Para a tristeza dos entusiastas que adoram evangelizar novas soluções de mobilidade urbana, os veículos elétricos ainda não vingaram no Brasil. Além de serem relativamente caros (o que por si só já é motivo suficiente para afastar consumidores interessados no conceito), nosso país não possui uma estrutura tão bacana para tais automóveis quanto as que vemos lá fora.
Não dispomos, por exemplo, de estações de recarga espalhadas pelas grandes cidades, e que em países gringos já são tão numerosas quanto postos de gasolina. Faltam também incentivos governamentais para a propagação dessa tecnologia automobilística. Mas todos esses problemas não espantaram a Cooltra, empresa europeia que aterrissou aqui em 2014, mas só neste ano começou a fazer barulho no mercado.
Originária da Espanha, a companhia trabalha com locação de scooters elétricas há mais de nove anos e está sendo a responsável por inaugurar esse segmento no Brasil. Atualmente, já existem vários pontos de aluguel espalhados em São Paulo e a ideia é expandir a atuação para mais estados ao longo dos próximos anos. Convidado pela marca, o TecMundo foi conhecer de perto essa novidade e dar uma voltinha pela cidade utilizando esse novo modal de transporte.
Inaugurando um segmento no país
De acordo com Rui Almeida, que lidera as operações da companhia no Brasil, a Cooltra já possui uma frota de pelo menos 4,5 mil veículos ao redor do mundo. “Na Europa trabalhamos com os dois modais, temos tanto motos a combustão quanto elétricas. No Brasil, em virtude de já termos um fornecedor que monta esses automóveis, optamos por começar já de cara com as scooters elétricas, que têm uma pegada mais sustentável”, explica.
Uma recarga completa custa apenas R$ 1,33 na sua conta de energia.
As motocicletas utilizadas pela Cooltra são do modelo E-Max, que são importadas e comercializadas por aqui através da Riba Motos. No varejo, o valor de uma dessas chega a R$ 15 mil; para alugar, o cidadão paga uma diária que custa em média R$ 85, com direito a capacete, seguro contra danos de terceiros e apoio técnico da companhia (guincho e manutenções). O plano de locação mensal gira em torno de R$ 650.
Uma característica interessante das scooters é o seu regulador que limita a velocidade máxima e aumenta a autonomia energética – é possível percorrer até 110 km sem precisar colocar o veículo na tomada. Uma recarga completa consome apenas R$ 1,33 na conta de energia, e uma hora é o suficiente para que as baterias estejam 70% cheias. Em três horas a recarga está completa. Essas últimas horas são usadas para fazer a calibração dos módulos de lítio.
Uma mudança cultural
Atualmente existem quatro pontos de locação nos quais é possível alugar e devolver uma scooter da Cooltra, sendo um escritório oficial da companhia (que se localiza perto da estação de metrô Santos-Imigrantes) e três locais mantidos por parceiros. “Tentamos nos estabelecer no Rio de Janeiro, mas optamos por nos concentrar em São Paulo e usar a cidade como um laboratório e só então partir para uma expansão mais organizada”, esclarece Rui.
O executivo afirma que a frota brasileira da empresa conta com 50 motocicletas, sendo que pelo menos um terço desse montante está sempre sendo alugado todo mês. “Nosso forte, no momento, é o mercado B2B, mas a ideia é trazer mais pessoas físicas para o serviço”, comenta. Vale observar que a Cooltra também oferece um modelo de scooter cargueira, muito utilizada por empresas de entregas expressas que se preocupam com o meio ambiente.
“O uso de automóveis elétricos ainda é uma coisa nova. Há uma mudança cultural, as pessoas sofrem com aquilo que chamamos de ansiedade de autonomia”, explica. De acordo com o executivo, o consumidor precisa ser educado para planejar as suas viagens, saber se há uma tomada em seu destino e otimizar suas rotas para economizar o máximo de eletricidade. “Não é uma scooter para pegar estrada, é uma ferramenta de transporte urbano”.
Outros modelos de scooters elétricas que ainda estão sendo testados pela Riba
Testando o veículo
É claro que o TecMundo não deixaria de dar uma voltinha em uma scooter da Cooltra, e ela possui várias particularidades que é preciso comentar. Primeiramente, o modelo é incrivelmente pesado: são 150 kg, contra 114 kg da Honda CG 150 e 85 kg da Dafra Super 100, só para citar duas motocicletas que fazem sucesso no mercado brasileiro. É possível sentir esse peso exagerado logo na primeira vez que você faz um test drive do veículo.
A scooter agrada por ser absurdamente silenciosa.
Por outro lado, a E-Max agrada por ser absurdamente silenciosa – diríamos até mesmo que é necessária uma certa adaptação, já que motociclistas geralmente estão acostumados a usar o ronco do motor como um feedback para medir a aceleração. Isso não existe em um automóvel elétrico. Ele não faz som algum e o uso da buzina se torna mais necessário do que nunca para alertar os pedestres sempre que você for entrar em uma curva com campo de visão limitado.
Além de não sofrer com ruídos, a moto da Cooltra vibra bem menos do que uma scooter a combustão, e isso se traduz em um conforto maior na viagem. O desempenho é satisfatório: com uma potência de 4000W e voltagem de 48 volts, o motor (localizado na roda traseira) consegue prover uma boa aceleração e manter uma velocidade máxima de 75 km/h, que é mais do que o suficiente para deslocamento nas metrópoles, que costumam sofrer com trânsitos e limites nas vias principais.
Os pneus são de 13 polegadas e ambos os freios são a disco. O nível da bateria, tal como uma estimativa de quilometragem restante, pode ser conferido através de um display digital próximo do velocímetro analógico. Um botão no punho direito permite que o piloto alterne entre três modos de uso de energia: econômico, normal e MAX. Naturalmente, esse último faz com que a autonomia da scooter seja reduzida drasticamente em prol da velocidade.
A ascensão dos elétricos
A Cooltra ainda não usufrui de muita popularidade no território brasileiro, mas é provável que a companhia passe a angariar um número alto de usuários ao longo dos próximos anos. Embora a empresa também trabalhe com locação de bicicletas elétricas (oferecendo magrelas fabricadas pela Sense, a mesma fornecedora da startup E-Moving), não há concorrência alguma no segmento das scooters.
Além de alugar, a Cooltra está organizando passeios turísticos por cartões postais da cidade de São Paulo usando os seus automóveis – uma forma bacana de conhecer a capital e essas scooters inusitadas ao mesmo tempo. Os tours são feitos de forma agendada, em grupos, e custam valores previamente definidos (mas flexíveis, podendo ser adaptados para amigos e equipes fechadas, por exemplo).
A marca aterrissa no Brasil em um bom momento, já que há cada vez mais discussões sobre formas sustentáveis de mobilidade urbana. O sistema de locação pode ser útil não somente para quem precisa de uma motocicleta temporária para se mover pela cidade, mas também para aqueles cidadãos que desejam testar o novo modal antes de investir em um veículo próprio.
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