Nada de cenários ou personagens virtuais, dentro da sua própria cidade os comandos são realizados de acordo com as suas ações reais. Com seus telefones celulares ou qualquer outro dispositivo portátil conectado a uma rede, os jogadores interagem com elementos fictícios, elaboram estratégias com os demais jogadores, caçam a tesouros virtuais e enfrentam inimigos imaginários em lugares de verdade. Esqueça qualquer limitação social, de espaço ou tempo, os games universais vão derrubar uma imensa barreira que separa a realidade do ambiente virtual dos jogos, mas até onde isto pode chegar?
Entretenimento eletrônico significa integração com os demais jogadores ou o isolamento diante de um console? Enquanto a visão conservadora dos videogames continua com aquela imagem do garoto trancado sozinho em seu quarto, o desenvolvimento dos games caminha para o lado da interatividade e da integração social. Uma prova concreta disto são os chamados jogos universais, conheça um pouco mais sobre eles e descubra o que o futuro dos games reserva para você.
A ficção retratada no filme Gamer está longe do objetivo dos jogos universais, mas mostra um exemplo extremo do resultado da integração do jogo eletrônico com a vida real. Muitos contestam que esta proximidade pode desencadear um cotidiano perturbado, não muito diferente das críticas lançadas aos RPGs e aos MMOs. Teorias da conspiração à parte, a verdade é que as possibilidades dos jogos universais são muito mais amplas do que qualquer jogo já criado pelo homem.
Pitadas dos games universais já invadiram os games, e podem ser vistas por todos os lados. As ruas e avenidas do mundo inteiro já estão à venda em Monopoly City Streets, no site internacional do famoso jogo de tabuleiro é possível jogar Banco Imobiliário com mapas reais. Todo atleta sabe que a influência do clima é crucial para decidir uma partida, ao invés de promover condições randômicas, o jogo de futebol americano Madden NFL 10 fez um acordo com o Weather Channel a fim de introduzir as condições climáticas em tempo real para dentro do jogo.
Não se tratam apenas de propostas divertidas, o centro médico Erasmus, localizado na cidade holandesa de Roterdã, desenvolveu um game online que simula uma pandemia que visa conscientizar a população perante a nova gripe e aumentar a eficácia dos cuidados perante a ameaça. Além de medidas médicas, os jogadores podem promover campanhas de divulgação de cuidados, distribuir máscaras entre a população, ordenar quarentena aos infectados e inclusive suspender a aula em escolas e fechar aeroportos.
IPerG é o nome de uma empresa que explora as fronteiras dos novos games universais. Seus projetos tem um quê de ousadia ao explorar cenários reais e a interação entre os jogadores. Muito além de uma simples influência climática, eles indicam de forma muito mais clara para onde os jogos universais devem caminhar. Conheça alguns dos projetos da empresa:
Epidemic Menace: dentro de campus universitários, grupos de estudantes se reúnem em busca do controle de um vírus mortal que foi roubado e espalhado pelo local. Contanto com localizadores e aparelhos para a comunicação, eles devem conter a ameaça dentro de 3 horas para evitar que o pior aconteça. A brincadeira fica ainda mais interessante com o apoio de vídeos introdutórios e a participação de atores reais.
Insectopia: os jogadores percorrem sua cidade com seu celular em mãos à procura de múltiplas espécies de insetos. Capture e adicione as espécies à sua coleção particular para somar pontos, a gratificação de cada espécie depende da sua raridade e o objetivo principal é se tornar um dos maiores colecionadores de insetos do mundo.
Cada região da cidade possui espécies diferentes de insetos e todas as áreas com acesso a rede Bluetoth deverão fazer parte do jogo. Outros games da companhia exploram a captura de pistas em pontos históricos da cidade, revelando enigmas sobre a história local.
Rider Spoke: pedalando sua própria bike, os jogadores recebem um computador portátil Nokia N800 com um localizador e começam a rodar a cidade. Todos recebem uma pergunta pessoal e começam a procurar um esconderijo particular onde a localização e a resposta são gravadas pelo sistema.
Através da integração de dados, o objetivo é encontrar o esconderijo dos demais jogadores e obter a resposta secreta de cada um antes que eles façam o mesmo. Uma espécie de “Capture the Flag” bicicletas no lugar de armas, uma maneira saudável de se divertir.
