Angry Birds, Candy Crush Saga, Clash of Clans e Flappy Bird: games com conceitos bastante diferentes que têm como elemento comum o grande sucesso obtido em plataformas mobile. Pertencentes a gêneros diversos, todos eles utilizam conceitos que, se aplicados de maneira correta, podem contribuir para que um jogo se transforme em uma verdadeira “febre”.
Embora não exista necessariamente uma “fórmula mágica” para um título se tornar um sucesso, há diversos fatores que podem contribuir para isso. São justamente esses quesitos que se tornam assunto de estudo de muitos estúdios e publicadoras — afinal, não é possível contar somente com a sorte na hora de lançar no mercado um produto que exigiu milhares (ou até mesmo milhões) de dólares para ser produzido.
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Neste artigo, apresentamos algumas das diretrizes seguidas por programadores e designers ao criar os títulos que vão dominar centenas de horas da sua atenção. Vale notar que nem todas elas são seguidas por todos os estúdios, mas aquelas selecionadas já se tornaram comuns entre os principais nomes do mercado.
1) Entenda seu mercado
Em um mercado cada vez mais globalizado, pode fazer mais sentido criar um produto para um público que nem sempre corresponde ao país em que você está. Cientes das dificuldades do mercado norte-americano, muitas empresas têm voltado suas atenções para Europa e Amérca Latina, onde o nível da competição é diferenciado.
“A Rússia é um mercado que joga mais no iPad do que a Alemanha, por exemplo. A Colômbia gasta mais no iOS do que a Finlândia”, explicou ao site Fierce Developer o CEO da empresa de pesquisas Newzoo, Peter Warman. “Entenda o tamanho do seu mercado. Você pode tomar uma decisão ousada e não lançar em inglês ou alemão, por exemplo”.
Já Bruce Shelley, que trabalhou em Age of Empire e Age of Empires II: The Age of Kings, defende que é bom apostar em gêneros que cativam um público amplo. “Jogos bem-sucedidos comercialmente atingem uma parcela significativa do mercado porque eles escolhem tópico, gênero e estilo que se conecta com uma base ampla”, explica.
Por outro lado, Glenn Kiladis, gerente-geral da FreeMyApps, afirma que também é preciso prestar atenção a públicos mais focados. “Se você está desenvolvendo um jogo de batalhas de carro, tente mirar o título número 1 daquela categoria, o que pode ser mais fácil de obter do que ter a grande visão de competir com o número 1 dos jogos em geral. Esses usuários provavelmente vão ser os responsáveis por monetizar seu game”.
2) Aposte em um diferencial
Existe um bom motivo pelo qual nos lembramos de Angry Birds, mas é difícil mencionar o nome de algum de seus clones. Embora seja comum que novos títulos sejam inspirados por mecânicas já existentes, aqueles que simplesmente se limitam a reproduzir uma experiência já conhecida dificilmente vão conseguir ter um bom sucesso comercial.
Embora haja casos como o de 2048, clone de Threes que fez mais sucesso do que o título original, eles se tratam de uma exceção.Por mais que a rapidez do mercado mobile beneficie a disseminação de cópias, a tendência é que o produto original sempre chame mais atenção — especialmente porque ele tende a ter um melhor polimento.
“Para ser bem-sucedido, um game tem que se equiparar com a concorrência ou superá-la em áreas nas quais ela se destaca. Ele também precisa ser melhor nos campos em que seus competidores são fracos. Identifique recursos importantes e componentes que a concorrência está oferecendo de forma ruim ou não está executando. Essas sãos as suas oportunidades”, afirma Shelley.
3) Crie um começo envolvente
Os primeiros 15 minutos de um game vão determinar se a audiência vai gastar meses com ele ou vai abandoná-lo sem nunca olhar para trás. Para atingir isso, desenvolvedores têm que levar em conta critérios como a situação inicial, a acessibilidade do jogo (que inclui a interface e a apresentação de objetivos) e a quantidade de decisões apresentada aos consumidores.
“Faça o consumidor entrar no jogo rapidamente e com facilidade para que eles se divirtam e sejam emergidos sem nenhuma frustração. Quando isso é feito de forma adequada, os jogadores podem dedicar um tempo significativo à experiência sem perceberem isso”, aconselha Shelley.
Em caso de jogos que exigem a introdução de controles especiais, a apresentação de histórias e personagens pode envolver o jogador criando tutoriais inteligentes ou métodos de interação que envolvam os jogadores. Os títulos que tiram o controle de sua mão ou apresentam interfaces confusas dificilmente conseguem ser bem-sucedidos em um mercado repleto de opções de qualidade.
