O fenômeno das LAN Houses sacudiu o Brasil inteiro: ambientes amistosos, com máquinas modernas, internet de alta velocidade e a possibilidade de jogar em rede com os amigos. Aos finais de semana era comum ter que pegar uma senha e esperar até uma hora para jogar, dada a lotação.
Isso impulsionou a propagação dos esportes eletrônicos (popularmente chamados de e-Sports), nome com que são conhecidos os jogos para os quais existem competições oficiais. Counter Strike, Warcraft e The Need for Speed são apenas alguns dos vários games que têm campeonatos importantes e com premiações parrudas (em dinheiro).
Os PCs tornaram-se mais modernos e baratos, a internet de banda larga se popularizou e ficou mais cômodo jogar em casa. Após o fim desse "boom" (o das LAN Houses), como ficou o cenário de competições eletrônicas? Os e-Sports sobreviveram? Para dirimir eventuais dúvidas, entramos em contato com os e-Players Leandro "Marvin Totosaum" Bosco e Falissah "Cissa" Finger, que gentilmente nos cederam uma entrevista.
À esquerda, Leandro; à direita, Cissa e as meninas do fleuR. Cyber atletas!
BAIXAKI: Após o fim do "boom" das LAN Houses, os esportes eletrônicos parecem ter perdido sua força. É verdade?
Leandro: Não creio que isso tenha acontecido. Hoje em dia está mais acessível comprar computadores e a conexão de banda larga melhorou bastante, assim muitos começaram a jogar pela internet e deixaram de frequentar as LAN Houses.
Falissah: Acho que foi justamente o contrário. Naquela época, a banda larga era muito cara e os jogos eletrônicos eram novidade – daí a necessidade de jogar nas LAN Houses. Aconteceu exatamente o que o Leandro falou: há menos gente jogando por LAN e mais gente jogando pela internet.
BAIXAKI: O público feminino costuma/costumava frequentar LAN Houses? É comum encontrar meninas nesses ambientes?
Leandro: Mulheres sempre frequentaram as LAN Houses, mas é claro que são minoria em relação aos homens. Entretanto, o número de mulheres gamers vem aumentando: um pouco pela criação de games voltados para esse público, mas também por haver campeonatos femininos que dão uma premiação muito boa.
Falissah: Sempre frequentaram, mas dificilmente jogavam. Na época em que comecei a competir, as meninas iam às LAN Houses com o intuito de utilizar chats, ICQ, mIRC, fotolog e outros aplicativos do gênero.
BAIXAKI: Quais são os jogos que se mantiveram vivos e ainda têm força perante a comunidade de "atletas cibernéticos"?
Leandro: Os mais jogados em campeonatos ainda são Counter Strike, The Need For Speed, Warcraft, Carom 3D, FIFA, Halo e Guitar Hero, mas há vários outros – já que as maiores patrocinadoras dos e-Sports são as próprias empresas criadoras dos games, que usam os campeonatos para promoverem seus jogos.
BAIXAKI: Como anda o cenário nacional e internacional de competições de esportes eletrônicos?
Leandro: O cenário nacional anda bem agitado, com cerca de quatro campeonatos nacionais por ano (além dos campeonatos locais) – sem falar na crescente competitividade, pois os gamers estão levando mais seriamente a "profissão" de jogador. Existem também diversos campeonatos mundiais, propiciando aos e-Players a oportunidade de viajar para lugares como China, Estados Unidos, Suécia e Dubai.
Falissah: O cenário nacional continua forte, mesmo com o veto ao Counter Strike. No Brasil as coisas andam mais devagar devido à falta de apoio dos governantes, mas tem crescido muito (mesmo com todas as barreiras). Lá fora os esportes eletrônicos são algo muito sério e que envolve centenas de grandes empresas.
BAIXAKI: E competições para meninas, existem?
Falissah: Existem, apesar de escassas. No ano passado foram duas, mas neste ano ainda não há agendamento para competições femininas nacionais. A nível internacional, será realizada a DIDE 2009 no dia 17 de maio, em Buenos Aires – evento que reunirá as equipes do Mercosul. A equipe fleuR (da qual faço parte) tem feito o possível para representar o Brasil nessa competição, mas os e-Sports ainda sofrem muito com a falta de apoio (especialmente para as equipes femininas). Estamos à procura de patrocinadores e de empresas dispostas a nos auxiliar nesse projeto.
Leandro: Os campeonatos femininos já existem há alguns anos, mas agora estão recebendo maiores patrocinadores. Isso possibilita a elas participar dos campeonatos internacionais e receber salários, como acontece com os rapazes. Foi até criado um reality show com o "Le Seules" (considerado o melhor clã feminino de Counter Strike do mundo), para mostrar o cotidiano das jogadoras.
BAIXAKI: É verdade que há clãs que se elevaram ao nível profissional e se sustentam com os lucros obtidos das competições que disputam? Quanto, em média, um jogador profissional recebe por mês?
Leandro: Sim, hoje existem grandes organizações que pagam salários a seus jogadores – além de financiar viagens, equipamentos, uniformes etc. Porém, para conseguir tais benefícios são necessárias muita dedicação, habilidade e responsabilidade (como em qualquer outra profissão), pois os jogadores também têm que cumprir obrigações para com as empresas patrocinadoras (sob o risco de serem demitidos). Alguns jogadores brasileiros recebem até R$ 1000 por mês, fora os benefícios já citados (os jogadores "gringos" recebem muito mais que isso, em média).
BAIXAKI: E qual é a visão da sociedade perante os esportes eletrônicos? Os jogadores que vivem disso são bem aceitos, ou ainda há certo preconceito?
Leandro: Preconceito infelizmente ainda existe, porém vem diminuindo conforme a sociedade aceita os jogos eletrônicos. Para se tornar um jogador profissional é muito importante que a família do jogador aceite isso, pois ele terá que passar horas treinando em frente ao computador.
BAIXAKI: Quais são as tendências para os esportes eletrônicos? Vale a pena direcionar o futuro profissional para esse lado?
Leandro: Minha previsão para os e-Sports é a mais otimista de todas. A indústria gamer vem crescendo exponencialmente, com lançamentos diários para todos os tipos de público. Não é incomum encontrarmos pessoas mais velhas comprando jogos, atitude que há pouco tempo atrás era associada a crianças e adolescentes. Até mesmo a ciência já se pronunciou diversas vezes sobre os benefícios para o desenvolvimento motor e intelectual de uma criança que joga com frequência.
BAIXAKI: Para encerrar, alguns comentários sobre como os esportes eletrônicos influenciaram sua vida.
Falissah: A questão é: de que modo explicar a forma como um jogo pode influenciar algo? Um time resume-se em união, comunicação, habilidade, objetivo, capacidade, treinamento e, acima de tudo, confiança. É como em qualquer outro esporte, cria em você o intuito de ser um vencedor.