretamente para o Windows 7, lançamento seguinte da Microsoft.
Já a tela azul da morte, que assombra até hoje os usuários de Windows, é o principal medo de quem foi sempre fiel aos sistemas operacionais da Microsoft. Se removê-la não é possível, ao menos deixá-la mais amigável e menos constante poderia amenizar o problema.
(Fonte da imagem: Wikimedia Commons)
Além disso, o navegador Internet Explorer foi acostumado a ter o monopólio na área, mas perdeu mercado para os fortes concorrentes que surgiram, como o Firefox, o Chrome e o Opera.
Por fim, há também a insistência da Microsoft em apostar apenas em sistemas operacionais. Felizmente, isso é algo que finalmente acabou nos últimos anos, devido à entrada da companhia no mercado de consoles e de celulares.
Nem a Google acerta todas
Apesar de ter despontado há pouco tempo (se comparada com as empresas citadas anteriormente), a poderosa Google também já escorregou em algumas apostas de mercado bem recentes.
À primeira vista, ela parece acertar em cheio cada lançamento. Foi assim com o Docs, o sistema de buscas, o Maps, o Chrome e o Android. Dois serviços, entretanto, não caíram no gosto do público, por mais revolucionários que pudessem parecer: o Google Wave e o Google Buzz.
O Google Wave era considerado o sucessor do email, pois prometia levar a comunicação entre usuários a outro nível. Críticas e pouco público o desligaram definitivamente um ano depois do lançamento.
Já o Google Buzz é igualmente ambicioso e também passa pelo problema do desuso, mas ainda respira. A tentativa de rede social que se integra com outros serviços da empresa passa por uma instabilidade que já não deve mais se inverter.
Cair e levantar
Apesar de todas as bolas fora que foram citadas, você encontra produtos da Apple, Microsoft e Google em todos os lugares. Para superar uma derrota e continuar brigando pelo topo do mercado, o que valeu para elas foi o velho clichê de nunca desistir.
Foi através dessa persistência em continuar apostando que as companhias conseguiram inovar, seja com novas criações ou através da melhoria de tecnologias que deram errado da primeira vez. O Windows Vista, por exemplo, foi revisto para dar lugar ao Windows 7, enquanto o Apple Newton indiretamente inspirou, décadas depois, o iPad.
Além disso, um erro acaba incentivando a criatividade dos desenvolvedores que, para evitar outro fracasso, dedicam-se ainda mais na criação do próximo produto.
Desse modo, tudo o que podemos fazer é agradecer essas companhias por não desistirem. Afinal, se a força dessas grandes empresas tivesse se perdido com o tempo, com certeza deixaríamos de aproveitar alguns dos grandes inventos da atualidade.
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