4) Desenvolva uma interface acessível
Em games mobile, o desenvolvimento de uma interface acessível é um dos critérios mais importantes que devem ser respeitados pelos desenvolvedores. Apostar em ícones muito pequenos ou em diversas camadas de menus que separam o jogador da experiência oferecida a ele podem decretar a morte de um game — especialmente quando levamos em consideração que o principal meio de interação em smartphones e tablets é o toque.
Caso uma experiência exija o uso de diversas etapas de controle, é importante apostar em um tutorial abrangente o suficiente para que os consumidores saibam o que é preciso fazer. “Uma interface confusa, difícil e frustrante pode arruinar um jogo. Jogadores que encontram esses problemas em sua primeira sessão podem perder o interesse e desistir”, alerta Shelley.
5) Aposta na viralidade
Uma das formas mais fáceis de um jogo conseguir popularidade é fazer com que ele se torne viral — algo que parece simples, mas exige um processo de execução cuidadoso. Candy Crush, da King, é um bom exemplo de como a integração com o Facebook pode contribuir para que um título seja descoberto facilmente e se espalhe entre os consumidores.
“Quando os jogadores progridem em Candy Crush, o jogo vai publicar atualizações automáticas em seus perfis. Esse ato simplesmente faz duas coisas: permite que a rede de contatos do jogador descubra o jogo e, mais importante, serve como uma propaganda sutil da qualidade do jogo”, explica a empresa de análises Upsight.
Além disso, ao mostrar o quanto uma pessoa avançou, a empresa consegue despertar a competitividade entre seus contatos. Como resultado, pessoas tendem a gastar mais tempo com o jogo — o que se reflete em um maior compartilhamento de atualizações e aumenta a possibilidade de alguém gastar dinheiro com o game.
6) Determine objetivos claros
Outro ponto no qual Candy Crush se destaca é em sua estrutura voltada a apontar objetivos de maneira clara e acessível. “O game é fácil de aprender e jogador, usando a fórmula antiga de combinar três peças com mudanças suficientes (como quadros organizados de forma única, objetivos de fase etc.) para torná-lo interessante. Isso é especialmente importante quando consideramos que o jogo permite ver o progresso de seus amigos”, afirma a Upsight.
É comum — e esperado — que muitas pessoas desistam de alcançar os objetivos mais difíceis depois de certo tempo – uma boa quantidade de jogadores se sente motivada a alcançar as posições mais alta. É justamente essa a fatia do público que vai dedicar mais tempo a um game e se mostrar mais disposta a investir dinheiro real nele.
7) Torne a monetização orgânica
Há diversas maneiras de monetizar um game, mas o mercado mobile costuma apostar em algumas fórmulas bem identificáveis. Há empresas que apostam na exibição de mensagens publicitárias que desaparecem após o jogador pagar um valor determinado, mas é mais comum encontrar casos em que é preciso pagar quantias variadas para obter itens específicos — algo usado tanto em Candy Crush quanto em Heartstone, por exemplo. Por fim, também há o caso de títulos vendidos no antigo modelo em que todo o conteúdo é liberado mediante um único pagamento prévio.
Mesmo em casos de sucesso, é preciso levar em consideração o fato de que a maioria dos jogadores simplesmente não está disposta a abrir a carteira. Segundo a King, entre as pessoas que terminaram Candy Crush, somente 30% chegaram a investir qualquer quantidade de dinheiro real na experiência.
O que ajuda a tornar o game lucrativo é o fato de ele conseguir combinar viralidade com uma jogabilidade voltada a objetivos que se mostra bastante envolvente. Isso ajudou a empresa a criar uma base de usuários tão grande que, mesmo que somente uma parcela dela gaste algum dinheiro, isso já é suficiente para tornar o produto bastante lucrativo.
“Eles criaram uma situação ganhar-ganhar. Ou os jogadores aumentam os lucros da King gastando 99 centavos para repor seus créditos ou eles aumentam o engajamento dos consumidores e a retenção pedindo vidas para seu amigos do Facebook enquanto esperam que elas se recarreguem”, explica a Upsight.
Não tenha medo de arriscar
Os sete itens apresentados neste artigo são somente algumas das diretrizes mais seguidas por quem deseja criar um jogo mobile de sucesso. Como é impossível discorrer inteiramente sobre o processo de criação de um game em um único artigo, deixamos de fora quesitos importantes, como a fidelidade gráfica, o nível de polimento e a história de um título.
Conforme explicamos na introdução, não existe uma “fórmula mágica” para o sucesso, embora aprender com bons exemplos e utilizar práticas consideradas vencedoras ajude muito nesse sentido. No entanto, o mais importante é saber acreditar em suas ideias: muitas vezes, projetos que seriam considerados “errados” por parte da indústria se provaram sucessos inesperados e abriram brechas para que novas ideias e sistemas de jogo ganhassem espaço.
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