Sentiu falta dos gráficos de última geração? Embora os gamers estejam muito mais acostumados a ambientar-se em um game através da interface visual, a aparência de um game está longe de determinar seu nível de diversão. Sem contar com qualquer tela ou joystick, o Role-playng Game (RPG) virou uma verdadeira febre entre os jovens em busca de uma forma de entretenimento mais abrangente e interativa.
Muito antes dos MMORPGs (que quase nada têm em comum com os RPGs tradicionais), jogadores utilizavam sua criatividade para interpretar um personagem através de seu próprio corpo. Contando apenas com um sistema de regras e alguns elementos de apoio, uma partida de RPG incentiva o trabalho em equipe promovendo um objetivo comum. A exemplo deste game, a criatividade dos jogadores não tem limites, mas os gráficos de qualquer videogame sempre terá.
É claro que desenvolvimentos como Insectopia, Rider Spoke e Epidemic Menace vão muito além da proposta dos games atuais, mas eles se utilizam apenas de elementos simples para a interação com os elementos virtuais. Imagine o que os jogos universais são capazes de incorporar outros recursos da realidade aumentada, acelerômetros e novas interfaces gráficas.
O controle do Nintendo Wii capta a movimentação e o direcionamento do aparelho no espaço e os reverte em comandos de grande interatividade. Como no game de captura de insetos, depois de encontrá-los, você passaria por um desafio incomum para capturar o danadinho com sua rede de insetos. Ao encontrar o esconderijo do seu oponente no jogo das bicicletas, que tal se o jogador tivesse que derrotar um guardião com sua espada, também simulada por um joystick similar?
Imagine agora alguns dispositivos similares ao Project Natal do Xbox 360 espalhados por pontos estratégicos da cidade. Assim como no filme Gamer, cada gesto realizado pelo jogador significaria um comando e uma ação diferente. Ao invés de enviar e receber mensagens SMS, você poderia interagir com os elementos virtuais exatamente como na vida real.
Mergulhando ainda mais fundo nas possibilidades, que tal se a Nintendo, gigante do ramo que não cansa de inovar em suas plataformas, resolvesse investir em um projeto como estes relacionado ao game Pokémon. Algo parecido com um DS conectado a uma rede sem fio seria o suficiente para proporcionar uma experiência revolucionária com o game.
Pokémons aquáticos poderiam ser capturados próximos do lago da cidade, os da floresta ao em um parque e, por que não, um Pikachu ao lado da estação de energia local. Além de colecionar as espécies, os personagens deveriam treiná-los e mesmo desafiar outros mestres, assim como na série. Não existiriam hora nem lugar para jogar, se o passeio no shopping está muito chato, aproveite para desafiar alguém na praça de alimentação.
O sucesso de Pokémon se deve a sua fórmula que junta elementos de RPG com um bocado de liberdade. Mesmo na tela de um Game Boy (antigo console portátil da Nintendo cuja tela nem possuía cores) o game já fazia um tremendo sucesso, imagine o que um Pokémon universal seria capaz. Isso porque a interatividade com outros jogadores só existia dentro da tela de consoles que estivessem conectados por um cabo, desafiar outro treinador exigia muita burocracia.
Experiências em menor escala já foram aplicadas pelo mundo afora com resultados bastante satisfatórios, com exceção de um projeto que rolava pelos EUA abortado após os episódios de 11 de setembro. A interação entre os jogadores é uma evolução natural do entretenimento eletrônico e, ao contrário do que alguns pensam, jogadores de RPG não desenvolvem doenças mentais.
Os videogames sempre carregaram um pesado fardo atrelado ao sedentarismo de seus praticantes. No entanto, médicos e cientistas confirmam os efeitos benéficos resultante de jogos como o Wii Fit e outros games de interação, alguns auxiliam até na recuperação de pacientes.
Além de um ótimo incentivo para a prática de esportes, os jogos universais colaboram muito para a socialização dos jogadores. De acordo com o contexto do jogo, as pessoas podem aprender mais sobre a história da sua cidade, ou promover temas culturais e didáticos de uma maneira envolvente. Se as interações através de uma tela são frias, deixe apenas os elementos virtuais dentro dela, pois a realidade está do seu lado.
E ai, essa onda vai pegar ou se trata de mais uma estratégia de marketing sem muito futuro? Quais games você gostaria de ver em versão universal?
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