Se você acompanha notícias sobre tecnologia, já deve ter percebido que a velocidade com a qual novas são descobertas aumentou bastante nos últimos anos, principalmente ao compararmos as tecnologias existentes há 20 anos com as atuais.
Após muitos testes e pesquisas, os avanços tecnológicos alcançados saem dos laboratórios para entrar em nossas vidas: video games de última geração, carros potentes, computadores velozes e camas confortáveis são exemplos dos resultados obtidos.
Contudo, uma área de pesquisa que está ganhando bastante campo nos últimos tempos é a Bioinformática, a qual pode ser entendida como uma “zona de fronteira” entre as Ciências da Computação e a Biologia. A sua principal função (mas não a única) é o desenvolvimento de softwares capazes de, por exemplo: identificar genes, montar árvores filogenéticas, agrupar proteínas homólogas e analisar experimentos de expressão gênica.
Fundado em 1990 e com prazo de conclusão de 15 anos, o Projeto Genoma Humano (PGH) conseguiu terminar de sequenciar 99% do genoma humano até 2003. Contudo, não é somente dos pesquisadores o mérito pela conclusão antecipada desse projeto, pois se não fossem milhares de computadores (Pentium III) realizando cálculos sem parar, dia e noite, o projeto, provavelmente, ainda estaria longe de ser concluído.
O genoma é o responsável por diversas das características de uma pessoa, tais como: a cor dos olhos, o tipo de cabelo, o tom da pele, a altura que ela pode atingir, a facilidade para engordar, a quantidade de determinadas fibras musculares no corpo (facilitando ou dificultando o aumento de massa magra) e se o indivíduo poderá ou não desenvolver algum tipo de doença no futuro (câncer, pressão alta, arritmia cardíaca, Alzheimer), entre outras coisas.
Através das pesquisas iniciadas a partir da conclusão do PGH, médicos e cientistas começaram a desenvolver maneiras de descobrir o código genético de pessoas isoladas, ao contrário do que havia sido feito até então: o mapeamento dos todos os genes apresentados na espécie humana.
Apesar de cada indivíduo apresentar 99% do seu genoma igual ao de qualquer outra pessoa, o 1% restante é o responsável por alterar as características citadas anteriormente (cor dos olhos, etc.). Portanto, por mais que essa porcentagem pareça irrelevante, ela representa aproximadamente 250 dos cerca de 25.000 genes que cada indivíduo apresenta!
Ao comparar os genomas de pessoas de diferentes fenótipos e genótipos, os cientistas são capazes de descobrir a função de genes específicos (até agora se suspeita que 90% do nosso código genético não serve para absolutamente nada!). Uma vez descoberta a função de cada gene, os médicos poderão prescrever medicamentos personalizados para cada paciente (minimizando o risco de efeitos colaterais), e ainda, descobrir a probabilidade de um jovem de 16 anos desenvolver, por exemplo, algum tipo de câncer aos 60!
As tecnologias atuais capazes de mapear o genoma do ser humano (através de amostras de saliva, fios de cabelo, medula óssea e células da pele) ainda apresentam preços de milhares de dólares. Contudo, a IBM está desenvolvendo um sequencializador de código genético, com preço provável na faixa dos cem dólares. Ele seria uma espécie de “Transistor de DNA” baseado em silício (um chip), com nanofuros através dos quais a amostra de DNA passaria e seria lida.
Entretanto, tal aparato mantém-se no campo da teoria, porque a IBM ainda não conseguiu achar uma forma de fazer com que o DNA passe suficientemente devagar pelos nanofuros, o que impossibilita a leitura do código genético.
Partindo dessa leitura, outras tecnologias poderão ser desenvolvidas (ou melhoradas): transplante de órgãos, hibernação / animação suspensa (para viagens espaciais e cirurgias prolongadas), drogas para prolongar a vida e aumentar a capacidade cerebral (útil para combater o Mal de Alzheimer), assim como os “Computadores de DNA” e os “Neurocomputadores”.
Através da leitura do genoma, muitas técnicas, tecnologias e métodos foram e estão para ser desenvolvidos. Como exemplo, podemos citar a manipulação genética de plantas (as famosas “transgênicas”) e animais. No primeiro caso, as plantas são modificadas para ganhar resistência contra determinadas pragas. Já no segundo, diferentemente do primeiro, a manipulação pode feita através do simples acasalamento entre um casal com as características desejadas pelo seu dono.
Outra possibilidade advinda da leitura do genoma é a identificação de como vírus e bactérias atuam no corpo humano, provavelmente possibilitando a descoberta da cura de doenças como a AIDS. Além disso, descobrir como outros genes não humanos funcionam também pode ajudar bastante no desenvolvimento de novos tratamentos.
Uma curiosidade interessante: cientistas da Universidade do Estado da Pensilvânia conseguiram sequenciar o DNA de um mamute! E mais, eles dizem que a ressurreição do paquiderme extinto não está fora de possibilidades técnicas (alguém se lembra do filme “Jurassic Park”?).
Apesar de existirem grandes vantagens em ter o seu genoma lido, há também um ponto preocupante: a discriminação genética. O provável problema ao descobrir que uma doença surgirá em você daqui a alguns anos é o de que uma empresa de plano de saúde pode se recusar em tê-lo como paciente. Ou, pior ainda, você pode perder uma vaga de emprego porque o entrevistador olhou o seu histórico médico e decidiu não contratá-lo para não correr o risco de você querer se aposentar por invalidez quando a doença se manifestar (fazendo a empresa pagar o seu salário pelo resto de vida!).
Por mais que leis contra esse tipo de discriminação tenham sido criadas, após iniciadas as atividades do Projeto Genoma Humano, você provavelmente já deve saber que a mera existência de uma lei não indica a realidade de uma proibição. O problema em ter o seu DNA lido é ele ficar publicamente exposto no seu histórico médico, o que dá margem para as discriminações citadas e, indo um pouco além na abstração, gerar uma sociedade como a apresentada no filme Gattaca (1997), na qual as pessoas são divididas em “puras” e “defeituosas” (a elite da sociedade era a composta pelos “geneticamente puros”, os quais marginalizavam o restante).
O que você acha desta questão? Arriscaria uma chance de emprego para poder prevenir-se de um câncer? Opine!
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